Considerações Matinais Musicais ou tem apelo, tem som, tem força


Por Rafael Mendonça

Foto: Leo Aversa

1- Pra começar aos de SP: Até sexta que vem paupérrimo, então, por gentileza se tiver aquela discotecagem marota de música pra escutar ou aquele clássico set de música brasileira. Ou mesmo um frella jornalístico com pagamento ao vivo, É NOIS NA CIDADE.

 

2- Dito isto queria falar de 3 discos que saíram nos últimos dias. Vamos começar pelo da Juliana Perdigão. FOLHUDA. (https://open.spotify.com/album/4WmGiTZ70HrbjoKyhuoweP)

2- Depois de ‘Álbum desconhecido’ (2011), um disco que olhando de longe PARA MIM soa até ingênuo perto de onde chegou. Depois que migrou pra SP, de Ó (2016) e de sua “estreia” com os Kurva. Depois que virou essa pessoa que é hoje. Juliana, sou suspeito pois irmão de longa data, se torna a cada dia uma artista maior. Seu crescimento enquanto pensadora musical se expande exponencialmente. Produtora. Agora compositora.

2- Ao pegar poesias que vão de Angélica Freitas a Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Renato Negrão e musicar, Juliana de certa forma traz a paz que faltava em vários departamentos de sua vida. Ela é política e doce. Incisiva como uma faca e leve como uma flor que dança no ar. Assume seus lados sem medo. Isso tudo rodeado com a parceria na produção de Thiago França.

2- Escutei a primeira vez no dia do assassinato da Vale em Brumadinho. O disco, talvez por isso e por sua qualidade, me leva às lágrimas ainda hoje. No dia eu lia as notícias e quando tocou Noturno, o violeiro, eu cai no choro. Foi uma experiência forte e marcante.

2- O disco já dava sinais de POTÊNCIA desde o show solo que Ju fez na Mostra Cantautores em BH no fim do ano passado e não deixou nada pra traz. AVOA Ju. Segue soltando esse som de você que nos traz paz.

 

3- BEM AI VEM O CAOS, digo o cais. Em seu segundo disco, DRAMA, desde seu retorno, Carlos Antonio Mattos aka TANTÃO. Volta. E VOLTA COM MAIS UMA VOADORA NO SEU PEITO. DRAMA> Tantão e Os Fita parceria de Tantão e os grandes Abel Duarte e Cainã Bomilcar é um estrago mental. É um disco que te instiga. https://www.youtube.com/embed/M_a_-yIaJqs

3- Te provoca até quase às últimas consequências. É dança e reflexão. Bases certeira e o Tantão em GRANDE forma. É o caos que a cidade do Rio e todas as outras vivem. É pra mim até a busca desesperada por um caminho, um amor ou apenas um beat.

3- Algo como um grito desesperado. “CRISE NAS INFINITAS TERRAS!!!”. Tantão está exuberante em sua “CRISE NAS INFINITAS TERRAS!!!”. Escrever sobre esse disco merecia um texto tão caótico quanto o disco. Um texto que não trouxesse paz, mas DRAMA.

3- Os meninos, os FITA estão esmiuçando nas bases. Minha impressão é que eles conseguem colocar em seus bytes e ondas toda a personalidade de Tantão. Tipo um quadro do Dorian Gray musical, só que bonito pra cacete.

3- Uma verdadeira ODE aos dias modernos. Aos dias de árvores caídas e crentes fundamentalistas querendo cortar a alegria de viver. De noites em claro e ou.

 

4- Aí eis que CHEGA HOJE, COM ENORME EXPECTATIVA o Disco, assim com D maiúsculo, do GIGANTE Jards Macalé.

https://open.spotify.com/album/0fKrTiEu3rfpvmjduYvyE0

4- Um disco que já vinha cercado de expectativa desde meados do ano passado quando os amigos envolvidos, sem entregar nada diziam sobre estar no meio de um projeto doido aí. Os rumores esquentaram. Notícias de que estavam entrando em estúdio. Primeiras informações meio que oficiais.

4- Em uma conversa na mesma Mostra Cantautores que mediei com Macalé e Juliana Perdigão, depois de um show dele maravilhoso. As coisas se tornaram expectativa. Estava vindo um Macalé de inéditas produzido pelo mestres Kiko Dinucci e Thomas Harres e com direção do outro mestre Romulo Fróes.

4- Macalé sempre foi um monstro genial. Daqueles que inventam o que os outros vão copiar. Daqueles que provam que vale a pena dar aquele passo a frente na beira do precipício. E se jogar na aventuras que a música permite. CRIAdor, transgressor de conceitos. Artista na concepção da palavra.

4- E eis que se une aos caras que de certa forma estão aí tocando esse barco da invenção. Fazendo um som que vai causar. No melhor estilo que a palavra tem nos anos 10.

4- Escutei o disco na noite de ontem ao chegar do trampo. E a euforia foi tomando conta de mim. E pensei: Oh, sim, eu estou tão cansado, Mas não pra dizer, que Meu segredo é que sou rapaz esforçado, Fico parado, calado, quieto, ouço e Desculpe a paz que eu lhe roubei. E roubou. Grave Um Disco Devagar

Grave Um Nome Devagar

Um Long-Play Devagar Quase Parando, oh love.

