Descentraliza BH

Com um potencial gigantesco e uma população sedenta, eventos no Barreiro valorizam produção da região


Por Petra Fantini

Publicado em 09/04/2018

Foto: Int. Macunaíma de Cultura

Maior regional de Belo Horizonte, e núcleo populacional mais antigo do que a própria cidade na qual está integrado, o Barreiro, com seus 300 mil habitantes, começa enfim a se integrar ao circuito cultural da Capital. Nos próximos meses, a regional abrigará eventos inéditos, fruto da organização e iniciativa de produtores, artistas e articuladores locais. Os mais destacados são o I Fórum de Arte e Cultura do Barreiro (facebook.com/ForumArteeCulturadoBarreiro), que começou no último sábado (07/04) e vai até 10 de junho, e a MADA (www.mada.art.br/), primeira mostra audiovisual de arte da região, que acontece de 5 de maio a 5 de junho.

O Fórum surgiu de reuniões de artistas locais, promovidas pela Paróquia Cristo Redentor desde outubro do ano passado, nas quais eles apresentaram suas produções e começaram a discutir formas de organização. Muitos encontros depois, a estrutura de um espaço para promover as produções artísticas e culturais da região foi tomando forma.

O I Fórum é dividido em pequenos eventos preliminares, distribuídos por cinco regiões do Barreiro, e um último seminário que estabelecerá as diretrizes futuras de ação dos grupos artísticos. O produtor geral do I Fórum é Rodrigo Zacarias, presidente do Instituto Macunaíma, organização sem fins lucrativos que une artistas, músicos, educadores e mobilizadores culturais da região.

Bruna Carvalho (Crédito Giulia Araugio), Bruna Finelli (auto retrato), Luciana Tanure (Crédito Joana Moreira) e Marcelo Kraiser (Crédito Clara Kraiser)

O nome Macunaíma não foi escolhido ao acaso. “O Barreiro é uma região que recebeu muitos imigrantes. Então tem essa riqueza cultural de várias pessoas, de vários países, a própria cultura do congado… Assim como o personagem de Mário de Andrade, que carregava um pouco de cada cultura do país, do brasileiro”, explica Rodrigo. O Instituto é um dos principais braços de articulação cultural do Barreiro, mobilizando eventos junto a outros grupos desde março de 2017.

Além de Rodrigo, a comissão do evento é composta por Leandro Gabriel, artista plástico que expõe suas obras no Viaduto das Artes; Sandra Lane, presidente da ONG Úbere; Roberto Silva, do teatro de bonecos Cia Origens Teatro de Animação, e Rodolfo Cascão, do Parangolé Arte Mobilização. A expectativa é que, após o Fórum, o comitê se dissolva e outro seja formado. “A gente vai construí-lo (o Fórum) democraticamente, com os artistas e fazedores de cultura do Barreiro”, conta Rodrigo.

A ideia é tornar o Fórum de Arte e Cultura uma instituição permanente de promoção de ações de visibilidade cultural, com encontros periódicos e mapeamento cultural do Barreiro. E, ainda, criar uma plataforma online de consulta de grupos, produtores, artistas e agentes culturais, divididos por ára de atuação.

A demanda local pode ser vista em outros momentos, como no Carnaval 2018. Rodrigo conta que o Instituto esteve em articulação com o Bloco Esperando o Metrô, que critica a inexistência metrô no Barreiro e agrega à luta pelo transporte público de qualidade e o Bloco Pena de Pavão de Krishna, que foi orientado pela organização a dar visibilidade e colher assinaturas pela construção de um parque ecológico na região Bacia do Ribeirão Arrudas, cuja área verde passa por intenso processo de especulação imobiliária. Por fim, a construção coletiva local ainda saiu com o Bloco Na Tora, que não avisou seu trajeto para o poder público justamente contando com o elemento da espontaneidade da festa de rua.

A MADA vem da mesma força propulsora de descentralização do circuito artístico de Belo Horizonte. As idealizadoras Bruna Finelli, que também é diretora do evento, e Bruna Carvalho, produtora gráfica, sentiam falta de exibições de produções audiovisuais na regional e elaboraram uma proposta para o edital da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Elas foram aprovadas na categoria de incentivo fiscal e, segundo Bruna Finelli, a localização da mostra no Barreiro foi um dos fatores que garantiram a captação.

O time por trás da mostra inclui ainda a produtora Luciana Tanure, o coordenador e assistente de produção Alexandre Milagres e Marcelo Kraiser, um dos curadores da MADA ao lado de Finelli e Luciana. “As pessoas do Barreiro tem interesse por esses assuntos, é uma regional muito populosa, polo industrial e econômico muito forte. A cultura precisa chegar a esses lugares”, diz Finelli. A MADA recebeu inscrições de todo o Brasil, além de algumas internacionais, mas a prioridade são as produções da capital.

Serão exibidos 12 obras, e devido ao caráter efêmero das visitas do Viaduto das Artes, que receberá a mostra, os curadores evitarão selecionar longa-metragens – geralmente, os visitantes apenas passam pelo local, sem ficar por muito tempo. Bruna se diz surpresa com nível das inscrições, “eu não esperava tanta coisa boa”, diz.

Professora universitária de fotografia, Bruna conta que o cenário audiovisual melhorou bastante desde 2010, quando se formou em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Ela analisa que a popularização da Mostra de Cinema de Tiradentes e de cursos de cinema da Una, PUC Minas e da Escola Livre de Cinema ajudaram no crescimento de produções audiovisuais em Belo Horizonte.

Segundo ela, os vídeos de performances artísticas tem sido a maior novidade no cenário cinematográfico municipal. “Sempre tivemos registros de performances, mas a valorização disso como parte posterior àquela performance é o que eu mais tenho visto, o que acho mais interessante”, conta.

Foto: Int. Macunaíma de Cultura

Não há um único tema que norteie as obras expostas, porque a ideia é abranger o máximo de produções possíveis. Entretanto, devido aos casos recentes de manifestações contra galerias e exposições de arte (https://goo.gl/8d5HaQ), os curadores têm selecionado as obras com cuidado. Muitas escolas de ensino básico visitam o Viaduto das Artes, e a ideia é que pessoas de todas as idades possam apreciar a mostra.

Ao contrário do pensamento comum, afirma Bruna, para fazer uma boa produção audiovisual não é necessário um grande investimento financeiro. Uma das oficinas que serão realizadas junto à MADA tem como tema justamente “Produzindo um conteúdo audiovisual de arte com baixos recursos” e será ministrada pelo professor do Centro Universitário UNA e cineasta de animação Sávio Leite. A mostra ainda contará com a oficina “A produção audiovisual para agentes culturais”, conduzida por Evandro Veras, também da UNA.

SERVIÇO

MADA – 1ª Mostra Audiovisual de Arte do Barreiro

Data: 6 de maio a 5 de junho

Local: Viaduto das Artes e campus Una Barreiro (dias e horários a serem definidos)

I Fórum de Arte e Cultura do Barreiro

Data: 7 de abril a 10 de junho

Local: Viaduto das Artes e Centros Culturais do Barreiro