Lá atrás e na frente outra vez

Entrevista com Aluizer Malab, conhecido produtor de eventos da cidade e presidente da Belotur desde a posse de Alexandre Kalil na Prefeitura, no ano passado


Por Rafael Mendonça e Petra Fantini

Foto: Rafael Mendonça

Aluizer Malab, conhecido produtor de eventos da cidade, é presidente da Belotur desde a posse de Alexandre Kalil na Prefeitura, no ano passado. Seu maior desafio à frente do órgão é, evidentemente, a organização do Carnaval, maior evento turístico e festivo de Belo Horizonte. Nessa entrevista, Malab fala do esforço de coordenação de mais de 30 órgãos da Prefeitura, do diálogo estabelecido com os blocos, do apoio às escolas de samba, do caráter contestador do carnaval belo-horizontino, de patrocínio e de camelôs, entre outros assuntos.

O Carnaval em Belo Horizonte sempre gerou muita rusga entre blocos e Prefeitura. Houve uma evolução?

Eu cheguei aqui dia 13 de janeiro do ano passado, com o Carnaval pouco mais de um mês adiante. Todo mundo querendo saber o que seria essa nova gestão. A gente ouvia, fazia as proposições e pedia um voto de confiança. Acho que foi a melhor maneira. E o fato de eu ser produtor, de não ter uma vida política, favoreceu o crédito. Acho que esse voto de confiança teve um peso muito grande nas nossas relações.

Mas atritos e problemas sempre vão existir, né?

Não deixamos de ter problemas, mas melhoramos muito a relação. Prometemos que a gente faria um Carnaval permanente e fizemos. No ano passado, o Carnaval terminou em 18 de março. A gente deu uma trégua no restante de março e, no início de abril, começaram as reuniões com todo mundo. Então, acho que foi uma relação construída.

Mas como lidar com a natureza contestadora do Carnaval de BH?

O Carnaval nasceu na resistência, mas mesmo os blocos que foram os ‘originais do samba’ nessa resistência se profissionalizaram muito. Eles têm um trabalho perene agora, têm cursos, isso e aquilo, formaram banda. Não deixaram de ter o viés político — e muitos ainda têm —, mas eu acho que todo mundo tem noção de que nosso Carnaval está muito forte. Eu não gosto muito da palavra “consolidado”, mas ele está muito bem estruturado e posicionado. E essas coisas você perde da noite para o dia, acho que todo mundo tem essa noção.

Mesmo discordando de alguns pontos de vista?

Por mais que a gente esteja no poder público, está todo mundo do mesmo lado. A gente vai discutir posicionamentos daqui e dali, mas só tem um lado. Todo mundo quer esse Carnaval. Quem está envolvido e organizando, quem gosta desta cidade, quem pensa que a gente não tem só o Carnaval, que tem verão, geração de emprego, renda… Eu tenho certeza de que todo mundo quer o Carnaval.

Você acha que essa visão “não política” – com o risco de ser um pouco pejorativo – ajudou a trazer novos ares para a Belotur?

Eu acho que o Carnaval me ensinou muito. Toda a minha experiência anterior (como produtor) foi com grandes eventos, mas com limites, cercado, onde eu sempre pude dimensionar o público e me estruturar dentro daquela situação. É um negócio mais previsível. Já o evento de cidade não tem fronteira. Você não pensa em público, mas em população. Vou te falar, eu fiquei com o cu na mão, pensando: ‘cara, isso pode dar muito errado! E essa conta vai vir pra mim, pro prefeito, pra todos nós!’ A gente virou noites e noites e noites. Eu tinha a sensação de que eu não podia dormir mesmo.

E qual foi o resultado?

A gente desenvolveu uma metodologia que sempre apliquei na minha vida, que é de integrar. Ter uma equipe bacana e botar todo mundo junto. Eu não acredito nessa história de ficar do alto do pedestal dizendo o que tem que fazer, porque desse jeito não acontece mesmo. Você dá a ordem e, lá na ponta, a coisa não sai do jeito que você quer. Ou você traz todo mundo pra entender por que a gente precisa fazer aquilo, para gerar responsabilidade lá na ponta, ou esquece. Como diz um amigo, quando o evento começa, ele ganha vida e acabou. E a gente trabalha para que ele ganhe vida de forma integrada, organizando realmente do lado de cá, com quase 30 órgãos.

