A Caravana

Eu vi o líder popular abraçar o seu povo


Foto: Ricardo Stuckert
Lula pelo Brasil – Campina Grande (PB), 27/08/2017.

Convidada a escrever sobre minha participação na caravana do ex-presidente Lula pelo Nordeste, confesso que senti um misto de medo e gratidão. Medo por ainda não ter conseguido digerir e dimensionar tudo que vivi. Gratidão pela oportunidade de falar sobre o que vi e vivi: as mazelas, as dificuldades e a esperança dos brasileiros que encontrei por essas estradas. Por isso, advirto, esse texto não é matéria jornalística. É um relato pessoal sobre o que passei nesses 20 dias em que percorremos 5 mil quilômetros, cruzando nove estados nordestinos.

Apesar de omitida pela chamada “grande imprensa”, cada vez mais apequenada, a adesão do povo à caravana foi inegável. Em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, por exemplo, um mar de 30 mil pessoas lotou o Largo do Tungstênio. Em um sábado à noite, em Recife, 20 mil foram ver Lula falar. Em Glória, interior de Sergipe, pelo menos 15 mil pessoas estavam presentes ao ato. E essa era a terceira cidade visitada por ele só naquele dia.

Mas não foram apenas os números que me marcaram. O carinho do povo pelo ex-presidente fez com que uma nova “agenda” surgisse durante a caravana: as paradas nas estradas. Ao saber que a caravana passaria na porta das cidades, os moradores iam para a estrada acenar para Lula e vê-lo de perto. E Lula, surpreendendo a equipe, descia de repente do ônibus. Em algumas paradas, precisamos improvisar palanques em carrocerias de caminhonetes.

Foto: Ricardo Stuckert
Lula pelo Brasil – Recife (PE), 25/08/2017.

Era o sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores falando àquelas pessoas, como nos discursos improvisados, em cima de mesas, na década de 80. O ex-metalúrgico, que se tornou presidente do Brasil e uma das lideranças políticas mais aclamadas do mundo voltava às suas raízes na frente dos nossos olhos.

E ali ele abraçou o seu José, metalúrgico que virou escritor e deu a ele de presente seus poemas, escritos em folhas de caderno. Seu José agradece diariamente a cisterna instalada em sua casa durante o governo petista. Também ali, Lula beijou a testa de Jéssica, que se formou graças ao ProUni e pode estudar em uma universidade no interior de Sergipe.

Eram muitos Josés e Jéssicas que levavam flores ao ex-presidente ou estendiam panos vermelhos nas janelas das casas, para dar boas-vindas à caravana. Talvez por tudo isso, nós, que compusemos a caravana, nos demos o direito de chamá-la de “Caravana da Esperança”. Esperança que nasce da resiliência e força daqueles que foram por décadas invisíveis aos olhos da elite e do poder público.

Longe dos números nada frios – afinal, são 40 milhões de brasileiros que saíram da pobreza, 63 novos campis universitários e 150 escolas técnicas só no Nordeste, 1,2 milhão de cisternas e milhares de famílias beneficiadas com o bolsa-familia e o Luz Para Todos – e das análises políticas que surgem a partir dessa empreitada, eu optei por fazer um relato baseado no que vi e ouvi.

Foto: Ricardo Stuckert
Lula pelo Brasil – Ipojuca (PE), 25/08/2017.

Vi a vida de pessoas mudar com o acesso à água em meio à seca que castiga. Vi a qualificação profissional possibilitada pela criação dos institutos federais. Vi a chance de estudar com a interiorização das universidades e vi direitos básicos sendo garantidos, como o acesso a luz com o Luz para Todos. Infelizmente, também ouvimos lamentos daqueles que estão tendo seus diretos cassados em uma novela dirigida pela “grande imprensa”, pela elite e pelo judiciário que querem exterminar a agenda social do país. Se Lula, um homem de 72 anos e perseguido há 30, não esmorece, não me darei esse direito.

Ana Flávia Gussen é mineira, jornalista, com MBA em marketing e atualmente trabalha na Agência PT de Noticias