Ocupa Predinho

O artigo censurado por Ruy Muniz da vereadora Áurea Carolina


Foto: Lucas Simões

 

A vereadora Áurea Carolina, do PSOL e do coletivo Muitas pela Cidade que Queremos, que obteve a maior votação nas últimas eleições para a Câmara de Vereadores de BH, expoente da renovação da esquerda na cidade, escreve uma coluna semanal no jornal Hoje em Dia, de propriedade do ex-prefeito de Montes Claros Ruy Muniz. Seu último texto, que seria publicado hoje, segunda-feira, aborda a ocupação que jornalistas fizeram na semana passada na antiga sede do próprio Hoje em Dia. O jornal, por óbvio, censurou a coluna. Nós, de O Beltrano, que somos radicalmente contra a censura, publicamos a coluna aqui. (Da redação)

Ocupa Predinho

Por Áurea Carolina

Cerca de 150 ex-funcionários do Hoje em Dia, entre jornalistas, gráficos e pessoas de serviços administrativos, ocuparam a antiga sede do jornal, localizada à Rua Padre Rolim, 652, no bairro Santa Efigênia. Demitidos há mais de um ano, reivindicam o pagamento de seus direitos trabalhistas e de salários atrasados. O movimento aconteceu na última quinta-feira, dia 1º de junho, e contou com o apoio de movimentos sociais.

Do lado de fora foi estendida uma faixa com os dizeres OCUPA PREDINHO. Por meio de uma carta pública, trabalhadoras e trabalhadores fizeram graves denúncias. No documento, eles afirmam terem sido “vítimas de uma negociata política, que envolve figurões da República”.

O apelido “predinho” surgiu recentemente, na delação-bomba do empresário Joesley Batista. De acordo com ele, o espaço foi comprado pela JBS a pedido de Aécio Neves por um valor superfaturado: 17 milhões de reais.

Na carta pública dos ex-funcionários, mais elementos se juntam à trama. Em 2013, o governo Anastasia (PSDB) desapropriou um imóvel da Rádio Del Rey, pertencente ao Grupo Bel, a um custo de R$1,09 milhões de reais. Pouco tempo depois, o mesmo grupo comprou o jornal Hoje em Dia que, de acordo com a carta, ao longo da campanha presidencial “se posicionou acintosamente favorável à candidatura de Aécio Neves”. Após as eleições, o “predinho” foi vendido à JBS e o jornal ao ex-prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz (PSB). Ainda de acordo com o relato, antes mesmo da venda do jornal, o Grupo Bel “fechou o parque gráfico, demitiu todos os funcionários da gráfica e não pagou os direitos trabalhistas”. Já Ruy Muniz demitiu 38 jornalistas que “não receberam nenhum direito trabalhista, nem o salário do último mês que trabalharam”. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais entrou com uma ação judicial para responsabilizar o atual e os antigos proprietários pelos pagamentos.

As denúncias revelam, mais uma vez, as relações íntimas e escusas da mídia hegemônica com empresários e políticos. Nesse contexto, os trabalhadores e as trabalhadoras dos grandes veículos de imprensa são assediados moralmente, perseguidos politicamente e têm seus direitos violados. A todas e a todos nós é negado o direito à informação.

“Diante de uma armação articulada por políticos e empresários, resta aos trabalhadores somente uma alternativa: a luta”, afirmam na carta os ex-funcionários do jornal. Por isso, ocupam o prédio. Por isso, ocupamos também este espaço – uma pequena contribuição frente a esse absurdo cenário. Estamos juntas: ocupar e resistir!