Hoje o dia é de luta!


Por Silvana Mascagna

Não nos deem flores, chocolates ou presentes hoje. Nem parabéns. Não nos façam homenagens. Não digam que somos seres iluminados ou especiais. Queremos e lutamos por dignidade, respeito e direitos iguais. Queremos ser donas do nosso corpo. Queremos ditar nossas próprias regras. Queremos ganhar o mesmo salário tendo a mesma função. Não queremos ser assassinadas, estupradas, violentadas, espancadas, assediadas, apalpadas, humilhadas, discriminadas, rotuladas, objetificadas.

Não queremos sequer ouvir sua opinião sobre nossas questões. Não queremos machos metendo o bedelho na nossa luta. Queremos que vocês nos ouçam e, se concordarem com nossas reivindicações, cerrem fileiras conosco. Do contrário, fiquem onde sempre estiveram. Imagino que esse lugar que ocupam nestes séculos todos seja mais confortável para vocês. Ao nosso lado, é incômodo, insuportável até, principalmente neste momento em que nossa luta se escancara. Agora, em que não estamos mais dispostas a baixar nossa cabeça e dizer amém para “suas verdades”. Em que denunciamos, com mais frequência, seus atos opressores, do mais banal ao mais hediondo. Estamos levando porradas verbais e físicas por conta disso. Faz parte da luta, sabemos disso. E se tem uma coisa que a gente entende é de levar porrada. Então, que seja por estarmos nos colocando no nosso lugar.

Se houvesse uma mágica para vocês viverem verdadeiramente na nossa pele por um tempo, talvez compreendessem o posto privilegiadíssimo que ocupam, e como estar neste posto faz de vocês cegos para os nosso anseios.

Não doure a pílula: vocês são os opressores aqui. E, a não ser que vocês estejam dispostos a se libertarem dessas vestes, vocês são carta fora do baralho na nossa luta.

Não é tão simples de compreender, principalmente para os se autoinitulados “não machistas cheios de boas intenções”. É um exercício de reflexão diário, que exige muita dedicação e empatia.

Nós que sofremos na pele o que é viver sob séculos e séculos de patriarcado temos nossos próprios conflitos e não estamos dispostas a olhar pra vocês neste momento. Estamos ocupadas demais com nossa luta por igualdade política, social e profissional. E ela é enorme e cruel. Temos que honrar todas aquelas que vieram antes de nós nessa batalha!

Não queremos presentes nem parabéns porque não há motivos para comemorar. Estamos de luto pelas mulheres que morrem diariamente vítimas do feminicídio.

O dia é de luta!

Crônica

Silvana Mascagna

Jornalista paulista, que escolheu Belo Horizonte há 20 anos para viver