Menos festa, mais luta

O Beltrano conta como foi a Gay Pride Parade de Nova York


Por Clarissa Carvalhaes

Correspondente de O Beltrano em NY

NOVA YORK – Bem mais do que uma celebração, um ato para discutir, inspirar, educar e politizar a sociedade. A Gay Pride Parade de Nova York que aconteceu neste domingo (25) tem muito a nos ensinar. Das impressões de quem assistiu ao desfile em Manhattan pela primeira vez, o ímpeto inicial é afirmar que falta Carnaval e sobra organização. E se falta pegação e gingado, sobra protesto e política. A festa aconteceu na 5ª Avenida, onde os blocos percorrem três quilômetros entre os arranha-céus de Midtown até Greewich Village, região aonde nasceu o movimento pelos direitos dos homossexuais em NYC após a Revolta de Stonewall Inn, em 28 de junho de 1969 (os motins são considerados o evento mais importante que levaram ao movimento de libertação gay e ajudou a estabelecer os direitos de gays e lésbicas nos Estados Unidos).

Sem carros-alegóricos gigantescos, trios elétricos com famosos ou fantasias luxuosas, a Parada nova-iorquina separa, em nome da segurança, o público geral das pessoas que participam do desfile. Grades são posicionadas entre a calçada e a avenida, uma medida que passou a ser adotada desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Além disso, é proibido consumir bebidas alcoólicas na rua, o que dá ao ambiente ares ainda mais organizado e familiar.

Mais uma vez em nome da segurança, também não existem grandes blocos ou aglomerações. Os grupos que desfilam são formados às vezes por apenas cinco, dez pessoas; noutras, por 70 (e isso quando muito!). As músicas dançantes e efervescentes aparecem vez ou outra: o som que predomina na Gay Pride são gritos com palavras de ordem.

Sob o calor de 30º C, mulheres e homens idosos desfilaram vagarosamente lembrando os primeiros anos de enfrentamento de injustiças e violência. Crianças correram com bandeiras arco-íris e distribuíram panfletos que convidam a participar de grupos de apoio, protesto e educação. Do mesmo lado, políticos, como o governador de Nova York, Andrew Cuomo, e o prefeito da cidade, Bill de Blasio, foram aclamados pelo público. Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, logicamente ausente, foi mais uma vez acusado de machista, fascista, racista e homofóbico.


Pequenos livretos foram distribuídos durante o ato por grupos distintos. Alguns pregando a luta em defesa dos imigrantes no país; outros explicando didaticamente porque é preciso legalizar a maconha; e ainda se discutir a violência policial, sobretudo nos guetos da cidade. Há também quem se preocupou em explicar a necessidade de conhecer os diretos e deveres do cidadão; e da urgência em se discutir e participar ativamente da política nacional.

A agenda da Gay Pride borbulha e quando percebemos lá estavam bandeiras de dezenas de países (inclusive do Brasil) costuradas em uma grande colcha de retalhos atravessando toda a avenida. Com rostos tampados e vestidos de branco, um grupo lembrou os muitos assassinatos por homofobia, violência doméstica e racial. A 5ª Avenida se emocionou em um silêncio devastador e fez lembrar que a Gay Pride é a luta das minorias que juntas têm muitas dores, mas também nomes, classes e perfis de resistência. Resistência, palavra de ordem nesse domingo, que reuniu mais uma vez dezenas de milhares de simpatizantes e fez calar as vozes da Casa Branca.