Acabou, mas no ano que vem tem mais!


Por Silvana Mascagna

foto: Rafael Mendonça

O Carnaval terminou oficialmente. Mas em BH ele ainda resiste. Quem diria que a capital mineira ia virar praticamente uma Salvador, um Rio de Janeiro? Uma cidade onde, pouco menos de uma década atrás, não se ouvia uma marchinha sequer nos quatro dias de folia, agora viu suas ruas repletas de gente cheia de glitter na cara e alegria na alma.

E teve folia de tudo que é jeito. As que arrastaram multidão, as médias e as pequenas. Teve até casamento que se transformou em bloquinho e foi parar numa pracinha bucólica, conquistando foliões penetras, como esta que vos fala, em busca de tranquilidade.

O Carnaval de BH cresceu muito. E se houve bloco patrocinado, festa com espaço VIP, com cordas que separam a bateria do público, teve espaço também para os arranjos de última hora e para os batuques domésticos – mas não menos animados.

Os blocos tradicionais mostraram mais uma vez porque moram no coração do folião belo-horizontino. E muitos estrearam em grande estilo, deixando claro que no ano que vem tem mais.

E a festa foi bonita, com os espaços públicos dominados pela alegria.

Quiseram proibir a bebida símbolo do Carnaval de BH e outras cervejas não produzidas pela cervejaria patrocinadora. Não rolou. Houve protesto, liberaram a catuaba e derrubaram o monopólio!

Além da fantasia colorida e da maquiagem cheia de glitter, aqui a gente teve também como acessórios os selinhos de “Fora, Temer” (também teve carimbo), “Me beija que eu não sou golpista”, “Fora, Globo golpista” , “Amar sem Temer”… Teve a cara do Temer Golpista estampada em saco de pano que serviu como abadá. Teve chup chup “Fora, Temer”… E, o melhor, além das marchinhas, dos pagodes anos 90, dos maiores hits carnavalescos, todos gritaram em uníssono “Fora, Temer, fora, Temer” , como se estivéssemos numa manifestação.

Houve o protesto macro. Mas não se esqueceram das lutas específicas, e as mulheres, os negros, os LGBTs se sentiram representados. Teve bloco que saiu da cidade para chamar atenção para questão da água. Teve diretor de bloco que se negou a tirar os selinhos contra o governo golpista pra gravar para a TV. Teve campanha “pros caras respeitarem as minas”.

Foi lindo de ver!

Houve problemas também. Roubos, assaltos, agressões e até policiais militares que jogaram gás de pimenta no tradicional bloco de BH, o Tico Tico Serra Copo. Mas isso nunca é culpa do Carnaval, mas do poder público, que deveria garantir a nossa segurança.

O novo Carnaval de Belo Horizonte nasceu como resposta a um prefeitinho que ousou dizer para o povo onde se podia ou não fazer eventos pela cidade (não sei como ninguém teve a ideia de criar um bloco com o nome “Valeu, Lacerda!”). Veio a vontade de ocupar Belo Horizonte da maneira mais alegre, colorida e política possível.

Veio a Praia da Estação. Mas antes o Tico Tico Serra Copo deu a largada para a enxurrada de outros que surgiram depois.

E se o Carnaval de BH é assim, hoje, é por causa dessa sua origem. Embora muitos acreditem que esse espírito tende a se perder, sou da turma que aposta que essa chama nunca vai se apagar.

Agora, nos resta a ressaca e a espera: chega logo, fevereiro de 2018!

Crônica

Silvana Mascagna

Jornalista paulista, que escolheu Belo Horizonte há 20 anos para viver