Cinco mil nas ruas
A capital mineira foi uma das cidades do país que mais levou pessoas à rua para lembrar o golpe de 1964
Por Leticia Villas
Belo Horizonte brilhou, vestida de preto. Cerca de 5 mil pessoas foram às ruas, relembrando o golpe militar de 31 de março de 1964 – ou seria 1º de abril, como algumas correntes dizem, e a desonestidade já começou aí?
Na Praça da Liberdade, cartazes com fotos de pessoas assassinadas pela ditadura militar e a frase “Tortura Nunca Mais” davam rostos ao horror. Inúmeros cartazes com frases como “Ditadura Nunca Mais” e um senhor que me emocionou com uma placa que dizia “Eu fui torturado”.
Tive vontade de ir até ele, conversar um pouco, dar um abraço. A dor que senti quando li a frase foi enorme. Fiquei olhando para ele por um bom tempo, tentando imaginar o que ele passou. Mas é impossível para mim. Acho que meu cérebro “trava” para me proteger. Na hora em que a caminhada chegou à porta do antigo Dops, a imagem daquele senhor, que vi na Praça da Liberdade, me voltou à mente. “Será que ele foi torturado aqui?”
Lá também pensei na ex-presidenta Dilma Rousseff, em tudo o que ela sofreu na vida não só enquanto lutava contra a ditadura como em seu cruel processo de impeachment.
Na porta da atual Casa da Liberdade, vi indígenas não deixando ninguém esquecer o massacre que este povo sofreu nas mãos dos ditadores. Vi mulheres com véus pretos, simbolizando as viúvas que a tortura deixou.
Enquanto estava em cima do carro de som fazendo as fotos que você vê abaixo, vi uma multidão descendo a Avenida Brasil, a imensa maioria de preto, todos querendo um país que tínhamos até pouco tempo, livre da ameaça de outra ditadura. Ou de atos e decisões que cheguem bem próximo disso.
Infelizmente a faixa etária de quem foi ao ato era tranquilamente de maioria com mais de 40 anos. Como disse o professor na matéria “As lições que não aprendemos”, já temos no mínimo uma geração perdida, que não acredita ou não quer acreditar no que foi a ditadura brasileira.
Qual caminho o Brasil vai seguir? É a resposta que eu queria ter. Enquanto isso, sigo na luta em boa companhia.
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