O Galo de Moçambique

Time africano inspirado no Galo, o Atlético Mineiro de Tete, lança campanha de financiamento para se profissionalizar


Por Petra Fantini

Imagem: Twitter @AtleticoTete

Nascido em 2013, o moçambicano Clube Atlético Mineiro de Tete (CAMT) se inspira no clube de Minas não apenas no nome, mas também na garra com que jogam e torcem. Hoje, eles vestem a “camisola” preta e branca defendendo uma paixão que atravessou meio mundo.

Depois de jogar algumas temporadas no campeonato sub-20 de Moçambique, o time de Eduardo Carvalho – o Edy, criador e coach (como os moçambicanos chamam seus técnicos) do CAMT – quer se profissionalizar. Foi assim que o grupo lançou em fevereiro uma campanha de financiamento na plataforma Kickante (https://www.kickante.com.br/campanhas/apoio-camt-participar-campeonato) para custear a transição ao Campeonato Provincial de Seniores.

Em vermelho, a província de Tete
Imagem: Google Maps

Edy conta que sempre quisera montar um time de futebol. Ele cresceu jogando bola no orfanato em que seu pai trabalhava, o Aldeia de Crianças SOS (https://www.aldeias-sos.org/). Mais tarde, ele foi estudar na capital, Maputo. Por um período, chegou a trabalhar como cinegrafista numa emissora local de TV, a Miramar, filial da brasileira Rede Record. Mas a vontade de voltar para o futebol não o deixou permanecer em Maputo.

“Fui olhado com desconfiança, muitos riram de mim”, conta o coach sobre quando largou a vida na capital e voltou para o distrito de Moatize, a 20 quilômetros da cidade de Tete, em busca de seu sonho. Ele já havia ensinado futebol a alguns dos jovens do orfanato Aldeia de Crianças e logo montou um time. Depois era hora de escolher um nome.

A princípio, a ideia era se inspirar em clubes ingleses – eles chegaram a usar uniformes do Manchester United. Foi então que Ronaldinho Gaúcho se destacou. Era a semifinal do Mundial de Clubes de 2013, e o Atlético Mineiro original disputava contra Rajá de Casablanca. O gol do meio-atacante, o único do time brasileiro naquela noite (que foi derrotado por 3×1), encheu o olhos daqueles meninos já apaixonados pelo melhor do mundo. “Ronaldinho foi uma porta, eu me apaixonei pelo time”, diz Edy. Ficou decidido: eles seriam o Atlético Mineiro de Tete. “Eles [os jogadores] escolheram e eu não poderia contrariá-los”, conta o fundador.

Imagem: Twitter @AtleticoTete

Mário Carvalho, o Jojo Sao, 19 anos, foi um dos que estiveram presentes na escolha do nome e se tornaram torcedores do clube mineiro. Nos últimos cinco anos, segundo o jogador, a equipe cresceu muito. “Aprendi muita coisa, aprendi a lidar com pessoas de outro patamar. Minha consciência foi crescendo cada vez mais”, explica Jojo.

Ele joga em diferentes posições, mas Edy orientou-o a se especializar. Hoje, atua como médio ofensivo e defesa central. Ele também estuda para ser engenheiro civil, mas, caso surja a oportunidade, gostaria de jogar profissionalmente. O que o time significa para ele? “O Atlético Tete é nosso Deus, nosso coração. Lá, fazemos as coisas com amor à camisola”.

“Galo doido!”, exclama o goleiro José Changa Junior ao ser questionado sobre sua torcida pelo clube mineiro. O jovem de 18 anos de idade está na equipe de Tete há dois anos, e tem como sonho jogar profissionalmente, no Campeonato Brasileiro, para o Atlético. “Me esforço muito, me dedico nos treinos para poder um dia realizar esse grande sonho”, diz.

Conhecedor da equipe de Minas, seu maior ídolo hoje é Cleiton, o “guarda-redes” mais novo do Galo. “Foi no Atlético [de Tete] que descobri o talento que tenho e o verdadeiro futebol”, diz.

Crianças do orfanato Aldeia de Crianças SOS Imagem: Twitter @AtleticoTete

Apoio brasileiro

Desde 2014, o Clube Atlético Mineiro de Tete conta com o apoio do Embaixadores do Galo, grupo de torcedores brasileiros que se esforça para divulgar o nome do clube pelo mundo – eles já atuaram em cerca de 50 países. A torcida encontrou os moçambicanos pelo Facebook e, três meses após o primeiro contato, enviou um kit para os jogadores. “Enviamos um jogo completo de uniformes, além de materiais sobre o Atlético – bonés, bandeiras, CDs, DVDs, revistas”, lembra Leonardo Tito, membro do Embaixadores. Dois anos depois, devido ao desgaste daquele uniforme, o grupo providenciou outro conjunto de camisas.

Uniforme que precisavam usar quando os do Atlético estavam velhos. Imagem: Twitter @AtleticoTete

O contato de Leonardo com Edy é constante. “Ultimamente, quase que semanalmente converso via Whatsapp com o Eduardo, discutindo ações para realizarmos em solo africano (Moçambique e países vizinhos) e sobre o rendimento da equipe. Já enviei presentes para os jogadores que se destacam como forma de incentivo”. No ano passado, os brasileiros enviaram contribuições financeiras mensais para que o time pudesse arcar com as despesas do campeonato que disputou e ficou com o 2º lugar, invicto.

Foto do último recebimento enviado pelo Galo Imagem: Twitter @AtleticoTete

A necessidade de troca dos uniformes ressurgiu em 2017. Foi então que o Embaixadores do Galo sugeriu “informalmente”, segundo Leonardo, que o Clube Atlético Mineiro desse esse apoio. “Até mesmo como uma forma de estreitar os laços entre CAM e CAMT”, conta. Antes, os dois clubes já tinham trocado vídeos de agradecimento e congratulação. “Acreditamos que o Atlético tenha gostado da ideia da ‘filial’ africana, ainda mais por ter sido uma iniciativa da torcida, no caso, os Embaixadores do GALO. A bandeira do Atlético já está fincada em terras africanas”, afirma.

Por meio da assessoria de imprensa, o Atlético afirmou que não há nenhum relacionamento oficial entre os clubes e nenhum planejamento de projetos conjuntos, como amistosos, “até por questões logísticas”. A equipe de Tete é a única de inspiração atleticana de que se tem conhecimento, sinaliza a assessoria alvinegra.