"A ficha ainda não caiu", diz jovem negro acusado de racismo no Palácio das Artes

Em entrevista a O Beltrano, Arlee Douglas falou do "constrangimento e raiva" ao ser preso, acusado de racismo contra um jovem evangélico também negro.


por Lucas Simões

Arlee Douglas (de boné) discute com manifestantes religiosos na presença de policiais militares

Arlee Douglas Lima Rosa, de 23 anos, negro, ficou cerca de três horas detido pela Polícia Militar, acusado de racismo durante um bate-boca com evangélicos que queriam encerrar a exposição “Faça você mesmo sua Capela Sistina”, de Pedro Moraleida, no Palácio das Artes. Os manifestantes acusavam a exposição de fazer apologia à pedofilia e carregavam cartazes com frases como “Arte não é nudez, arte é criatividade”.

“Fora o constrangimento e a raiva que é passar por isso, estou bem”, disse no início da tarde desta sexta-feira (06/10), em entrevista a O Beltrano.

Denunciado pelo evangélico Ronan Ferreira, de 25 anos, também negro, Arlee contou que ficou detido entre 19h e 22h. Prestou depoimento na Delegacia Central de Flagrantes II, no bairro Floresta, e foi liberado em seguida. Ele disse que sua mãe ficou sabendo da sua detenção antes que ele pudesse comunicar alguém da família. “No caso, minha mãe já estava sabendo. Nem sei como. Felizmente não precisou (ela ir à delegacia)”, disse o jovem.

Arlee se disse revoltado com o pastor Leonardo Alvim de Melo, da Comunidade Evangélica Projeto Viver (Ceprovi), responsável pelo protesto contra a exposição, que lhe deu voz de prisão e instou a polícia até ele ser efetivamente detido. “A ficha ainda não caiu. Tinha um branco me dando voz de prisão (por racismo)”, completou o jovem. Atualização (sexta – 18:55): Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil não foi prestada nenhuma queixa contra Arlee.

Nova manifestação

Nesta sexta-feira (06/10), os manifestantes evangélicos voltaram ao Palácio das Artes, em novo protesto contra a exposição de Pedro Moraleida. Eles estavam acompanhados pelo vereador Jair di Gregório (PP), que voltou a ameaçar acionar o Ministério Público contra a mostra de arte. O vereador foi recebidos a gritos de “fascista” por pessoas que defendiam a liberdade de expressão artística.

Com a exposição aberta ao público, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) instalou equipamento de proteção na entrada da Galeria Alberto da Veiga Guignard. “Vamos controlar o fluxo de pessoas aqui para garantir a segurança. Só isso. Mas a mostra segue normalmente aberta ao público”, disse um segurança.

Leia a matéria sobre a manifestação de ontem aqui: http://www.obeltrano.com.br/portfolio/um-negro-preso-arte-e-raiva-religiosa/