“Não, fio, não sou como eles”
Por Silvana Mascagna
Maria de Fátima Ruas tem algo a nos ensinar. Ela não é intelectual com respeitável currículo, como Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal e Mário Sérgio Cortella, pensadores contemporâneos sempre nos brindando com pílulas de sabedoria.
A despeito disso, ela nos deu um ensinamento valioso, que Cortella, Karnal e Barros Filho certamente aplaudiriam. Maria de Fátima é irmã de Luiz Carlos Ruas, morto por espancamento, numa estação de metrô de São Paulo, por defender uma travesti, na noite do dia 25 de dezembro. E, diferentemente da turba de pessoas enfurecidas que esperavam os assassinos na saída da delegacia, ela não desejava vingança. Maria de Fátima só queria saber por que eles fizeram aquilo com o irmão dela. “Justiça”, foi o que ela gritou. E, quando muitos a incitaram para que partisse para a violência contra os jovens que tiraram a vida de Luiz Carlos, ela respondeu: “Não, fio, não sou como eles”.
A dor da morte violenta e inexplicável do irmão não lhe tirou a ética. Porque Maria de Fátima sabe que “não ser como eles” faz toda a diferença.
Só mesmo essa consciência pode nos guiar diante de tamanha “monstruosidade”, como definiu Maria de Fátima o assassinato do irmão. Do contrário, nos tornamos monstros, nos ensina ela.
Lição valiosa que essa mulher simples nos deixa neste 2016 tão trágico e que o brutal assassinato de Luiz Carlos Ruas na noite de Natal deixou tudo ainda mais triste…
Que a frase de Maria de Fátima Ruas nos guie em 2017!
Crônicas
Silvana Mascagna
Jornalista paulista, que escolheu Belo Horizonte há 20 anos para viver