Coluna do Fulano


Por Duda Casarolli

Dois pesos

Para muitos que foram às ruas no ano passado gritar pela saída da presidente Dilma Rousseff, o governo do PT era ótimo para nossos vizinhos sul-americanos, e não para o Brasil. Diziam, com ar indignado, que estradas eram construídas na Bolívia, portos em Cuba, refinarias na Venezuela e canais no Panamá, “tudo com dinheiro brasileiro”. Agora que o BNDES voltou a financiar empresas que atuam no exterior liberando R$ 145 milhões para a Construtora Queiróz Galvão concluir a rodovia Pacífico-Atlântico em Honduras, não ouvi nenhum coxinha reclamar dessa política de Estado. Por onde será que anda então aquela galera verde-amarela, a turminha da panela, que tanto berrava contra isso?

Vida de gado

O massacre ocorrido no domingo passado (1º de janeiro) numa penitenciária de Manaus revela, sem retórica, o quadro horripilante da situação carcerária no Brasil. Se não for a pior do mundo, é difícil imaginar como seria a primeira em superlotação, corrupção, autogestão e barbárie. Diferente do que aconteceu no presídio do Carandiru em São Paulo, onde policiais invadiram e executaram a sangue frio mais de uma centena de detentos, no Amazonas se deu uma batalha entre facções rivais. Na verdade, o motivo das mortes já nem importa mais. O que mais choca nisso tudo é a desimportância das vidas no cárcere.

Modelo esquecido

Em Minas, já tivemos uma experiência que funcionou bem décadas atrás. O presídio agrícola de Neves, ou Penitenciária José Maria Alkmin, na região metropolitana de Belo Horizonte, chegou a figurar como modelo de instituição ao reintroduzir o preso na sociedade através da ênfase no trabalho. Prestes a completar 80 anos de existência, a prisão de Neves ainda se esforça para perpetuar as práticas do passado. Mas padece com falta de incentivos governamentais, precarização da estrutura e a interrupção de políticas de inserção social.

Por falar em Neves…

Vocês sabiam que o cartunista Henfil nasceu em Neves? A penitenciária é cercada por 64 casas – todas da época da construção – onde ainda vivem funcionários. Numa delas, a de número 21, nasceu Henfil em 5 de fevereiro de 1944. O pai de Henfil (e do sociólogo Betinho) era o então chefe do almoxarifado da penitenciária.

Rega-bofes

Uma amiga da coluna, com trânsito fácil no jet set nacional, listou os melhores anfitriões do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Na capital carioca colocou a estilista Lenny Niemeyer como imbatível pelo “conjunto da obra”: uma seleção de gente interessante do Brasil e do mundo, somada a uma casa de cinema e um serviço impecável. Em São Paulo, seria o empresário João Paulo Diniz, que adora receber e sempre em grande estilo. Em Belo Horizonte, afirma que não existe nada como uma festa produzida por Érica dos Mares Guia. Já em Brasília, acredite!, o melhor rega-bofe seria na mansão do senador Heráclito Fortes, o boca mole. Quem diria…

Frase da semana

“O amor tem a capacidade de despir dois amantes. Não um diante do outro, mas cada qual diante de si mesmo”

Do escritor e poeta italiano Cesare Pavese

Política e mundanidades

Duda Casarolli

Duda Casarolli é profissional de imprensa, conhecido por outros nomes em outros veículos.