A cartilha do Fluminense contra o rebaixamento


Por Felipe Portes

 

Time grande, quando se encontra em situação periclitante, no fundo da tabela, é um verdadeiro drama. A pressão para sair da zona de perigo é muito maior daquela enfrentada por equipes médias ou pequenas. E quando um gigante está na zona de rebaixamento, na segunda metade do turno final, a coisa aperta. Sem conseguir respirar, muitos acabam fadados a jogar a temida Série B.

Dos grandes, que integravam o antigo “Clube dos 13”, apenas Cruzeiro, São Paulo, Santos e Flamengo não foram, ainda, rebaixados. E na Série A, fora os grandes, apenas a Chapecoense nunca experimentou um descenso. Mas isso porque começou a disputar a primeira divisão apenas em 2014.

Alguns conseguem a façanha de escapar, quase sempre, de forma dramática. O que acaba lhes impingindo a marca de “guerreiros”. Foi esse o caso do Fluminense em 2009. Em uma edição repleta de favoritos e surpresas no desfecho, aquele Brasileirão daquele ano consagrou o penetra Flamengo como campeão. E o Flu, como a equipe heróica, antes apontada como virtualmente rebaixada, mas que conseguiu escapar.

Neste ano, as peculiaridades são diferentes. Mas se há algo similar a 2009, e aos tricolores cariocas, é o início ruim do São Paulo, que foi parar na 17ª posição depois da derrota para o Flamengo.

A equipe do Morumbi é forte candidata ao rebaixamento se não começar a somar pontos antes do fim da metade da competição. O Atlético Mineiro, que também teve início oscilante e chegou a ocupar posições desconfortáveis, conseguiu pique para subir à oitava colocação. O Galo, curiosamente, era o líder daquele Brasileiro de 2009 até o encerramento do primeiro turno.

O que intriga naquele Fluminense de oito anos atrás é como se deu a escalada, em um contexto amplamente desfavorável, contra todos os prognósticos. Ocupando a lanterna até a 32ª rodada, o Tricolor das Laranjeiras, treinado por Cuca, escapou definitivamente da zona de rebaixamento restando um jogo para o encerramento do Brasileiro. Para que isso fosse possível, os cariocas venceram seis partidas em sequência, contra Atlético Mineiro, Cruzeiro, Palmeiras, Atlético Paranaense, Sport e Vitória, sendo três delas fora de casa.

E não foram vitórias nada simples. O Fluminense também precisou ter alma para levar jogo a jogo. Talvez, dessa reta final, a virada contra o Cruzeiro seja o ponto de maior importância na autoestima e na motivação dos jogadores. No Mineirão, em 1º de novembro, pela 33ª rodada, a Raposa saiu na frente com gols de Jonathan e Wellington Paulista. E a reação só veio na segunda etapa, como um relâmpago, em 16 minutos. Gum diminuiu e Fred marcou duas vezes para garantir os pontos cruciais do Flu.

A salvação veio no último duelo, contra o Coritiba, no Couto Pereira. O empate serviu para o Flu permanecer na Série A, diferentemente do Coxa, que acabou rebaixado com o resultado. Foram 26 rodadas no Z4, um desempenho que poderia ter derrubado o ânimo de Cuca e seus comandados. Mas, não. Graças a arrancada final, o Fluminense não só pôde disputar a elite em 2010, como se sagrou campeão naquele ano, quebrando um jejum que durava desde 1984. Conca e Fred, presentes no drama de 2009, permaneceram e lideraram o time até a glória.

O exemplo de 2009 serve para qualquer clube na mesma situação. Para que enxerguem saída e não se rendam em momentos complicados. Outra referência, ainda que menos lembrada pelos atos heroicos, aconteceu em 2014: o Palmeiras passou por algo parecido, mas não experimentou seu terceiro rebaixamento por sorte. A campanha ruim se agravou com uma goleada sofrida para o Goiás, por 6 a 0.

Mesmo sem vencer o Atlético Paranaense, em seu estádio, o Palmeiras somou um ponto fundamental para permanecer na elite, enquanto o Vitória era derrotado pelo Santos no Barradão, selando seu destino de rebaixamento. Completamente reformulado, e com a força do programa de sócio-torcedor (impulsionado pela inauguração do Allianz Parque), o Verdão levantou o título da Copa do Brasil ao fim de 2015.

Lutar contra o descenso pode ser o empurrão que um time precisa para entrar nos eixos, desde que na hora certa. Coisas que só um balde de água fria pode trazer para o elenco e a comissão técnica.

Esportes

Felipe Portes
 

Jornalista, fundador e editor do site Todo Futebol, com passagens por Trivela e Yahoo Esportes