Carnaval dos carros
Tarifa Zero critica liberação do Faixa Azul e foliônibus com marca de cerveja
Por Petra Fantini
No dia 17 de janeiro, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, por meio da BHTrans, publicou a portaria DSV n.º 001/2018, que liberou a utilização de talão nas áreas de estacionamento rotativo durante o Carnaval, prática já adotada em 2017. O órgão justificou a liberação com base em “estudos técnicos realizados e os indicadores de utilização dos estacionamentos rotativos na capital”.
A medida foi imediatamente criticada por movimentos sociais, como o Tarifa Zero, que publicou nota na qual afirma que as políticas de mobilidade que beneficiam veículos individuais motorizados se fazem em detrimento dos ônibus, bicicletas e pedestres. O Tarifa Zero questionou que a liberação se dê durante o Carnaval, “uma época do ano em que campanhas insistem para que as pessoas deixem seus carros em casa, não bebam e dirijam, e sejam mais conscientes”, diz o texto.
“A liberação da faixa azul é uma das piores medidas que poderiam ter sido tomadas”, diz Juliana Afonso, membro do Tarifa Zero desde seu início, há cinco anos. “Principalmente durante o Carnaval, quando milhares de pessoas circulam nas ruas atrás de trios elétricos e baterias de blocos, a prioridade do transporte não deveria ser o carro”, completa.
Questionada, a BHTrans defendeu a liberação. Por email, a assessoria de imprensa do órgão respondeu que “não necessariamente quem usa carro nesse período quer dizer que vai beber. E também não quer dizer que vai para folia. Pode ir ao cinema. O rotativo está livre para todos. O uso responsável do carro deve ser uma questão das pessoas, afinal, há sempre o motorista da rodada”. A assessoria de imprensa afirma ainda que a meta é estimular o uso do transporte coletivo, “mas não podemos restringir o uso do carro pelo folião”.
A alternativa “pública” oferecida pela Prefeitura são os Foliônibus – veículos patrocinados pela marca de cerveja Skol, que circulam na avenida do Contorno durante a festividade desde 2016. O Tarifa Zero circulou, em 2014 e 2015, com seus próprios ônibus gratuitos, financiados pela venda de camisas, bolsas e botons do movimento. Os itinerários abrangiam também bairros da periferia da cidade. A iniciativa não seguiu adiante por falta de recursos.
A presença de uma cervejaria como patrocinadora do Carnaval de Belo Horizonte não é vista com simpatia pelos movimentos sociais e blocos. No último ano, as tensões se acirraram quando a patrocinadora tentou limitar as bebidas que poderiam ser vendidas na rua. A restrição prejudicaria principalmente a catuaba, que virou símbolo da festa.
Além disso, os movimentos não veem sentido em ônibus gratuitos cuja circulação se limite a avenida do Contorno e aos bairros mais ricos e centrais da cidade. Esse itinerário deixaria clara a função única de propaganda dos Foliônibus. “A gente não quer uma mobilidade gratuita que funcione como marketing para uma marca de cerveja. A gente quer política pública”, diz Juliana.