Os policiais escolheram o inimigo errado

Os objetivos políticos do Sargento Rodrigues e os praças como massa de manobra


D’O Beltrano

O movimento dos policiais da manhã desta terça-feira (20), que começou pela manhã em frente à Assembleia e no início da tarde caminhou para o Centro da cidade, tem algo de absolutamente incoerente. Mas não sem propósito. É preciso enxergar as forças políticas que estão por trás da manifestação para entendê-la por completo.

A incoerência está no fato de as principais palavras de ordem serem dirigidas contra o governador Fernando Pimentel. Os manifestantes, cerca de mil, estão gritando “fora Pimentel” e “Pimentel traidor”. Mas, se o movimento é contra o Projeto de Lei Complementar (PLP) 257, em tramitação na Câmara Federal, e se Pimentel já disse que também é contra tal projeto, qual a lógica dos ataques contra o governador? A resposta está em quem organizou a manifestação.

É notório que o deputado estadual Sargento Rodrigues, autointitulado líder do movimento dos praças, é hoje um alpinista político. Se candidatou a prefeito para ganhar palanque e se fazer conhecido do eleitor, mas seu objetivo real são as eleições para Câmara Federal de 2018. Passadas as eleições para prefeito, para fazer crescer a onda conta agora com o movimento dos policiais e com sua oposição ferrenha ao governo petista na Assembleia.

Ontem, o coronel Marco Antônio Badaró Bianchini, comandante-geral da PM, logo após reunião com Pimentel, divulgou vídeo no qual reafirma a posição do governo mineiro contrária ao PLP e a decisão do governador de não aderir ao projeto, que trata da renegociação das dívidas dos estados, caso ele seja aprovado pelos deputados federais. Bianchini tentou também incutir alguma lógica aos manifestantes e desviar o foco do protesto de hoje do governo estadual para Brasília, mas como estamos vendo, sem sucesso. Na reunião com Pimentel participaram, além de Bianchini e dos comandantes do Corpo de Bombeiros, Coronel Luiz Henrique Gualberto, e do Estado Maior da PMMG, André Leão, o deputado federal Subtenente Gonzaga, que disputa com Sargento Rodrigues a liderança da categoria. Está claro que é contra Gonzaga e Pimentel que Sargento Rodrigues aponta agora suas armas em busca de notoriedade.

Mas não é sem razão que os policiais temem o PLP 257. Se o projeto for aprovado e se Minas aceitar seus termos para a renegociação de sua dívida com a União, de R$ 82,6 bilhões, o governo do estado perderia por completo sua autonomia financeira. Ficariam congelados os salários dos servidores e haveria aumento dos descontos para a Previdência estadual. O Estado teria que concordar em adotar um plano de recuperação econômica com duração de três anos, prorrogáveis por mais três, no qual investimentos e contratações seriam cortados. Pimentel já disse claramente que não aceita isso.

O PLP representa de fato um enorme retrocesso. Mas os policiais precisam se atentar para quem são, de fato, os inimigos e quem são os aproveitadores de sua revolta.