Água para Campina Grande
"Amanhã, na publicação do último post, em uma grande reportagem, farei um balanço de toda a expedição, com contribuições de visões pró e contra a transposição."
22/05/2017
Por Bruno Moreno
O retorno ao Boqueirão, para chegar ao encontro das águas, foi cedo. Mas, antes de ir para Mirador, gastei algum tempo na barragem do açude. Lá encontrei uma excursão de estudantes de um colégio particular de Campina Grande. Eles foram ver a chegada da água do São Francisco à região. Naquele dia, a barragem estava com apenas 2,9% da capacidade. Ou seja, quase nada, já no volume morto. Hoje, segundo informações da companhia de águas da Paraíba, o volume já alcança os 5%, o que ainda é pouco, mas mostra boa evolução.
O professor de geografia Helder Alves ressalta a dificuldade de acesso à água na região. “Desde que o açude Epitácio Pessoa (Boqueirão) foi construído, em 1950, e inaugurado em 1956, nós chegamos ao pior índice da história (2,9%). Nós estamos à beira de um colapso. O município de Campina Grande tem pouco mais de 400 mil habitantes e vive racionamento já há algum tempo. Se não chegasse a água (do São Francisco), nós entraríamos em colapso por falta d’àgua”, diz.
Depois da conversa, voltei a Mirador e conseguir fazer as imagens da terra rachada sendo molhada pelas águas franciscanas. Aí chegou o momento de encerrar a viagem, com uma última pernoite em João Pessoa, capital da Paraíba, antes rumar para Recife e, de la, embarcar de volta a Belo Horizonte.
Foram oito dias, mais de 1.800 quilômetros rodados até o momento, muitas histórias, dezenas de conversas, um bronzeado desigual conquistado (concentrado nos braços e pescoço), e uma nova realidade conhecida.
Antes de finalizar este diário, acho importante lembrar de uma história. O ano era 2005, e o cenário, uma mesa de boteco. Defendia firmemente que a transposição do rio São Francisco era uma obra louvável em seu fim, porém gigantesca, cara e absurda.
Naquele dia, tive adesões, principalmente, de ambientalistas, e críticas vindas de defensores do desenvolvimento social. Não que eu fosse contrário à oferta de água para quem tem sede, para quem não consegue desenvolver a potencialidade produtiva por não ter acesso à água. Sempre fui à favor disso.
Mas, àquela época, era pra mim descabido gastar tanto dinheiro para criar impacto ambiental significativo na vazão de um curso d’água já degradado e na biodiversidade dele, sendo que outras possibilidades deveriam ser esgotadas antes dessa iniciativa radical. Me refiro ao reflorestamento das áreas degradadas do semiárido, construção de poços artesianos e grandes cisternas, por exemplo.
Passados 12 anos, finalmente a transposição do rio foi concluída, no eixo leste, nos estados de Pernambuco e Paraíba. Conhecer o agreste brasileiro, a região em que falta tudo, é fundamental para o entendimento do que é o Brasil. Importante pra mim e para os brasileiros.
Espero que tenha conseguido passar um pouco do que vivi nessa expedição, e ter contribuído para a formação da opinião dos leitores de O Beltrano.
Amanhã, na publicação do último post, em uma grande reportagem, farei um balanço de toda a expedição, com contribuições de visões pró e contra a transposição. Até lá.