A expectativa oficial é muito otimista: três milhões e meio de pessoas, e 500 mil turistas. Você acha que esses números vão se realizar?

Na verdade, esses são números do nosso período oficial de Carnaval, que vai de 27 de janeiro até 18 de fevereiro. É muita gente, mas eu acho que periga a gente bater esses números. A rede hoteleira na região Centro-Sul chega a mais de 90% de ocupação. Nosso Carnaval já está mais procurado por turistas do que o de Recife. É uma situação boa pra caramba, mas, com a dimensão que tem, acho que a gente tem que pensar melhor, buscar mais organização, mais investimento, mais conscientização. Para além dessa coisa que eu falei de geração de emprego e renda, acredito na conscientização do cidadão. São tantas campanhas: do banheiro, do lixo, do assédio, que eu acho que é um exercício. A gente já tem uma estrutura pensada para 2019, que vai dar mais vazão a isso. A gente já tem a ideia formada do que queremos e uma proposta para 2019.

E como trabalhar a tradição das escolas de samba e dos blocos caricatos com o claro domínio dos blocos? BH já teve o segundo carnaval de escolas do Brasil…

Teve. A cidade já teve escola de samba com 1,3 mil integrantes. Nos anos 80, eu frequentava um bloco caricato. Então, tenho isso no radar, gosto daquilo ali. Nunca fui muito de avenida, mas a parte dos ensaios era legal. Desde a nossa chegada, foi muito pouco o que a gente pôde fazer, mas melhoramos o som, e eu fui verdadeiramente pra avenida. Fiquei as duas noites lá, observando, tentando entender como a gente pode contribuir na linha do espetáculo. Porque as escolas diminuíram. Elas precisam muito de um auxílio financeiro para acontecer. Bem diferente dos blocos de rua, que se organizam com maior facilidade que essas comunidades. Além daquele trabalho social de ano, que é outra história. É preciso um olhar, um carinho e uma construção, porque não é tão difícil essa retomada do nosso Carnaval. É só uma questão de estímulo. Vamos ter, já em 2018, uma surpresa muito positiva em relação a 2017. Eu sei disso. Eles estão descendo…

divulgação

Como assim?

A gente conseguiu incrementar em 50% a subvenção, mas não só isso. Algumas coisas eles terão para este ano, que são significativas, como pintar a avenida de branco, melhorar a iluminação e dar uma dinâmica melhor ao espetáculo. Antes, as escolas e os blocos marcavam os horários (de início do desfile) e só saíam naquele horário. Isso adormecia a avenida, não pode! Então, agora é assim: entrou, desfilou, a SLU passou, apitou, entrou o outro. São pequenas coisas que você vai fazendo. E a gente fez mudanças na relação dos rebaixamentos, que eu acho que acirra um pouco mais essa disputa saudável. E aí vamos avançar. Acho que não adianta somente a subvenção.

A grana e a crise continuam sendo o grande empecilho?

Só pra ter uma ideia, em 2017 a Prefeitura teve um orçamento de cerca de R$ 9,5 bilhões, e na gestão passada chegou a ter R$ 14 bilhões e pouco. Então, o principal passo a ser dado é dar a vara e ensinar a pescar, estabelecer a relação com esses blocos e escolas, mediar isso aí com a iniciativa privada. Isso vai ser um grande avanço. Mas, nesse primeiro momento, a gente tem que dar uma estruturada e voltar a ter algo. A avenida fica cheia, as pessoas vão! A gente quer ter chamamento, cobertura televisiva, que é uma coisa que dá um outro gás. A gente tem um carinho enorme com a avenida e entende que a avenida precisa, neste momento, de maior proximidade para que eles possam melhorar a musculatura.

Antes, os editais não eram discutidos, e agora passaram a ser. A ideia é democratizar essa relação com os blocos?

