Exposição sobre a ditadura é prorrogada

Após manifestações, Reitoria da UFMG decide ampliar em um mês período de visitação


Por Lucas Simões

Foto Cyro Almeida/ Divulgação

Depois de um intenso movimento pela prorrogação da inédita exposição “Desconstrução do Esquecimento: Golpe, Anistia e Justiça de Transição”, a Reitoria da UFMG decidiu manter a mostra até o dia 31 de agosto, com mais um mês de visitação gratuita ao público. O trabalho é uma espécie de pílula do aguardado Memorial da Anistia do Brasil, iniciado ainda em 2009, mas até hoje sem data certa para ser inaugurado em Belo Horizonte.

Na semana passada, os professores Rodrigo Vivas e Leda Martins, da Ação Cultural da UFMG, receberam um abaixo-assinado de docentes da universidade pedindo a manutenção da exposição, que reconta a história da ditadura civil-militar entre 1964 e 1985, e traça um paralelo com o nebuloso momento atual do país. Na última sexta-feira (28), alunos, acadêmicos e membros da sociedade civil realizaram um protesto pela permanência da mostra.

Em resposta às manifestações, o reitor Jaime Arturo Ramírez, e a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, decidiram manter a exposição. Em justificativa enviada a O Beltrano, eles afirmam que estão “cientes da importância desta exposição para a UFMG e o nosso país – em especial em momento tão adverso da nossa vida política social e econômica”.

Para Betinho Duarte, membro do Comitê de Acompanhamento da Sociedade Civil à Comissão de Anistia (CASC) e um dos organizadores do protesto, a prorrogação é uma oportunidade de atrair visitantes em um dos meses mais emblemáticos para a história brasileira referente à ditadura.

“A exposição foi inaugurada no período de férias e não seria suficiente um mês. Por isso, fizemos o protesto. Além disso, em agosto, nós temos pelo menos 10 datas simbólicas que marcaram o Brasil: No dia 10, temos o falecimento do Frei Tito, que suicidou na França, após passar quatro anos no exílio. Dia 11, a União Nacional dos Estudantes (UNE) completa 80 anos oficialmente. No dia 28 de agosto, é a celebração da Lei da Anistia. E no dia 30 , é o Dia Nacional das Vítimas de Desaparecidos Políticos”, diz Betinho.

Aproveitando justamente essas datas, a ideia é que a exposição também possa receber a visitação de escolas públicas do Estado e agregar outros eventos no decorrer deste mês. Um deles é o lançamento do livro “Calabouço: Rebelião dos Estudantes contra a Ditadura Civil-Militar em 1968” (Editora Núcleo Irredentos, 2017), lançado apenas no Rio de Janeiro, em abril deste ano. A obra assinada pelo militante Geraldo Sardinha resgata toda a história do emblemático restaurante Calabouço, cenário da repressão militar que acabou com o assassinato do estudante secundarista Edson Luís, em março de 1968.

“Vamos tentar fazer o lançamento desse livro no dia 28, junto com a exposição de alguns filmes, porque é uma data importante. Celebramos a Anistia, mesmo que ela não tenha sido do jeito que queríamos, pois muitos torturadores foram anistiados como se fossem vítimas. Então, quero dizer que ainda temos muitas pendências e contas a acertar. A continuidade da mostra faz referência a isso também”, completa Betinho.
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