Eu também quero listar


Por Rafael Mendonça

Todo artista deve acreditar no seu potencial. Essa é meio que uma regra universal. Como é também a de que todo artista deve ser meio megalomaníaco e ousado. Um pouco instável, questionador e com umas pitadas de loucura. Esse pacote, na teoria, seria o suficiente para que o artista e sua obra fossem levados a sério.

Na música, então, deveria ser também regra a busca pelo novo. A inquietação, que trouxe a tona milhares de coisas geniais na história da música. Mas nem sempre é assim. Mais uma vez, no ano que passou, tivemos coisas radicais, inovadoras e surpreendentes, mas também coisas bonitas que não chegam a ser uma surpresa para se cair de quatro.

Segue aqui, com breves, comentários as coisas que achei mais legais neste ano de 2016 (em ordem de lembrança).

1- Rakta

A começar pelo Rakta, banda de três garotas que fazem um som punk, pós-punk, noise, sei lá o que, que fez um dos melhores shows do ano e tem discos altamente competentes e perturbadores. As moças são o espírito do ‘faça você mesmo’ e tocam demais. Fizeram turnê internacional pelos próprios meios e te chapam quando você as vê tocar. Não percam oportunidades em hipótese alguma.

https://rakta.bandcamp.com/

2- Metá Metá / Romulo Fróes / Clube da Encruza

É uma turma da qual sou suspeito para falar, já que tenho intimidade com o som e conheço o pessoal. Mas de qualquer forma estão fazendo um dos sons mais instigantes. Tanto o Metá Metá quanto o Passo Torto, ou os trabalhos solo da turma, são discos que entrariam em boa parte de “listas” por aí. E não são poucos. O disco do Romulo só com Nelson Cavaquinho é das coisas mais interessantes do ano, sobre o qual fiz uma resenha para o jornal “O Tempo” (http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/uma-releitura-transgressora-1.1250178). E ainda o disco com o César Lacerda, que se não tem a ousadia e nervosia do Nelson, apresenta uma séria de belas canções. O MM3 é um exemplo concreto de evolução e pensamento musical que não se acomoda. A turma tinha um caminho muito fácil de trilhar mas não se conformou e partiu para um desafio tremendo que é esse disco. Não deixem seus ouvidos perderem um movimento desse pessoal.

http://metametaoficial.com.br/

http://www.romulofroes.com.br/HOME.html

3- Negro Leo

O Negro Leo é outra pessoa que merece todo o respeito. Já vinha do excelente “Niños Heroes” e este ano soltou este “Água Batizada”. Uma pancada para quem tem ouvidos mais atentos. Tenho muita vontade de ver um show dele completo. Ainda não tive o prazer. O disco é uma potência.

https://negroleo.bandcamp.com/

4 – Juliana Perdigão

Tem uma artista que está pronta para voar. A Juliana Perdigão. Seu disco “Ó” é um petardo. Ritmos variados, intenso, com a participação da nata da música moderna brasileira. Os Kurva são uma das melhores bandas possíveis. O show tá cada dia mais em cima, bem dirigido, bem executado e bonito para danar. Passou da hora de cair no gosto do mainstream, se for isso que ela quer.

http://julianaperdigao.net/

5 – A galera de BH

Na música mineira escutei algumas coisas bem interessantes. A Giselle Couto do meio do samba soltou um EP bem bonito. https://www.facebook.com/coutogiselle

O Pedro Flores é, dos que ouvi, a coisa mais legal que foi lançada em Minas.

https://pedroflores.bandcamp.com/

O Jonathan Tadeu também lançou um discaço e fez um show memorável no Festival Transborda.

https://jonathantadeu.bandcamp.com/

7- As Bahias e a Cozinha Mineira / Liniker / Lineker / Jaloo

Importante falar da cena que está mais do que nunca em polvorosa. Eu tinha muitos problemas com as músicas em si, mas depois de uma “conferência” na SIM São Paulo passei a respeitar demais a turma toda. Com grande destaque para As Bahias e a Cozinha Mineira que musicalmente é para mim a mais interessante.

8 – Hip Hop

O Síntese e o Rincon Sapiência de São Paulo e o pessoal do rap do Nordeste são o que de melhor apareceu na cena. Nomes como Baco, Diomedes Chinaski, Carlos Gallo e inúmeros meninos que aparecem a todo momento são para ficar muito de olho.

9 – Disco que merecem ser citados, pois belos discos

– Donato Elétrico

– Topix – Céu

– Mano Brown – Boogie Naipe

– Arthur Verocai – No Voo do Urubu

– BaianaSystem – Duas Cidades

– Rico Dalasam – Orgunga

– MC Carol –Bandida

– Ruspo – Dourados State of Mind 

10 – O que falta

Sinto muito, mas vai faltar coisa, sempre falta. E também é importante dizer que ainda se faz muita música ruim no Brasil. Muita gente com preguiça que só reverbera um assunto. Para esses digo: respira fundo e racha aí turma.

Cultura e outras coisas

Rafael Mendonça

Jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.