Blocos preparam denúncia contra PM

Representantes de blocos e foliões se unem para denuncia truculência da polícia


Por Petra Fantini

Bloco Filhos de Tcha Tcha – Foto: Eveline Trevisan

Passada a euforia da festa, os mais de 60 blocos que assinaram carta aberta em repúdio à truculência da Polícia Militar durante do Carnaval (https://goo.gl/91TrWw) planejam o encaminhamento oficial da denúncia. Na noite desta terça-feira, dia 20, organizadores, produtores culturais e foliões se reuniram no Teatro Espanca! para planejar os próximos passos.

Ficou decidido que na manhã de quarta-feira (21), representantes dos blocos compareceram à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Belo Horizonte para formalizar suas acusações. Além disso, foi convocado que o maior número possível de agredidos façam suas denúncias na corregedoria do Ministério Público – as páginas Carnaval de Rua BH e as dos blocos também receberão relatos em breve para compilação.

Os planos para o mês de março incluem duas audiências públicas, uma da Câmara e outra na Assembleia Legislativa do Estado, além de atos simbólicos nas ruas.

Violência

Os casos de violência mais graves foram relembradas, como o ataque ao bloco Filhos de Tcha Tcha, que foi dispersado sob tiros de bala de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Na ocasião, Indianara Mendes foi detida pelos policiais. Emocionada, ela compartilhou com os presentes o relato de abusos e espancamento que sofreu das autoridades – uma de suas mãos estava enfaixada, ferida ao ser arrastada pelo asfalto. Durante a negociação para a dispersão do bloco, um policial teria lhe dito que estava “cansado desse movimentozinho de merda”.

Indianara é integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e funcionária da Câmara dos Vereadores, lotada na ‘gabinetona’ de Áurea Carolina e Cida Falabela (ambas do PSOL). Outra situação de violência policial lembrada foi a do conflito no palco da rua Guaicurus (https://goo.gl/Len5Dy).

Outro ponto discutido foi o do cadastro que os blocos teriam que fazer junto à Prefeitura e que o poder público tem chamado de alvará. Foi frisado que, por se tratarem de blocos de rua, que surgem espontaneamente sem controle de público, ao contrário de eventos fechados, eles não poderiam ter alvará de funcionamento. Desta forma, a obrigação de controle e dispersão de público que lhes foi imposta, como se fosse a responsabilidade de um contrato, não teria cabimento.

A dispersão de público das ruas foi comparada a um toque de recolher. O racismo também foi apontado como presente nos atos de repressão aos blocos. “Então me prende cantando”, teria respondido Guilherme Guardião, vocalista do bloco de funk SarraDá, ao PM que tentou parar seu bloco antes do final do show, embaixo do viaduto Santa Tereza. Segundo ele, a presença de veículos como Record e Globo teria impedido uma ação violenta.

Lucas Nascimento, do Angola Janga, deixou um recado para os colegas brancos que passaram espancamentos por parte de policiais: “bem-vindos ao meu mundo”, disse. Barbara Egidio, uma das organizadoras da festa eletrônica Mikatreta, que foi detida por usar boné com a ilustração de uma folha de maconha, foi categórica: “levaram no camburão os dois pretos da rodinha”. A abordagem da polícia, que teve como objetivo revistar os organizadores em busca de drogas, ocorreu ainda durante a montagem do som da festa.

Durante a conversa foram relatados pelo menos 19 situações de truculência e constrangimento vividas pelos blocos de rua em Belo Horizonte. Confira abaixo a relação completa das abordagens policias:

  • Bloco Balai Lama (Santa Tereza): intimidação antes do encerramento;

  • Sede do PSOL (Praça da Estação): intimidação, ameaça, abuso de poder, voz de prisão e apropriação de celular por parte da PM;

  • Corte Devassa (Centro): intimidação e ameaça antes do encerramento do bloco;

  • Magnólia (Santo André): intimidação no final do bloco, ameaça e espancamento de um integrante por parte da PM;

  • Me Leva Felicidade (Conjunto Felicidade): ameaça, intimidação, uso da violência e fechamento do comércio;

  • Pisa na Fulô (Carlos Prates): intimidação e uso de violência no encerramento do bloco;

  • Pula Catraca (Floresta/Centro): intimidação, ameaça e uso da violência no encerramento do bloco;

  • Spiro Giro (Concórdia): intimidação e ameaça no encerramento do bloco;

  • Filhos de Tcha Tcha (Ocupações do Barreiro): uso descabido de violência (balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio etc) no encerramento do bloco com a prisão de dois inocentes;

  • SarraDá (Viaduto de Santa Tereza): intimidação e ameaça antes do encerramento do bloco;

  • Kandandu (Praça da Estação) – Encontro de Blocos Afro (Praça da Estação) – uso de violência no encerramento do bloco;

  • Palco oficial Guaicurus e Praça da Estação: intimidação, ameaça e uso de violência antes do término das atividades;

  • Bloco do Peixoto (Santa Efigênia): intimidação e ameaça no início e no final do bloco;

  • Mikatreta (Pista da Andradas): ameaça e intimidação no início e no final do bloco com detenção de duas pessoas;

  • Filhos de Gil (Santa Tereza): intimidação e ameaça antes do encerramento do bloco;

  • Fecha a Santa (Praça Raul Soares): intimidação e ameaça antes do encerramento;

  • Como te Lhamas (Barro Preto): intimidação no encerramento do bloco;

  • Uai Sound System (Nazaré): intimidação e ameaça durante o bloco e censura ao gênero musical