O prefeito fala que se a gente não atrapalhar, já ajuda. Às vezes, o poder público, mesmo no intuito de ajudar, avacalha tudo. Na questão dos blocos de rua, a gente respeita muito a questão da manifestação espontânea. Mas, também, o auxílio e tudo mais é uma preocupação, porque quando o cara começa a ter 200 mil pessoas (no bloco), e gerando um som só lá no meio, só aquela turminha em volta que consegue (ouvir). Poxa, aí tem aquela questão da cidade, né. Se eu melhorar um pouquinho com auxílio financeiro pra sonorização e mais pessoas conseguirem (escutar), isso tem várias vantagens. Então, a gente tenta dar alguns auxílios, incluindo, nessa questão da sonorização, de músicos e tudo, também a necessidade de banheiro, limpeza. Às vezes, um gradil, uma proteção. Na verdade, há uma preocupação que o desfile aconteça, que tenha condição de receber, mas também que as pessoas que ali estão possam curtir. E isso melhora a qualidade do nosso Carnaval.

Mas e a questão da democratização?

A gente está tentando ouvir, ouvir e ouvir. A nossa escuta foi permanente, e não será diferente. O Carnaval termina, pra gente, no dia 18. Nós vamos dar mais uma trégua neste finalzinho de fevereiro, e começar em março. A gente quer imprimir mais avanços do ponto de vista do tempo. Nós vamos lançar nossos editais mais cedo em 2018, visando 2019, porque isso facilita muito a vida. Por uns probleminhas de documentação, a gente teve que cancelar um primeiro (edital) de patrocínio e reabrir o processo. Era pra gente ter concluído essa história em meados de novembro, ou menos, e a gente acabou concluindo pertinho do Natal. Saber quanto tínhamos pra poder fazer as coisas nos atrasou muito. Ficamos um mês aí fazendo loucura, tudo com prazo curto de editais, que atrapalha todo mundo lá na ponta. Especialmente as escolas e os blocos, que receberam dia 29. Mas são os prazos legais. E a gente sabe que diferença faz conseguir repassar o auxílio financeiro pra eles no início de dezembro, ou em novembro. Nunca aconteceu. E também nunca receberam antes do Carnaval. A gente conseguiu fazer. Mas sabemos a diferença que faz ter esse recurso dois ou três meses antes.

Esse edital, inclusive, foi uma arrecadação de R$ 3,5 milhões…

Três milhões e meio (de reais) em verba, em torno de R$ 5,5 milhões em encargos. Nós saímos de R$ 1,5 milhão. Quando a gente chegou aqui, quando o prefeito assumiu, existia uma conversa com o patrocinador que era de R$ 1 milhão, vinda do (gestor) anterior. Quando a gente forçou a mão, conseguimos chegar a R$ 1,5 milhão. A gente melhorou, ali, 50%. Agora, nós saltamos de R$ 1,5 milhão para R$ 9 milhões. Nove, nesse patrocínio oficial que veio com a Uber e a Ambev. Mais um edital que a gente fez de pequenos auxílios para parceria e apoio, mais investimento que é nosso direto, da SLU, da guarda, da saúde, da BH Trans, que a gente faz dos nossos serviços, e mais os patrocinadores que estão apoiando, patrocinando blocos e eventos. Eu te digo que o nosso Carnaval é de mais de R$ 20 milhões. Não é só a mudança do status de estar entre os seis principais destinos de Carnaval do país, não. A gente atingiu um status de organização, de orçamento, de frequência, de entrega — de tudo — bem madura mesmo.

fotos: Amira Hissa

Carnaval de BH tem um espírito transgressor. Como lidar? Vocês pensam em conversar isso com a turma, incluir esse tipo de debate nas conversas?

