Maturidade + categoria + poder das palavras = O novo do Matéria Prima


Por Rafael Mendonça

Imagina um artista que esteve sempre ligado nas coisas. Escreve muito bem, já havia feito parte do lendário ‘Quinto Andar’, toca uma consistente carreira solo e ainda faz parte do Zimum. Pois bem senhoras e senhores esse aí é o Thiago Augusto aka Matéria Prima. Tem mais ou menos um mês que ele me mandou o disco novo, falou: “escuta aí e saca os movimentos”. E saquei e me contorci durante este mês, afim de deixar estas linhas, mas como me pediu pra não espalhar ainda me segurei, e escutei. E fiquei remoendo o som e ouvindo as coisas velhas e pensando na evolução de um artista.

Um artista, na minha opinião, deve ser uma pessoa inquieta, já disse isso aqui. E vendo os caminhos percorridos pelo Matéria você vê tudo isso. E na noite de quarta-feira (18/01) quando ele apresentou o novo show para um lotado Galpão Cine Horto eu senti aquele mês de agonia escorrendo pelos meus olhos em lágrimas e pelos meus ouvidos em forma de som.

O disco tem a produção do Gui Amabis. E seu dedo ali fica bem claro. E é impressionante o bem que um casamento musical pode fazer. Matéria canta e canta muito bem. Tenho que lembrar de perguntar para ele porque demorou tanto assim a cantar, que é diferente de versar seus raps.

Um som suave com as coisas nos lugares certos e umas letras arrebatadoras. Um passo que foi dado pelo Matéria que deveria render muitos frutos, mais do que merecidos.

O show então já nasce clássico, com direção de cena da Grace Passô., direção de arte do Rui Moreira, produção da Aline Vila Real e com a banda composta por Edgard Dedig (guitarrista), Ravel Veiga (baixo), Lenis Rino (bateria) e o Barulhista fazendo os eletrônicos, é uma apresentação que não te deixa quieto. Te incomoda, te faz buscar as coisas e os sentimentos. Os sons. E como é bom ver um show onde tudo se encaixa perfeitamente. Dez canções, começa mais suave vira pregação no Harlem com tudo mundo invadindo o palco para dançar. Como bem disse o amigo Ewerton Belico em ‘A dor do outro’ Matéria consegue fazer o rap entrar no clube da esquina. E dessa mistura sair um negócio completamente novo e de arrancar os cabelos, com uma melodia das mais bonitas que está tendo no mercado.

É uma celebração de vida, no sentido de que presenciar esse show te manda para um tanto de lugares. Te coloca uma centena de questionamentos na cabeça. E te faz refletir.

Refletir nos caminhos que um artista pode trilhar. Pensar em porque enquanto uns se acomodam e sentam na mediocridade outros saem de seu lugar de conforto e ousam. Tem a coragem de dar aquele passo a frente.

Matéria Prima deu o seu e se tem um cara que torço demais para se dar bem e conseguir fazer suas coisas é esse aí.

Para ouvir: https://materiaprima2.bandcamp.com/album/2-atos

Cultura e outras coisas

Rafael Mendonça

Jornalista, editor do site O Beltrano, editor da extinta revista ‘Graffiti 76% quadrinhos’, editor do Baderna Notícias e cuidador da própria vida.