A resistência da resistência
Documentário de diretora mineira desmistifica o acampamento de Curitiba que luta pela liberdade de Lula. O curta estará disponível em O BELTRANO a partir das 20h de hoje (17/07)
Por Petra Fantini
Publicado em 17/07/2018
Alimentar sua alma e fazer o registro histórico da atual conjuntura brasileira. Foi unindo estas duas forças motoras que a produtora idealizou o documentário “Nosso nome é resistência”, que acompanhou durante quatro dias o acampamento Marisa Letícia na luta pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba.
A obra estreia às 19h30 desta terça-feira, dia 17, na Terça Valente do Restaurante do Ano 2018 (Rua Levindo Lopes, 158 – Savassi). Com 30 minutos de duração, o filme foi realizado ao custo total de zero reais, segundo conta Juliana. Desde a câmera e o microfone até a edição e o transporte que a levou até o Paraná, Juliana conseguiu com que o filme criasse vida através de empréstimos e apoio de pessoas comprometidas com a causa da perseguição política e inocência de Lula.
Juliana aprendeu sobre militância política desde muito nova. Uma tia e um tio foram presos durante a ditadura militar, sendo que este foi morto no dia do casamento de seus pais. Além deste laço com a esquerda que lhe formou como pessoa, soma-se às motivações da diretora que seu pai veio a falecer em abril deste ano, mês em que Lula se tornou o primeiro ex-presidente da república preso e condenado a 12 anos e um mês de reclusão.
A tristeza pela perda do pai se uniu à indignação com o momento em que o país vive desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a motivaram a embarcar em um dos ônibus fornecidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de Minas Gerais para acompanhar as manifestações em Curitiba. O material foi gravado entre os dias 23 e 27 de abril e trata o cotidiano das pessoas que compõem o acampamento Marisa Letícia, localizado a um quilômetro da vigília montada na porta da Polícia Federal, onde Lula está recluso.
O local do acampamento consiste em um lote vago de aproximadamente mil metros quadrados, onde os “moradores” fixam suas barracas e contam com estrutura precária mas muita organização. Banheiro químico e dois containers de chuveiros com água fria, mesmo no inverno curitibano que pode chegar a 4º C, dão conta da higiene, enquanto a cozinha é montada em tapumes. Disciplina é a ordem da casa, e todos devem seguir algumas regras propostas pela coordenação do Marisa Letícia: rodízio para a realização de atividades como cozinhar e cuidar da segurança, luzes apagadas às 21h e o não consumo de bebidas e drogas.
A falta de estrutura se reflete na filmagem, já que Juliana precisou usar três câmeras diferentes, inclusive uma go pro, para revezar e carregar as baterias na estande da imprensa localizada na vigília. Por isso, é possível notar que as imagens têm qualidade diferentes. Juliana gostou do resultado pois contribui para a veracidade do documentário. “O acampamento é a resistência da resistência”, diz.
Entre os acampados estão militantes de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) e trabalhadores comuns que apoiam a causa devido à gratidão que sentem pelo governo do ex-presidente. Quatro dos seguranças voluntários do acampamento trabalhavam para Lula durante a Caravana que ele fazia pelo país antes da prisão.
A segurança é a preocupação número um, pois agressões são frequentes. Todos os dias os membros do acampamento se deslocam até a vigília na porta da Polícia Federal e recebem ofensas no caminho. Vestidos de vermelho, Juliana conta que o grupo de militantes é facilmente identificável e por isso eram chamados de vagabundos, desempregados e ouviam gritos de “Bolsonaro 2018”. A orientação é que andem em grupos e não revidem as ofensas. Essa abordagem pacifista, observa a produtora, provavelmente é o que permite que o acampamento sobreviva até hoje.
O ápice da violência ocorreu na madrugada de 28 de abril, quando apoiadores do pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PP) dispararam tiros contra o grupo. Na ocasião, dois acampados ficaram feridos. Um deles, o segurança Jeferson Lima de Menezes, foi hospitalizado com um tiro no pescoço. Juliana chama atenção para o fato de que o acampamento, anteriormente localizado na frente da Polícia Federal, hoje ocupa o terreno baldio depois de um acordo firmado com o governo do Paraná. O governador havia prometido garantir a segurança do grupo, o que não foi feito.
Estreia
No encontro desta terça-feira, Adriana Lara, ex-vereadora de Vespasiano pelo PT e Thulio Siviero, vice-coordenador do acampamento, participarão de uma roda de conversa com a diretora. Para o futuro, o plano é espalhar o documentário o máximo possível, incluindo traduções para inglês e espanhol. “Queremos desmistificar o acampamento, porque as pessoas ouvem falar e ninguém sabe exatamente como é. Então a ideia é justamente divulgar o acampamento, divulgar a vigília, e fazer o registro histórico disso que está acontecendo”, conta Juliana.