A economia, o desemprego e as fake news de Temer


Por Fabrício Augusto de Oliveira

Michel entre Goldfajn e Meirelles. Foto Orlando Brito

Como um mantra, o presidente Temer continua repetindo que corrigiu os problemas do país e criou as condições para o relançamento da economia e para a geração de empregos, com as reformas que realizou, retirando-se da grande recessão a que foi conduzida pelas políticas econômicas equivocadas do governo Dilma Rousseff. Acredita, ou quer convencer a população com essa arenga, pensando tornar viável seu nome como candidato à presidência da República deste ano.

Os últimos números sobre o emprego no Brasil divulgados pelo IBGE mostram que a situação não anda nada favorável nem para os trabalhadores, nem para o projeto político de Temer. Depois de recuar para 12,2% no trimestre fechado em janeiro, com 12.689 milhões de desocupados, a taxa de desemprego avançou para 12,6% em fevereiro, e atingiu, em março, 13,1%, nível que corresponde a 13,7 milhões de trabalhadores da população economicamente ativa. Ou seja, em apenas dois meses mais de um milhão de trabalhadores perderam o emprego neste ano.

É bem verdade que tradicionalmente a taxa de desemprego tende a subir no primeiro trimestre do ano, devido à demissão de trabalhadores temporários contratados para as festas de final do ano. Mas, além da piora na qualidade do emprego que se tem verificado desde 2015, o nível e a velocidade em que essas perdas vêm ocorrendo é preocupante e desfaz o otimismo do governo sobre o acerto da política econômica para a retomada do crescimento econômico e para a geração de empregos.

De acordo com o IBGE, desde 2015, quando as demissões passaram a superar as contratações, a economia brasileira perdeu 2,87 milhões de empregos formais, que foram parcialmente compensados com o aumento do emprego informal. Como consequência, o emprego informal, correspondente a 34,2% da população economicamente ativa, superou pela primeira vez, em 2017, o emprego formal, este com uma participação de 33,3% no total.

O emprego informal que tem crescido especialmente a partir de 2015 e da reforma trabalhista de Temer, representa, na verdade, um emprego precário, com remuneração mais baixa e sem a garantia de direitos trabalhistas, que pouca receita gera para o governo em termos de arrecadação, além de inibir o acesso ao crédito dos trabalhadores situados nessa categoria. Tanto isso é verdade, que o rendimento do trabalhador não tem sido corrigido, nos últimos três anos, sequer pelos índices inflacionários.

Combinados, o aumento do desemprego com a estagnação e até mesmo recuo, em termos reais, dos rendimentos dos trabalhadores, tornam difícil vislumbrar como o consumo das famílias possa dar algum alento à atividade econômica, à medida que responsável por cerca de 60% do PIB, e como algum incentivo possa se irradiar para os investimentos nessa situação, os quais são essenciais para a retomada e sustentação do crescimento econômico.

Não sem razão, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) tem registrado um desempenho pífio da economia neste início de ano, com queda de 0,64% em janeiro e expansão modesta de 0,09% em fevereiro, o que tem levado os institutos de pesquisa e o próprio governo a fazer revisões para baixo das expectativas de crescimento do PIB neste ano, que ainda se encontram em nível extremamente otimista de 2,7%.

Como a política econômica não tem mais nenhum coelho na cartola para ser retirado, com o objetivo de reanimar a economia, até mesmo por se tratar de final de governo, quando qualquer reforma esbarra em resistências, e, tendo desperdiçado munição com medidas anticrescimento, caso do congelamento dos gastos primários, redução dos investimentos públicos e reforma trabalhista, só resta ao presidente Temer continuar tentando enganar a população com fake news de que colocou o país nos “trilhos”, como não se cansa de afirmar. Para os trabalhadores, a dura realidade de que a recuperação não engatou, a economia continua patinando e de que o desemprego pode continuar aumentando.

Se Temer, assim como o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, contava com o melhor desempenho da economia para dar um salto em seu desprezível índice de popularidade e viabilizar seu nome como candidato às eleições presidenciais do final do ano, recomenda-se deixar de lado essa fantasia e se preparar para enfrentar tempos mais adversos que se avizinham.

Economia

Fabrício Augusto de Oliveira

Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, articulista do Rede em Debates e O Beltrano, e autor, dentre outros, do livro “Política econômica, estagnação e crise mundial: Brasil, 1980-2010”