A Primavera Secundarista
Cineastas Ana Petta e Paulo Celestino finalizam o filme "Primavera", sobre as ocupações de escolas em 2015
Por Lucas Simões
A ocupação de duas mil escolas por estudantes secundaristas, entre 2015 e 2016, durou cerca de seis meses, tempo suficiente para provocar transformações radicais na maneira com que os jovens tratam de política, educação, sociedade, cultura e sexualidade. Naquele espaço de tempo, os secundaristas se organizaram espontaneamente contra a série de retrocessos impostos à educação pelo Congresso Nacional. Dois anos após os protestos, a atriz e cineasta Ana Petta prepara o lançamento do longa-metragem documentário “Primavera”, filme que capta reflexões dos jovens, suas ambições e percepções críticas sobre o papel da escola.
Produzido pela Clementina Filmes, o longa é dirigido por Ana Petta e Paulo Celestino a partir das lembranças, desabafos e olhares de 50 adolescentes entrevistados nas cidades de São Paulo, Natal, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte — todos envolvidos diretamente com as ocupações e engajados na luta pela derrubada da PEC 241, que acabou aprovada e transformada na Emenda Constitucional 95, e que congelou os gastos com educação e saúde por 20 anos.
Alguns meses após a imersão na ocupação do colégio Estadual Central, na capital mineira, Ana Petta teve a ideia de ir além dos registros captados no calor do momento, como nos aulões públicos, com apoio de artistas, ou os flagrantes de secundaristas sendo agredidos em várias cidades do país e das ações repressivas, como cortes do fornecimento de água, por exemplo.
“Não é um documentários sobre o calor dos acontecimentos, sobre a organização deles na alimentação, nos debates e assembleias realizadas durante o movimento. É uma espécie de construção das memórias dos estudantes, que agora olham para o que viveram, analisam. Tem duas coisas muito importantes no filme que são o que aconteceu com esses estudantes após as ocupações e como a experiência da ocupação transformou cada um”, diz Ana Petta.
O resultado é um filme costurado por várias histórias de transformação. “Tudo a partir da ótica deles. Tem o caso de uma menina que antes da ocupação não ia à escola em dia de chuva com medo de molhar o cabelo, porque ela alisava e era difícil assumir e gostar do cabelo crespo. Depois da ocupação, ela apareceu com o cabelo crespo, alegre, e com uma consciência maior sobre a questão racial”, diz a cineasta.
Petta ainda traça um paralelo com a nostalgia precoce manifestada pela maioria dos secundaristas envolvidos nas manifestações de 2015, e o sentimento muito similar daqueles então jovens imersos nos enigmáticos protestos de 1968 . “É interessante notar que as pessoas que viveram maio de 1968 tiveram uma nostalgia grande daquele ano, pela intensidade que se deu. Percebi que, com os secundaristas, mesmo tendo se passado apenas dois anos da Primavera, eles também sentem essa nostalgia. Dada a importância do movimento em suas vidas”, completa a cineasta.
Nos últimos ajustes para o lançamento, a produção do filme também iniciou campanha de financiamento coletivo para arrecadar R$ 35 mil, o valor necessário para concluir a montagem e finalização do filme, além de arcar com os custos operacionais do projeto. As colaborações, a partir de R$ 20, dão direito a brindes como pôsteres e camisetas. Para contribuir, acesse o link: www.catarse.me/primaveraofilme. Para ver o vídeo de divulgação, acesse https://www.facebook.com/primaveraofilme/videos/859652144210559/.
A pré-estreia do filme “Primavera” acontece no 42º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundarista — UBES, em Goiânia (GO), entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro. No ano que vem, o longa irá participar de festivais, terá exibição em algumas salas de cinema do Brasil ainda a ser definidas e também tentará a inserção no circuito comercial.