Febre amarela e tiros dizimam macacos no Leste de Minas
Macacos estão sendo dizimados no Norte de Minas por tiros e febre amarela
A falta de informação e o surto de febre amarela estão dizimando os macacos da região leste de Minas e do Espírito Santo. Centenas já morreram vítimas da doença infecciosa, e nos últimos dias começaram a aparecer carcaças de animais abatidos por armas de fogo.
Uma imagem divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde no último dia 17 de janeiro mostra um macaco barbado (da espécie Alouatta guariba) que foi alvejado a tiros em Realeza, distrito de Manhuaçu.
O texto do cartaz enfatiza que o macaco não tem relação com a epidemia de febre amarela, na tentativa de esclarecer à população que, ao matar os primatas, não se acaba com a transmissão da doença.
Não há dados oficiais de quantos macacos morreram em função da doença, mas o professor de zoologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Sérgio Lucena, estima que o número deve ser de milhares.
“Posso falar com tranquilidade que estamos perdendo milhares de macacos. É uma tragédia ecológica. Provavelmente a maior mortalidade de macacos que se tem notícia na história da mata atlântica”, avalia.
Ele trabalha em um projeto de conservação de primatas na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Abdala, em Caratinga, onde são encontradas quatro espécies, que estão relativamente protegidas, por estarem em uma Unidade de Conservação.
De acordo com o professor, há uma equipe em campo para tentar identificar quantos morreram nas últimas semanas. O caso mais grave é dos barbados, cuja população estimada na reserva é de 800 a mil indivíduos. O professor acredita que três quartos (de 600 a 750) dos indivíduos tenham morrido. Lá também são encontrados o muriqui do norte, que está em perigo de extinção; o macaco prego (que tem mais resistência à febre amarela); e o sagui da serra (que só ocorre na região desse surto).
Segundo o professor, entre os macacos barbados (da espécie que foi encontrada morta a tiros), cerca de 80% dos infectados morrem com o surto de febre amarela. Eles são as espécie menos resistente ao vírus.
Sérgio Lucena esclarece que os macacos cumprem uma função importante, que é de alertar a população quando há um surto de febre amarela, já que eles são os primeiros a serem atingidos. “Acabam sendo um alerta, uma sentinela. Há relatos de que a morte de macacos em Minas começou no ano passado, em setembro, outubro. Se houvesse um sistema de monitoramento sanitário, a gente já teria diagnosticado esse surto, e o bloqueio vacinal (nos humanos) poderia ter começado antes”, explicou.
A Febre Amarela é uma doença infecciosa grave, causada por vírus e transmitida por mosquitos. Em áreas florestais e rurais, os principais vetores são os mosquitos Haemagogus e Sabethes. Já nas cidades, o principal vetor é o Aedes aegypti.
O professor explica que a responsabilidade por espalhar o vírus é erroneamente atribuída aos macacos, mas isso não condiz com a realidade. “Os macacos são muito sedentários. O vírus não está viajando por intermédio dos macacos. Já os mosquitos podem voar até cinco quilômetros de uma mata para outra, eles podem ser levados por ventos. Outra possibilidade de levar o vírus para outros locais é pelos agentes humanos. Nós temos uma mobilidade ainda maior que os mosquitos”, enfatiza.
Para o professor, será necessário investir ainda mais em ações de conservação dessas espécies e, se os casos de assassinatos de primatas aumentarem, será ainda mais difícil preservar essas espécies.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, até este domingo (20) foram notificados 272 casos suspeitos de Febre Amarela, sendo que desses 47 são casos confirmados. Há 71 casos suspeitos de mortes de pessoas relacionados à doença, e 25 já foram confirmados.