Esporte caça corruptos


Por Ivan Drummond

Satiro Sodré / SS Press

Assistimos, nesse momento, o que nos dá a impressão de ser um país que queria ser passado a limpo, que queria realmente virar um país. Operações da Polícia Federal e da justiça, com “j” minúsculo mesmo, pareciam que nos levariam a ficar livres de políticos criminosos. Mas o jogo político parece reverter a situação que era um sonho de todos nós brasileiros. Por quê Polícia, justiça e políticos não seguem o exemplo do esporte?

O esporte começou, há muito, a fazer essa limpeza necessária. Primeiro foi a Federação Mineira de Judô (FMJ), em 2009, que afastou o então presidente, Antônio Costa, por formação de quadrilha, por cobranças abusivas de taxas.

Depois, veio a Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), que teve problemas com o dinheiro de patrocínio, sempre dinheiro público, que culminou com o afastamento de dirigentes. Um dos ex-presidente, Aécio Borba, que era deputado federal pelo Ceará, esteve à frente da entidade por quase 30 anos. Os abusos financeiros foram muitos e coube a um mineiro, Marcos Madeira, a missão, ao assumir a entidade, de acertar as contas. Está conseguindo. Virou exemplo.

Depois foi a vez da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que enfrentou problemas com o patrocínio do Banco do Brasil, que exigiu mudanças na direção. Um mineiro, Ricardo Trade, assumiu como CEO da entidade e fez uma série de mudanças, cortando gastos desnecessários. Apareceram os desvios, os desmandos.

O basquete, mais precisamente a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) acabou impugnada pela Federação Internacional de Basquete (FIBA), também por questões financeiras. Na verdade, constatou-se desvio de dinheiro de patrocinadores, entre eles o Governo Federal. Os desvios eram muitos e o Brasil assumia dívidas internacionais e não pagava. Foi preciso entrar um novo presidente, Gui Peixoto, que a primeira coisa que fez foi cortar gastos.

Para se ter ideia, a entidade pagava aluguel de R$ 10 mil de um apartamento, para o presidente da entidade, no Rio de Janeiro. Devolveu salas, celulares, cortou empregos de quem não trabalhava e acertou a forma de pagamento das dívidas internacionais. O Brasil, Seleção e clubes, que estavam proibidos de competir internacionalmente, voltaram a poder participar.

Também nesse ano explodiu a crise da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), de desvio de dinheiro, de verba pública que foi parar nos bolsos dos dirigentes. Foram detectados desvios de R$ 40 milhões. O presidente destituído, Coaraci Nunes, foi preso pela Polícia Federal. O Brasil não poderia, também nesse esporte, participar de competições internacionais. O problema foi sanado, com nova eleição, e hoje o Brasil tem a sua menor delegação no Campeonato Mundial, em Budapeste, com apenas 16 nadadores.

E não para por aí. Aqui em Minas, a Federação Mineira de Judô está diante de novo escândalo, com falsificações de passaportes, os documentos de cada judoca, tudo pela ganância de dirigentes. Resultado, a juíza da 19ª Vara Cível Maria de Fátima Álvares dos Santos decretou nula a eleição para presidente da Federação Mineira de Judô (FMJ), realizada em 11 de fevereiro. Para a magistrada, houve muitas irregularidades, inclusive a de integrantes da nova diretoria, Nédio Henrique Mendes da Silva Pereira, presidente, e um diretor, Wilson Novaes Filho, seriam portadores de dupla documentação.

Ou seja, o esporte está fazendo a limpa que o país deveria fazer.

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Ivan Drummond

Jornalista, cronista esportivo e cobriu as sete últimas edições dos jogos olímpicos