Lula bate em Temer

Em BH, no mesmo dia do relatório de Zveiter, o ex-presidente não desperdiçou a deixa


por Lucas Simões

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

Lula esteve em Belo Horizonte, nesta segunda-feira (10), para o lançamento do Memorial da Democracia, em evento no Palácio das Artes. Foi o último a falar para um público que lotou por completo o Grande Teatro (outras centenas de pessoas ficaram de fora).

Como era esperado, Lula não desperdiçou a deixa para bater em Michel Temer, já que na tarde do mesmo dia o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), relator na Comissão de Constituição e Justiça do pedido de abertura de processo contra o presidente, deu seu parecer favorável à denúncia da Procuradoria Geral da República.

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Eles deram um golpe na democracia. O Temer deu um golpe. E agora vão dar um golpe debaixo da barba dele”, disse Lula. A expectativa é que a CCJ comece a analisar o parecer de Zveiter a partir desta quarta-feira (12). O Planalto deseja encerrar a votação da denúncia na CCJ e em plenário antes do recesso parlamentar, que começa em 18 de julho, por medo de novas dissidências e deterioração da base de apoio se o processo se arrastar para agosto.

Ontem, Lula abdicou do vermelho e apareceu em um terno todo cinza. Aproveitando o lançamento da segunda fase do Memorial da Democracia, projeto idealizado pelo Instituto Lula com a UFMG, para recontar a história política brasileira do ponto de vista dos trabalhadores nos períodos de 1930-1945 e 1945-1964, o ex-presidente dedicou boa parte de seu discurso para apontar a fragilidade da democracia brasileira.

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

“Numa próxima campanha, a gente não tem que discutir programa como se fosse pauta de reivindicação. A gente tem que ter coragem de fazer uma campanha discutindo qual é o Estado democrático que queremos construir no futuro?”, disse o ex-presidente.Ele ainda fez um apelo pelas instituições democráticas e mostrou preocupação com um provável cenário do Congresso Nacional em 2018.

“Não adianta ter a Presidência da República e eleger 500 deputados adversários. Fui eleito em 2002 e a esquerda inteira devia ter uns cento e poucos parlamentares. É importante a gente ter claro que a democracia pressupõe também a obrigação de assumir compromissos”, completou Lula. O ex-presidente ainda fez uma mea culpa de seu governo, especificamente sobre o projeto de nova regulação da mídia, que não saiu do papel.

“Hoje, passados oito anos fora do governo, eu tenho consciência que a gente poderia ter dado um passo a mais, sobretudo nos meios de comunicações. Mas eu queria que vocês levassem em conta que só para criar a TV Brasil não foi coisa fácil no Senado. Então, ainda vai levar alguns anos”, disse o ex-presidente.

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

Denúncias

Sobre as acusações de corrupção, Lula disse que vai “enfrentar os processos de cabeça erguida”. Além do sítio de Atibaia e do triplex da OAS, o ex-presidente também é alvo de outras ações judiciais relativas ao seu período enquanto presidente (2003-2011). “Eu já provei minha inocência (no caso do sítio e triplex) e agora quero que eles provem a minha culpa. Mas tem uns 500 processos ainda. Minhas viagens à África viraram processo, à América Latina, tudo virou processo. Mas como eu sou um defensor da democracia, eu vou dizer uma coisa: eu quero enfrentar esses processos de cabeça erguida”, disse Lula.

Polarização

Na porta do Palácio das Artes, a presença de manifestantes de tendências opostas rendeu uma disputa de gritos enérgicos pró e contra o petista. Os favoráveis ao ex-presidente se concentraram na porta do Palácio das Artes, sem conseguir entrar, enquanto um grupo de 100 pessoas se manteve do outro lado da avenida. Os opositores chegaram a levar um boneco inflável de oito metros de Lula vestido de presidiário, mas não conseguiram enchê-lo.