Antes, a gente chegava aqui e grandes blocos não se cadastravam. Hoje, a gente tem quase 100% dos blocos cadastrados. O que significa o cadastro? É essa possibilidade do diálogo, de discutir o trajeto, de entender melhor a expectativa de público, de entender a demanda da turma e tudo mais. E esse discurso de “bloco de rua é manifestação espontânea”, ah, na boa? A gente trabalha para dar condição pro bloco. A manifestação é do bloco. Agora, tem a responsabilidade e tudo mais. Nós estamos aqui para viabilizar a manifestação. Agora, daí por diante, se o sujeito acha que precisa transgredir, precisa pular catraca ou qualquer coisa, aí é uma questão de legislação. Se coloca segurança, se tem risco para a sociedade, isso já não é nosso assunto. Isso é assunto da polícia, é assunto da guarda (municipal), desses que têm que manter a ordem. E acho que todos que têm essa postura sabem o que querem provocar. Eles sabem o que vão enfrentar e conseguem medir a consequência disso. Volto a dizer: a gente tem o diálogo.

Outro bloco que costuma fazer isso é o Tchanzinho Zona Norte. Teve uma conversa com eles este ano?

Sim, a gente conversou com todos. Nós sabemos quem são os coordenadores. Vocês já viram o georreferenciamento? É muito legal! A forma de trabalho, que acaba sendo quase uma linguagem. Antes, cada órgão se organizava nas planilhas, de uma forma. Desde o ano passado, a gente introduziu isto de que todo mundo vai pelo KLZ, que são camadas. Ali a gente tem todos os blocos, mesmo os não cadastrados. Mas a gente sabe quem é o coordenador, onde ele está divulgando pra sair, a gente sabe possibilidade de alagamento — está tudo mapeado —, árvores que têm risco de queda, zona de wi-fi, hospital, posto de polícia ou de saúde. A gente vai crescendo isso e, quando seleciona tudo, tem uma fotografia de toda a cidade. Dali a gente vai tentando até mesmo propor mudança de circuito. “Olha, tem sobreposição. O seu bloco vai encontrar com o dela ali, e não vai ser legal pra nenhum dos dois, vai confundir a coisa, vai dar uma pororoca humana. Você não quer mudar de horário, ou mudar de dia, ou sair em outro trajeto? Você sai pra lá, o outro sai por aqui.” A gente sempre propõe. A maior parte escuta e acaba enxergando.

E a questão da descentralização?

A gente tem estimulado muito a descentralização também. Porque a maior parte quer ficar no Centro-Sul. E, na hora que você vê o mapa, você fala “cara, tá tudo aqui”. O Barreiro não teve (blocos) no ano passado, também a Pampulha. É importante ter. Então nós estamos estimulando muito, colocando palco também. A gente só tinha três palcos nossos, que são de eventos nossos, feitos pela Prefeitura/Belotur. Agora são sete. Então, nós fomos para Venda Nova, fomos para o Barreiro. A gente vai tentando puxar essa turma para outros cantos, que é gostoso. Você tem o Barreiro com 400 mil pessoas naquela região que não tem (blocos). Se você faz alguma coisa, você tem chance de estourar ali, de ter um desfile maravilhoso, porque tem público, porque tem demanda.

Mas o Pena de Pavão fez um ensaio lá no Barreiro e tomaram porrada da polícia. Como evitar essas, vamos chamar assim, “falhas de comunicação”? A Belotur pode ajudar?

A gente faz isso.

Como?

A gente trabalhou muito com planejamento. Nós estamos entregando mesmo. Como em todo planejamento, ajustando uma coisa dali, mas tudo dentro de um cronograma, de uma previsibilidade e tal. E como são muitos órgãos, são quase 30 órgãos que compõem essa organização e realizam esse trabalho — e a polícia é uma delas —, se tem uma coisa que eu acho que é responsabilidade da Belotur, é essa articulação. A gente tem que distensionar.

Nessa semana teve a coisa do Corpo de Bombeiros, que queria proibir blocos e tal. Como fica a Belotur nisso?

Agente teve um choque de pontos de vista e de comunicação com o Corpo de Bombeiros. Porque a gente inscreve os blocos, faz uma primeira rodada, depois vem colocando os eventos. Fazemos então uma segunda rodada de validação de circuito, e é esse momento em que a gente negocia. E quando os Bombeiros, no início da semana passada, falaram a respeito, disseram que ainda faltavam cerca de cem blocos. Mas há uma colocação interpretada aí, ou talvez dita, da possibilidade de não sair. Na verdade, não é isso. A verdade é que eles (bombeiros) identificaram, e eles estão certos, e o nosso cronograma estava certo, que ainda faltavam esses — como ainda faltam alguns, mas a gente já avançou muito.

