MINI DOC
A Foto é um minidoc de Homero Gottardello sobre as eleições de 2016 para a Prefeitura de BH, e os motivos da derrota de João Leite (PSDB), apoiado por Aécio Neves, para o estreante Alexandre Kalil (PHS).
Independência e dinamismo na produção de conteúdo
Com seu primeiro minidocumentário, “O Beltrano” dá um olé na mídia tradicional e nos jornalões, apontado para o modal de comunicação mais buscado na web
O jornal “O Beltrano” dá, hoje, mais um passo para sua consolidação entre os mais importantes veículos da nova mídia independente. Com nosso primeiro minidocumentário, “A Foto”, experimentamos um formato que, antes da revolução digital, era uma exclusividade do cinema e da televisão. “O vídeo é, hoje, o modal de comunicação mais buscado, na web, e também o que alcança maior engajamento”, avalia o produtor e diretor do minidoc, Homero Gottardello. “Enquanto a grande mídia e os medalhões do Jornalismo parecem perdidos, ancorados em problemas administrativos, o dinamismo dos canais autônomos dá uma grande lição em relação à produção de conteúdo. O engessamento dos jornais é enorme e nenhum deles consegue criar um minidocumentário como este, sem um verdadeiro batalhão de colaboradores – um roteirista, um repórter, uma equipe de filmagem, ilustradores, um editor e um arte-finalista. Aqui, eu fiz tudo sozinho, com um custo infinitamente inferior e uma execução mais ágil”, acrescentou.
Sobre a escolha do tema, o “O Beltrano” buscou um assunto dentre seus “domínios” e, como dita a cartilha do novo Jornalismo, deu a ele um tratamento analítico, convidando os mais qualificados profissionais da cobertura política de Minas Gerais para entregar ao leitor uma análise concisa, uma visão verdadeira, embasada única e exclusivamente nos fatos – sem partidarismo ou servilismo. “O contraponto de opiniões é uma coisa muito importante para o conhecimento humano, mas a mídia tradicional, os jornalões, foram demonizando essa polifonia de ideias e se tornando cada vez mais maniqueístas”, pontua Gottardello. “Quando convidei o Ricardo Corrêa, o Orion Teixeira e a Alessandra Mello, sabia que teria um mosaico de opiniões gabaritadíssimas sobre as eleições municipais do ano passado, em Belo Horizonte”.
“A Foto” revela a anatomia de uma derrocada. Quando o primeiro turno da eleição municipal de 2016 terminou, na capital mineira, a vitória do candidato do PSDB, João Leite, parecia certa. O que pouca gente imaginava é que a vantagem de quase sete pontos percentuais sobre o ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil (PHS), seria dissipada em menos de um mês, tempo suficiente para uma virada histórica – a primeira registrada em um segundo turno, na capital mineira. Com quase 53% dos votos válidos, Kalil não só tirou a desvantagem de 81.100 eleitores que teve na primeira fase da votação, como acrescentou outros 70.800 votos na conta de João Leite.
“Mas o que estaria por trás da derrocada do tucano?”, indaga Gottardello. “Ao que tudo indica, esta virada começou com a divulgação de uma simples fotografia”.
Apenas um dia depois do encerramento do primeiro turno, lideranças do PMDB se apressaram em embarcar na campanha de João Leite. A ala peemedebista foi encabeçada pelo deputado federal Rodrigo Pacheco, terceiro mais votado no primeiro turno, e pelo vice-governador Toninho Andrade. Na foto que ganhou as manchetes, no dia 4 de outubro, os sorrisos de quem enxerga no horizonte uma vitória esmagadora emolduravam os rostos de aliados e caciques, entre eles o senador Aécio Neves. Mas por trás de tanta alegria, a associação da imagem de João Leite à de Aécio parece não ter feito bem para o candidato a prefeito.
“A rejeição do eleitor mineiro a Aécio, nas últimas eleições estadual e presidencial, foi flagrante, decisiva e voltou a se fazer sentir. Indicado pelo senador, o candidato ao Palácio da Liberdade, Pimenta da Veiga, foi derrotado no primeiro turno – quanto teve 41,8% dos votos”, lembra o produtor e diretor do minidoc. “Semanas depois, o próprio Aécio voltou a sentir a reprovação em seu próprio Estado, na derrota para Dilma Rousseff. Não foi um, mas sim dois sinais claríssimos da refutação ao seu nome”.
De volta à eleição municipal do último dia 30, na primeira pesquisa do segundo turno, feita pelo Instituto Paraná, João Leite ampliava para oito pontos percentuais sua vantagem sobre adversário do PHS. Mesmo cenário apurou o Datafolha, que ouviu os eleitores belo-horizontinos uma semana depois, no dia 12, com 36% das intenções de voto para o tucano e 29% para Kalil. Mas apenas uma semana após a fatídica foto do conchavo ganhar a mídia e as redes sociais, o revés já era apontado por todas as consultas ao eleitorado. E elas antecipavam a derrota – sua terceira à prefeitura – do peessedebista.
Dois dias depois, uma pesquisa do Datatempo já colocava o ex-cartola à frente de João Leite na disputa, com quase 34% das intenções de voto. Ibope e Datafolha se alternaram em mais cinco pesquisas, apuradas entre os dias 20 e 29 de outubro. Em todas elas, Kalil figurou sempre em primeiro, abrindo até seis pontos percentuais de vantagem sobre o tucano – a maior margem foi apurada há 10 dias do segundo turno, com 41% das intenções de voto para o candidato do PHS, contra 35% do peessedebista.
Ao final, a vitória de Kalil, com 42,2% do eleitorado (53% dos votos válidos), já era mais do que aguardada.
“Esta produção é importante porque, além da análise do fenômeno do ano passado, ela aponta para as próximas eleições, de 2018, que surgem como grande desafio para João Leite e Aécio. Enquanto primeiro terá que se esforçar para conseguir emplacar mais um mandato como deputado estadual (suas votações vêm caindo de 94.656 votos, em 2006, para 84.316 votos, em 2010, e 63.623 votos, em 2014), o segundo deve ficar de fora da chapa tucana que tentará a presidência”, disse Gottardello. E em um cenário político cada vez mais rachado, “A Foto” pode se tornar até mesmo uma fonte de consulta para o eleitorado mineiro, já que alguns dos personagens da imagem que inspirou este minidoc devem pedir seu voto, a partir de julho.