Leia o jornalismo independente de I a V


Por Tamás Bodolay

Leia o jornalismo independente I

Missão hercúlea e muitas vezes heróica é a dos chamados blogueiros sujos. A saber, eles constituem o conjunto de blogs, sites de notícias e variados veículos para textos que imprimem luz sobre o lado oculto do noticiário hegemônico. Não precisa explicar o que é noticiário hegemônico, né? Ótimo.

Em que pese eventuais erros de apuração, por vezes causados por afobação, falta de recursos ou paixões exacerbadas, estes veículos ditos ‘alternativos’ são hoje fundamentais para a manutenção do bom senso na sociedade da informação, dado que permitem o contraponto aos consensos fabricados.

Como mestre Chomsky já explicou, a “fabricação de ilusões necessárias para a gestão social é tão velha quanto a história”. Mas, lamentavelmente, a criação da ‘propaganda’ por parte dos regimes autoritários aperfeiçoou isso, permitindo que poderosos meios de manipulação de massas possam moldar a cosmologia da sociedade moderna.

A grande imprensa se apropria dessa lógica de forma a delimitar a visão do cidadão comum e o faz da maneira mais nefasta: criando problemas coletivos para oferecer soluções monopolizadas. Traduzindo para pindoramês: Plim-Plim!

Leia o jornalismo independente II

Sinto como se grande parte da sociedade fosse vítima daqueles esquemas de pirâmide, nos quais os mais engajados na historinha do dinheiro fácil sobrevivem por mais tempo, enquanto a grande maioria alimenta o sistema até terem seus recursos esgotados. O topo da pirâmide abocanha todo o fluxo e fica cada vez mais rico. A diferença é que, no nosso caso, a riqueza depositada pelas pessoas é a capacidade de interpretar as coisas.

Muitos ainda se iludem, acreditando que não há como uma empresa sistematicamente manipular o que é ‘óbvio’, que ‘os fatos são fatos’ e que, aparte alguns exageros cometidos, os grandes veículos são as mais confiáveis fontes de informação. O pior é que eu não discordo totalmente.

Um cidadão que manja diariamente as manchetes ou os editoriais dos jornalões, faça cocô lendo uma dessas revistas semanais mais famosas, seja fã do Bonner ou acompanhe sei lá qual outro gogó da Globonews, certamente tem convicção de sua própria narrativa, sente-se perfeitamente bem informado e, claro, apto para discutir política em qualquer boteco ou rede social.

Só que, agora, a coisa ficou um pouco mais confusa sobre o que dá pra acompanhar, mas ninguém tem dúvidas de que deu merda. O pessoal aí do parágrafo de cima foi pego de surpresa, mas segue mordendo as iscas.

Claro que também estou sujeito a elas, e por isso tento não fazer juízo de valor. Sério. Acontece que não consigo me retirar dessa batalha que se dá no campo da semântica compartilhada, pois há tempos estou convencido de que a transformação social positiva se dá no enfrentamento constante do status quo, na busca por alternativas aos valores dominantes, pelo simples fato de que não me agrada a ideia de ser dominado, oras! A quem isso agrada? Então, quando percebo as pessoas, em especial as que eu mais quero bem, reproduzindo essa lógica de dominação consentida, esse autoengano em forma de frases pré moldadas e ‘lugares comuns’ replicados sem reflexão, eu fico muito puto.

Leia o jornalismo independente III

Mas, voltando à mídia alternativa e aquele papo ali de cima, de que a coisa tá confusa, acontece que nem todo mundo foi pego de surpresa com esses novos capítulos da novela brasilis. Alguns nomes que antes não figuravam no espectro criminal dos noticiários hegemônicos já eram velhos conhecidos dos consumidores de textos desse lado de cá, o ‘alternativo’.

Me refiro aos encabeçados por tarimbados jornalistas, cujos currículos não raro ostentam passagens importantes pelas redações dos grandes veículos de comunicação, muitas vezes em cargos de chefia, mas cujo perfil ético-profissional e (simporquenão?) ideológico os induziu a publicarem os resultados de suas apurações de forma independente.

Então, vamos a algumas dicas para se diferenciar a imprensa progressista das agências de mentiras incendiárias e irresponsáveis que inundam os whatsapps e timelines de todos:

1 – leia a matéria abaixo da manchete. Isso já ajuda muito!

2- Se quiser ir além e aperfeiçoar, busque checar se outras fontes dão o mesmo assunto. Compare.

3- Desconfie sempre da origem da informação. Verifiquei se há algum posicionamento já publicado pelas partes implicadas.

4- Pergunte a alguém que em tese conhece melhor o assunto do que você.

5- Seja crítico. Evite saídas simples e respostas fáceis.

6- Seja mais crítico ainda.

Leia o jornalismo independente IV

Grosseiríssimamente falando, sabe a diferença das bandas TOP para aquelas underground? A banda famosa tem contrato com a gravadora ‘major’, tem um público alvo e um plano de marketing muito bem delineado, empresário investindo no retorno que espera conquistar com o produto. Em uma gravadora grande, muitas vezes a obra da banda sofre interferências na composição, nos arranjos, nos timbres, contam com uns pitaqueros profissionais que assinam produção artística. Muitas vezes o próprio dono da gravadora tá lá, moldando o produto. Normalmente o acabamento realmente fica excelente, mas é isso: músicas palatáveis de fácil absorção e assimilação. Para a rua sai, ao final, um fonograma comercialmente viável, potencialmente rentável.

No contraponto, a banda independente, em sua originalidade, gasta o que tem ao alcance, pegando empréstimo para viabilizar um disco cuja sensação é que merece ganhar as ruas, conquistar os corações. E a falta de recursos para produzir um álbum não torna o resultado pior do que o que recebeu recursos abundantes. Na maioria das vezes, pelo menos a mim, tende a agradar-me o som que está descolado do mainstream, das sete melhores, dos hit parades.

Assim é também o jornalismo independente. Pessoas gabaritadas, tecnicamente primorosas, dão o melhor de si para manter seus leitores bem informados. A pompa não denota necessariamente a qualidade da coisa.

Leia o jornalismo independente V

Hoje resta claro que os consumidores da mídia contra-hegemônica já tinham na ponta da língua os nomes dos representantes mor da pilhagem de recursos públicos, do achaque, das práticas mafiosas, do cinismo patológico entre os poderosos de Brasília e outras figuras nessa órbita.

O primeiro a ser comido, o foi.

O senador Aécio, assim como o Ministro do STF, Gilmar Mendes, que foi seu interlocutor numa dessas conversas que vieram a luz, não de hoje figuram nessas publicações. A surpresa foi constatar que Gilmar é obediente a Aécio, demonstrando subserviência.

Temer e seu bandido de estimação no STF, Alexandre de Moraes, também não passavam batido ante aos observadores das penumbras.

Andrea Neves? Não é a toa que tanta gente comemorou em Minas sua prisão.

Outra coisa que a mídia progressista já vinha alertando. Que o golpe abriria precedente para outras rupturas do Estado Democrático de Direito e que isso poderia instaurar o caos no país.

Eu tenho bastante dificuldade em assimilar – para não dizer que não engulo – que essas rupturas casuísticas tem como objetivo um realinhamento das condutas de representantes políticos. O custo é muito alto.

Nos resta seguir atentos e fortes. Se possível bem informados.