O câncer tratado com gentileza

Livro de psicóloga apresenta informações sobre a doença para crianças, incluindo-as no debate público


Por Petra Fantini

Publicado em 21/09/2018

A incidência do câncer, em suas diversas formas, tem aumentado em todo o mundo – em 2014, a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), já considerava o crescimento do número de casos da doença um dado alarmante. Em publicação técnica divulgada fevereiro desde ano, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) e o Ministério da Saúde (MS) estimavam a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer no Brasil em 2018.

Sendo assim, é comum que todos conheçam pelo menos uma pessoa, seja amigo ou parente, que tenha passado pela doença. Se para os adultos este tópico é delicado, com crianças o assunto geralmente sequer é abordado. Foi sentindo esta necessidade de diálogo com a porção mais jovem da população que a psicóloga e especialista em Psicopedagogia Raquel Simplício decidiu escrever o livro infantil Mochila de Perguntas – Informações sobre o câncer ao alcance dos pequenos e dos grandes.

O lançamento do livro ocorre às 11h deste sábado, dia 22, na Livraria Ouvidor (rua Fernandes Tourinho, 253 – Savassi). Na história, uma menina chamada Maria Clara está cheia de dúvidas quanto à doença que afeta uma professora da escola. Sem conseguir as respostas de que precisa, ela dorme ansiosa. É então que, enquanto sonha, ela enche uma mochila com suas perguntas e caminha pela fantasia até encontrar o Sábio Senhor Tempo, que sana seus questionamentos.

A obra é inspirada em uma palestra que Raquel realizou no Dia das Mulheres de 2017 na Escola Municipal Honorina de Barros, localizada na Pedreira Prado Lopes. Conduzir a conversa, que foi feita com aproximadamente 120 crianças com idade entre 9 e 12 anos, a princípio gerou apreensão na escritora. “Falar o quê? Como abordar o tema? Eles se interessariam por esse assunto?”, questionou.

Posteriormente, a quantidade de dúvidas expressadas pelas crianças a fez ter vontade de produzir conteúdo voltado ao público infantil e incluí-lo no debate público sobre câncer. “Eu acho que consegui traduzir, através do livro, que estou falando de saúde, não de doença. Na verdade, as perguntas que foram feitas não são só coisa de criança, acho que são perguntas que qualquer pessoa quer fazer, mas o adulto muitas vezes está engessado. E a criança, com a espontaneidade dela, fez com que eu conseguisse trazer leveza para esse assunto”, avalia.

“Uma coisa que me chamou muito a atenção depois que eu fiz essa palestra é que a gente fala o tempo inteiro sobre prevenção, mas tem muito medo de conversar com crianças. E ao mesmo tempo, esse é um público que tem a ver com HPV, com a prevenção ao câncer de útero”, diz Raquel. O HPV (vírus do papiloma humano) pode causar câncer de colo de útero, vulva, vagina, ânus, pênis e orofaringe.

Há duas vacinas contra o vírus, a quadrivalente, recomendada para meninos e meninas entre nove e 26 anos de idade e a bivalente, para meninas e mulheres a partir dos 10 anos de idade. O ideal é que a vacina seja aplicada ainda na infância, pois sabe-se que a melhor resposta imunológica ocorre até os 15 anos de idade.

No encontro, Raquel contou sua jornada no enfrentamento da doença através de fotos do seu dia a dia na época – a escritora passou por tratamento contra o câncer de mama em 2011 e 2012, sendo ativa no movimento Outubro Rosa desde 2013. Segundo a autora, o livro trata de hábitos saudáveis, fatores de risco, doença, prevenção, autocuidado e emoções em uma linguagem fácil e sincera.

O livro é recheado de ilustrações, feitas por Rômulo Garcias, e Raquel garante que não trata de “nada que choca, não fala de tumor como uma coisa temerosa”. A psicóloga inclusive recomenda que toda a família pegue o livro e sente para conversar e ter um diálogo aberto sobre a temática. A obra foi lida por educadores, a maioria pais e mães, e tem sido bem aceito. “Me recomendaram fazer uma série, porque este é um assunto muito complexo”, conta Raquel.

Entre as perguntas que recebeu no encontro feito na escola, a principal temática era qualidade de vida, como: câncer dói? Por que as pessoas têm câncer? Por que não se pode visitar pessoas com câncer? Por que as pessoas ficam carecas? E a principal: câncer tem cura? Os participantes também quiseram saber se “qualquer pessoa pega”, crianças, velhos, pessoas negras, mulheres.

Por fim, um dos questionamentos mais achou interessante, mas que ela optou por não incluir no livro por achar que exigiria uma atenção especial, foi sobre como a doença afetaria uma pessoa usuária de drogas – Raquel acha que a curiosidade dialoga com o cotidiano periférico da Pedreira, onde está localizada a escola.

A autora

Raquel Simplício Netto Bittencourt desenvolve e apoia ações vinculada à campanha de prevenção e conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama desde 2013. Em 2016 foi homenageada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais como uma das madrinhas do movimento Outubro Rosa.

Atualmente, Raquel atua no Projeto Dedicação e na Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam).

SERVIÇO

Lançamento do livro Mochila de perguntas – Informações sobre o câncer ao alcance dos pequenos e dos grandes, editora A Ramalhete

Data: 22 de setembro

Local: Livraria Ouvidor (rua Fernandes Tourinho, 253 – Savassi)

Horário: 11h