O herói brasileiro às avessas
Sérgio Ricardo, um artista brasileiro. Merecedor de todas as homenagens. Um pouso sobre sua passagem por Tiradentes e Luiz Gonzaga
Por Rafael Mendonça
Durante anos, quase décadas, Sérgio Ricardo ficou estigmatizado pelo episódio da quebra do violão no III Festival Internacional da Canção (https://www.youtube.com/watch?v=VN7hQgfxt2A), pelo grande gesto de revolta contra a intransigência do público num momento de radicalismo e polarização vivido pelo país (que, aliás, permitem enormes paralelos com nosso momento atual). Sua obra, vista de hoje, é de uma grandeza e importância ímpar. Não se popularizou como deveria, mas seus filmes e músicas são não só respeitados, mas reverenciados por quem conhece. Como foi possível ver na noite de domingo aqui em Tiradentes.
Aclamado pelo público na exibição de seu filme “Colcha de Retalhos”, e arrancando lágrimas de muita gente ao cantar clássicos como “Perseguição”, ou, como se popularizou em outras vozes, “Corisco”. Inclusive já coloco sua apresentação como um dos grande momentos da Mostra. Foi forte, bonito e intenso.
“Meus filmes todos tem meio cara de guerrilha”, soltou durante coletiva. E é bem isso, sem grana direito, na cara e na coragem. Tudo na base da vontade de ver sua ideia na tela, que inclusive Sérgio viu pela primeira vez em Tiradentes.
“Acredito na arte como coragem. Precisamos usar a arte como forma de transformação. Temos que sair e nos mobilizar. Parar de esperar que o governo nos dê uma Embrafilme”, atira Sérgio ao ser questionado sobre os dias atuais. E continua: “Queria que o filme fosse exibido em todas as favelas, vilas, caatingas e cantos do país”, diz, consciente de que a distribuição e a circulação de um filme é um drama para todos os realizadores do país.
A Mostra de Cinema de Tiradentes teve a sensibilidade de colocar um ônibus a disposição do elenco e, com isso, cerca de 40 pessoas tiveram a alegria e a emoção de ver o filme. Achei bem bonito isso.
GONZAGA NO SERTÃO
O jornalista mineiro Sérgio Utsch, radicado em Londres, lançou na noite de ontem seu filme “O Menino que fez um Museu”, aqui em Tiradentes. A exibição, prejudicada pela chuva, terá um replay hoje, às 21h, na Praça. Um retrato sensível e cercado por sinceridade e paixões. Do menino, pelo Gonzaga, e do jornalista, pela coisa toda.
“Quando eu vi o vídeo de celular dele, apresentando o museu, me comoveu. Simples, mas de uma beleza absurda. Na mesma hora quis fazer o documentário, faro de jornalista, e tudo deu certo. Ver o filme aqui ontem, mesmo com chuva, com as pessoas ficando na praça, me deixou muito feliz. A gente tratou o menino com respeito, ele falou o que quis, nos levou aonde quis, e essa é uma das grande belezas do filme. O filme é ele”, sentencia Sérgio.
Apenas para reforçar, tem de novo nesta terça, 21h.