Mas como desembolar isso?

O que a gente fez? Nós chamamos o comando aqui e aí conversamos. Falamos assim: “Olha que interessante! Nós estamos falando sobre o mesmo assunto, mas a forma de dizer (é diferente)”. Uma coisa que foi bom é que as nossas assessorias têm que estar mais próximas. Você imagina os blocos que ouviram que eles tinham a possibilidade de não sair depois de um ano de conversas aqui, de estar tudo alinhado… Isso é coisa que põe em risco uma relação. Assim como a imprensa nos ligou pra saber disso, os blocos foram os primeiros: “Que diabo é isso?” E eu falei: “Cara, não existe a menor possibilidade de ninguém deixar de sair! Relaxa, que isso é um problema de comunicação”. E, quando a gente trouxe o comando do bombeiro aqui pra uma conversa, ficou claro isso. Ninguém, hoje, é contra o Carnaval de Belo Horizonte.

Mas e se o sujeito é contra carnaval, fica como?

Cara, se eu não posso sair da cidade, a gente criou aqui, este ano, de uma maneira muito pensada, em estimular a programação off para quem não quer (Carnaval). Então, a gente tem política de desconto de restaurante, e todos os equipamentos que estão abertos. Tem também uma preocupação com o trânsito. Se você quiser não participar de nada, tem uma programação no aplicativo pra você ficar na sua, entendeu? Cinemas, museus, parques — você consegue favoritar ali, fazer a sua programação e correr do Carnaval. Mas o que a gente precisa entender como cidade é a importância do Carnaval, a importância que esse modelo pode nos dar em termos de cidade.

Existe uma disputa com outras capitais?

A gente está no meio do Sudeste, sem praia. Então, é muito difícil disputar com São Paulo e Rio em termos de procura. A gente tá tranquilo com isso. Mas nós temos o mesmo número de desfiles que tem o Rio de Janeiro, com uma entrega muito mais bacana. Eu não estou falando de avenida, do “maior espetáculo do mundo, da Terra”, que o povo fala. Eu estou falando de Carnaval, dos mortais. Porque, também, o Sambódromo é um negócio muito restrito, né? Ele traz muito turista, ele traz muito não-sei-o-quê, mas a cidade, como um todo, não está lá. Agora, hoje, a cidade está aqui, e eu acho que a gente está conseguindo fazer uma festa. Eu até acho que isso, pelo fato de a gente ser mais recente, essa história com essa cidade tão movimentada, está todo mundo aprendendo junto a fazer, sabe? Está todo mundo curtindo esse movimento.

Os ambulantes sempre foram outro ponto de atrito. Como lidar com eles, uma parte tão importante dessa engrenagem?

Os ambulantes são uma questão dentro de todos os eventos de grandes cidades, porque eles não têm autorização para trabalhar, não é uma atividade regulamentada. Durante o período do Carnaval, a gente entende que dá pra trabalhar de uma forma autorizada, e a gente cadastra esses caras para ter também uma interlocução. São quase dez mil. A gente tem a possibilidade de fazer um treinamento, de falar pro cara: olha, cuide do seu lixo. Garrafa, jamais. Eles têm uma credencial que, no verso, tem toda a regulamentação. Não pode travar trio. E, na ponta, criar até uma interlocução mais educativa em termos de cidadania, entendeu? O cara opera na cidade e está acostumado a só tomar porrada. Hoje, pelo menos neste período, a gente consegue ter um exercício mais cidadão, de falar: “cara, você vai poder fazer isso, mas não pode trabalhar com comida, porque a Vigilância (Sanitária) não permite. A bebida é fracionada…” O cara, pelo menos, ouve algumas coisas. A gente tem os números. Eu acho que o faturamento médio do ambulante em 2017 era entre R$ 4 mil e R$ 5 mil durante o Carnaval. Cara, não é só o ambulante não! É pai de família fazendo composição de renda. Num momento desses, de crise, você vai criando um diálogo. E eles também começam a participar de uma forma.