Camelôs engrossam protestos
Sem repressão, ambulantes fecham trânsito de ruas e avenidas do Centro e pedem para lojistas baixarem as portas
Por Lucas Simões
Pelo terceiro dia consecutivo, centenas de camelôs voltaram a protestar nesta quarta-feira (5/7) em Belo Horizonte para pressionar o prefeito Alexandre Kalil a recuar da decisão de tirar os ambulantes das ruas do hipercentro. Após intensa violência no primeiro dia de protestos, com excessos da Polícia Militar e 15 presos, os camelôs adotaram estratégia de ocupação pacífica de algumas das mais movimentadas ruas do centro para afetar o funcionamento das lojas e do trânsito e forçar a abertura de diálogo, confira a matéria do primeiro dia de protestos aqui
Os ambulantes prometem voltar às ruas nesta quinta-feira (6/7), dia marcado para o sorteio das primeiras 500 vagas que a prefeitura vai disponibilizar para camelôs em feiras de shoppings.
“Nossa intenção não é fazer nenhuma baderna. Nem agredir ninguém. Queremos marcar presença nas ruas. Decidimos abordar com educação os lojistas e fazer algumas intervenções, por exemplo, pedimos a alguns deles para abaixar as portas em solidariedade a gente. Tudo na conversa, na boa. Ficam pintando por aí uma imagem de que os camelôs aceitaram a proposta do prefeito e os que não aceitaram são bandidos, baderneiros, aproveitadores. Então, eu acho certo explicar isso para os lojistas e para o povo que passa na rua”, diz o ambulante Paulo Sérgio, 42, que há mais de dez anos atua no hipercentro da capital vendendo capas e acessórios de celular.
Por volta das 10h, os ambulantes se concentraram no cruzamento da rua São Paulo com Carijós. Alguns deles seguiram para a porta da Prefeitura, na rua Goiás. Mas a maior parte seguiu em passeata pelo hipercentro, passando pela avenida Paraná e rua Curitiba, interditando a via na altura da Galeria do Ouvidor e a pista do Move. Depois, seguiram em marcha até a Rua Tupis, em frente ao Shopping Cidade.
Em ato pacífico, dezenas de camelôs fizeram um abraço simbólico no Pirulito da Praça 7, interditando completamente o trânsito na Praça 7. A PM e a Guarda Municipal acompanharam o protesto, sem repressão.
O ambulante Wellington Silva, 29, questionou a urgência que a Prefeitura deu à retirada dos camelôs do centro. “O prefeito chegou agorinha e não entendeu que existe uma cultura aqui no centro, que não tem nada a ver com shopping Oiapoque, com essas ideias que sei lá de onde ele tirou. Se ele quer ajudar, deveria saber que eu ganho a vida há quatro anos vendendo cadarço de tênis e, honestamente, não posso parar de vender do dia para noite, esperando um box no shopping. Essa pressa toda de tirar a gente da rua não é boa coisa. É isso que a gente está questionando aqui”, disse.
Apesar de nenhuma confusão, um homem foi detido pela Polícia Militar (PM) por portar réplica de um revólver. No início da tarde, alguns camelôs tentaram remarcar uma nova reunião com a Prefeitura. Ontem, eles chegaram a se reunir com representantes da Secretaria de Regulação Urbana, na avenida Álvares Cabral, mas sem recuo do Executivo. Hoje, a assessoria de imprensa da PBH negou que haja nova reunião nesta quarta-feira (5/7) com os camelôs.