Editora mineira Chão da Feira aposta em traduções e obras reflexivas voltadas para “leigos”; projeto “Caderno de Leituras”, distribuído gratuitamente, reúne análises críticas de filosofia a reality shows

Literatura reflexiva e acessível

Editora mineira Chão da Feira aposta em traduções e obras reflexivas voltadas para "leigos"; projeto "Caderno de Leituras", distribuído gratuitamente, reúne análises críticas de filosofia a reality shows


por Lucas Simões

Foto: Luísa Rabello/ Divulgação

Nichos temáticos e linguagens rebuscadas não são a praia da editora Chão da Feira. Batizada com o nome de uma singela travessa de Portugal, na qual morou uma de suas idealizadoras, Carolina Fenati, a fagulha inicial da editora se deu literalmente no chão, com cadernos poéticos espalhados em calçadas de Lisboa, ainda em 2011.

“A gente nunca teve uma ideia de temas ou qualquer coisa que circunscreva o estilo dos livros e textos que a gente publica. Mas, quando olho para trás, eles têm uma coerência. Não sei definir qual é, mas muitos dos textos ajudam o leitor a respirar num tempo muito asfixiante. São como propostas de atrito, de visões sobre como conviver juntos no mundo, qual caminho a humanidade está percorrendo, o que inclui, naturalmente, as trevas e as dores do viver. E é para todos os leitores, porque todo mundo é leigo em alguma coisa”, diz Carolina Fenati.

Com essa pegada, a Chão da Feira, também integrada por Luísa Rabello, Cecília Rocha e Júlia de Carvalho, realiza um garimpo em obras, textos e reflexões que perpassam o ensaio, a prosa, a poesia e a fotografia, nas mais diversas abordagens do conhecimento.

A coleção “Cadernos de Leitura”, que soma 73 robustas edições, publicou desde análises sobre a obra de Victor Hugo, passando pela tradução de Franz Kafka, até reflexões do reality show global Big Brother Brasil. Todos os textos estão disponíveis de graça na internet, diagramados em papel A4 para facilitar a leitura e a impressão. “Quando falamos em acessibilidade, é disso… de a pessoa poder imprimir aquele texto, ler como e onde quiser, gratuitamente, num tamanho satisfatório”, completa Carolina.

A edição contínua dos Cadernos de Leitura levou a Chão da Feira a começar a editar a Revista Gratuita, a partir de dezembro de 2012. Entre outubro e novembro deste ano, a publicação chega a sua terceira edição, sob a temática “Infância”. A ideia é reunir poemas, textos e fragmentos analíticos sobre um tema, publicar boa parte dos Cadernos de Leitura e disponibilizá-los digitalmente. Os volumes anteriores, “Cartas” e “Atlas”, ultrapassaram as 300 páginas cada um, configurando um registro histórico sobre os temas.

Foto: Luísa Rabello/ Divulgação

“Nos dois primeiros números, a revista reunia os Cadernos e também uma espécie de arquivo sobre o tema proposto. Agora, como de lá para cá já editamos mais de 30 cadernos novos, fica difícil colocar tudo numa publicação, é muito pesado. Então, vamos reduzir um pouco. Mas a ideia é a mesma: uma reunião literária diversa sobre um tema”, diz Carolina.

O mesmo caminho que une acessibilidade e reflexão crítica dos “Cadernos de Leitura” também é adotado na publicação dos livros da Chão da Feira. Entre os 12 títulos publicados até hoje está “O Pobre de Pedir”, último livro do português Raul Brandão, obra não revisada pelo autor e publicada originalmente em 1931, após sua morte. E também a rara “A Carta de Lords Chandos”, do dramaturgo austríaco Hugo von Hofmannsthal, publicada num jornal de Viena em 1902, na qual o autor desabafa sobre sua incapacidade literária, numa auto-crítica extremamente forte.

O próximo lançamento da Chão da Feira será um apanhado de oito a dez ensaios da escritora portuguesa Maria Filomena Molder, reunidos na publicação “Cerimónias”, inteiramente dedicada a análises de arte e filosofia. Mas nada sisudo ou voltado à bolha acadêmica. “São vários ensaios da Maria a partir de motivos variados, sobre um artista, um poema, uma carta. Não é nada duro, muito pelo contrário. É muito profundo e ao mesmo tempo suave, quase. Muito a ver com a proposta da Chão da Feira, que propõe reflexões a partir de diversos cotidianos”, justifica Carolina.

De 2016 a agosto deste ano, a coleção “Caderno de Leituras” foi realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivoà Cultura de Belo Horizonte — Fundação Municipal de Cultura —, com patrocínio do Centro Universitário UNA.

Para conhecer mais a Chão da Feira, comprar seus livros e baixar os “Cadernos de Leitura” gratuitamente, acesse o site www.chaodafeira.com.