Lula versus Temer

Discurso de abertura da Caravana de Minas mostra que estratégia de Lula é se comparar ao atual presidente


Por Kerison Lopes

Enviado especial de O Beltrano

Fotos: Ricardo Stuckert

A estratégia é clara: Lula, que lidera as pesquisas da corrida presidencial de 2018, insistirá na comparação entre seu governo e o de Michel Temer. O discurso foi adotado na caravana pelo Nordeste, no mês passado, e será repetido ao longo desta semana em Minas Gerais. “Para que a gente possa fazer uma medição do que era o Brasil há pouco tempo e o que está virando o Brasil hoje”, disse ontem o ex-presidente.

Lula, acompanhado pela ex-presidenta Dilma Rousseff, deu início na noite de ontem (segunda-feira, 23/10), em Ipatinga, à Caravana do Lula por Minas, que percorrerá durante uma semana cidades dos vales do Aço, Rio Doce, Jequitinhonha, Mucuri e do Norte de Minas, até chegar a Belo Horizonte, na próxima segunda-feira. Além dos ex-presidentes, participaram do comício Fernando Pimentel (PT), governador de Minas, e a senadora Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT.

No palanque, Lula disse conhecer mais a região “do que muito político mineiro”. E foi tirando da memória episódios que viveu em Minas e que ajudaram a construir a sua história política. Lembrou das muitas vezes que esteve em Ipatinga, cidade que o PT já governou por quatro vezes, e em várias outras cidades da região industrial e operária do Vale do Aço.

Fotos: Ricardo Stuckert

Ele usou a Usiminas, principal indústria da região, para exemplificar a gravidade da crise econômica. “Quantos empregos a Usiminas gerava e quantos está gerando hoje? Quanto de aumento de salário os trabalhadores recebiam e quanto estão recebendo agora? Qual a expectativa da juventude brasileira há cinco anos atrás e qual o pesadelo da juventude brasileira nos dias de hoje com o governo golpista?”, disse.

O ex-presidente defendeu um plebiscito revogatório das reformas implementadas por Temer que atingem os trabalhadores. “A gente tem que pedir a autorização do povo para mudar o que eles fizeram, senão, a gente não consegue governar esse país”.

Mas o discurso mais duro contra Temer partiu da ex-presidenta Dilma, que concentrou suas críticas às ameaças contra a soberania nacional. “Na próxima sexta-feira, eles vão pela primeira vez vender poços de petróleo sem a presença obrigatória da Petrobras”. Dilma também criticou a mudança na a política de conteúdo local para equipamentos do setor de óleo e gás, “que era para garantir empregos de qualidade no Brasil e não exportar estes empregos”.

“E eles não param por aí. Também abriram a possibilidade de vender as nossas terras férteis para estrangeiros. É para isso que o golpe foi dado”, disse Dilma.

Fotos: Ricardo Stuckert

No palanque, a presença do presidente da Assembleia Legislativa, o peemedebista Adalclever Lopes, espelhava a atual composição de forças do governo Pimentel. Adalclever disse ter ido ao ato para “carregar Lula no peito, porque ele mudou a condição social do país e deste estado”.

Público

Segundo a Polícia Militar, quatro mil pessoas estiveram na Praça dos Três Poderes. A organização não estimou a presença de público. Entre os presentes, um casal destoava dos militantes com camisas vermelhas. Ressabiados, Zilda Marcelina, de 73 anos, e José Dias Gomes, de 76 anos, estavam ali exclusivamente para ver Lula “porquê a gente gosta demais dele”, explicou o marido. Mais falante, Zilda começou a comparar Lula com Temer, mesmo sem querer sequer pronunciar o nome do atual presidente.

Fotos: Ricardo Stuckert

Nem só os apoiadores de Lula se mobilizaram ontem em Ipatinga. Após uma barulhenta convocação nos últimos dias, seguidores do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) reuniram cerca de 25 pessoas em volta de um carro de som, a poucos metros da concentração petista. E um helicóptero sobrevoou a multidão com um adesivo na parte de baixo onde se lia “Lava-jato”.

Mesmo sem citar os ativistas da direita, Lula afirmou não ter medo de protestos contra ele. “Eu sou pernambucano, nascido em Garanhuns, filho de pai e mãe analfabetos. Eu fui conhecer pão com 7 anos. Vocês acham que um cara que não morreu de fome até os cinco anos tem medo de algum provocador aqui em Ipatinga?”

Nesta terça-feira, Lula segue para Periquito e Governador Valadares, onde visitará um viveiro de mudas do MST e irá até às margens do Rio Doce, atingido há dois anos pelo desastre com a barragem de rejeitos da Samarco/Vale/BHP Billiton. De lá, segue para Teófilo Otoni, onde visita a Universidade Federal do Jequitinhonha e Mucuri, criada durante seu mandato. No início da noite, realiza um ato público em defesa da educação na Praça Tiradentes.