Notícias do lado de lá

Texto publicado na última edição da revista ‘A Estrela’, produzida pelas detentas da penitenciária feminina Estevão Pinto, de Belo Horizonte.

Por Josiane Kenier

 

Foto: Revista A Estrela/Divulgação

 

A cada quinze dias, cinco minutos de conversa. Cada uma pode tentar duas vezes fazer a ligação. Para nós, é essencial. É assim que recebemos notícias da família e descobrimos como está nosso processo.

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Hoje é dia de falar com o marido.

— Oi amor. Como você está? Você está trabalhando muito? Foi a casa da minha mãe essa semana? Estou com muita saudade. Em breve tenho saída temporária, avisa pra mamãe e manda um beijão para Cecília e para todas as minhas filhas. Não vejo a hora de chegar o dia de visita, você me faz tanta falta. Meu tempo vai acabar. Te amo, viu?Acabou.

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— Alô. Está sabendo que o Daniel saiu da cadeia? Ele conseguiu liberdade condicional. Vocês foram presos juntos, né? Será que seu alvará vai chegar também? Vocês responderam ao mesmo processo, o seu já deve estar quase. Alô? Está chorando?

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Eu no regime fechando ainda. De longe, do pátio, via as ligações de quem estava no semiaberto. Uma mulher começa a gritar. Chora compulsivamente. Ela estava em pânico, desespero. Nós, aflitas lá do outro lado sem saber o que estava acontecendo com aquela moça. Depois entendemos: ela recebeu por telefone a notícia da morte do filho.

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Jéssica recebeu a ligação de uma amiga: a saída temporária está chegando e a amiga vai buscá-la. Alguém vai esperá-la do lado de fora. Não há notícia melhor.