4- Um álbum onde a criatividade é esbanjada. Onde o caminho é o não caminho. Onde as soluções fáceis ficam para os preguiçosos e invejosos que irão falar que pipipipopopo e eles sempre aparecem.

4- Eu já tenho minha preferida e até o meu hit. O disco ainda conta com a participação da turma toda: Rodrigo Campos, Juçara Marçal, Guilherme Held, Velha guarda musical da Nenê de Vila Matilde, Tim Bernardes e mais uma turma.

4- DISCO QUE VAI ESTREMECER MUITA COISA.

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No mais sigo na cantilena chororenta do se amem, cuide dos seus e valorize quem vocês gostam, sejam solidários, fortaleçam as amizades. Mais amor, menos egoísmo.

#LULALIVRE #LULAPRESOPOLÍTICO

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Cultura e política

Rafael Mendonça

Jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’ e cuidador da própria vida.

Carrefour Bairro


Por Flávio de Castro

 

Eu moro num bairro que tem Carrefour bairro e vez  ou outra me arranho com a vizinhança quando o assunto é futebol ou politica. Vez ou outra que vou ao mercado onde a velha patota se reconhece e fala alto.  Tratam certos  funcionários e desconhecidos  pela alcunha de “coleguinhas” , marcam seu lugares, senhores de suas cadeiras cativas.  Bebem cerveja como se fosse donos dos recintos, fazem piadas  constrangedoras sobre a porção de mandioca para a garçonete que recolhia  10%  da generosidade de um homem cordial, que bebe, come um tira gosto e declama  suas certezas sem parar.

Este sujeito, o dez porcento,  sabe todas as estatíscas, as escalações, os juizes, os corruptos, os vendidos. Sabe tudo e tem amigos importantes. Papai conheceu o Sabino, a vovô recebeu João em sua fazenda. É intimo do Lô, do Bituca, do Toninho Horta. Bêbado amador, pagando 15 reais pela cerveja e 10 pela cachaça, ele joga uma espécie de supertrunfo cívico, cultural e artístico  O sujeito me faz mal, pois lá no fundo acho que me identifico com ele nesse desejo de também ser percebido em acalorada solidão

Subo a avenida de manhã. Atletas, triatletas e patriotas estacionam seus jipes sobre o asfalto . Ao lado do pneu da SUV, numa poça de água parada, amanhecem vazios e um pino de plático  e um preservativo. Cheios de chuva talvez.  A zona sul demora, mas acorda. Acorda e vai pra rua maldizer políticos ou para os bares maldizer amigos ausentes. Isso vem desde  o tempo de  Ciro dos Anjos, desde Pedro Nava:  rodas de chopp e o relato dos malefícios, separações, falências e  presepadas de amigos ausentes e falecidos.

_ Some não, meu querido.

_ Sumo não. E dessa vez vamos parar de dizer que não vamos sumir e sumir de novo!

_Vamos não, abraaaaço!

Uma vez fui a uma festa  onde não conhecia ninguém e logo  fui  procurando por um lugar onde guardar as cervejas  que comprei no Carrefour Bairro. Me apontaram um corredor, escuro, vazio que levava a um tanque e uma máquina de lavar. Caminhei noites e dias para chegar até lá.  E foi sobre uma legítima Brastemp de ferro  avistei aquela mulher sentada, fumando um cigarro assim tão distráida . Ela viu meu susto, minha falta de jeito e disparou: “quem procura, acha”. Nunca mais esqueci essa frase porém muitas vezes me pergunto se essa mulher realmente existiu.

Quem procura acha – e não é que achei  no meu bairro também? Nas tardes da frangonete, nas manhãs de padaria, encontrei artistas, viradores, matriarcas de ferro e afeto, vagabundos e forasteiros  – encontrei sentinelas.  Essa gente vive em apartamentos próximo ao meu e resistem ao hilotismo, à pasteurização dos hábitos, ao mundo branco iluminado da nova loja da franquia. Gente que está firme no ponto , criando filho, curando ressaca, resolvendo treta, fazendo amigo.

Em plena zona sul, para além dos bares de espetinhos e do cartel das drogarias. Além das noites sem boemia e das tardes nas Instagram. Vejo um casal de namorados que sai do Carrefour Bairro carregando sacolinhas com macarrão, cerveja, abacaxi e molho de tomate. Eles sobem a rua de chinelo, tagarelas e famintos. Logo vão comer, beber, transar, dormir e assitir seriado.  Acho que vem desde os tempos dos Cláudio Manuel da Costa, o  amor feroz que vence o penhasco e se apura na resistência. Este amor nasce aqui na Zona Sul, na barriga de uma avenida circular que contorna a cidade e cerca parte da minha vida.

Naquele bairro careta, desde os tempos do Drummond, ao som  de  panelas e  buzinas,  em meio ao enxame metálicos de carros pretos ou prateados, no meio das gentes bonitas e   babás de sulfite … o amor atravessa a rua e segue em frente, como naquele poema em que uma flor nasce no asfalto. Ou nasce do asfalto, sei lá. Esquecidos da vida vão os  amantes,  esquecidos do bairro, do poema mas  encontrados dentro das mãos dadas, subindo as escadas, dentro das sacolas, dos beijos e da água fervida do macarrão. Quem procura, acha.

Conto-reportagem

Flávio de Castro

Poeta, professor de literatura e funcionário público de si mesmo.