Potência

Mostra de Cinema de Tiradentes abre o ano do cinema com discursos políticos e “Vaga Carne”


Por Rafael Mendonça

Publicado em 19/01/2018

Foto Leo Lara/Universo Produção

Vir cobrir a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes é sempre uma série de surpresas e emoções. Por muitos fatores que envolvem ver as pessoas, os filmes e os acontecimentos. Por vezes, mais que inusitados, que trombam com você pelo caminho. Se em 2018 O BELTRANO deu o furo dos 16 milhões de investimento da CODEMIG, em 2019 os caminhos se mostram mais tortuosos e incertos. O desafio é estar atento ao futuro para contar esta história direito.

Mas o dia foi de Grace Passô. Depois voltamos para as questões de dinheiro e política. A grande homenageada da Mostra desfilou sabedoria, competência e muita consciência em seu discurso, assim como no seu novo filme, “Vaga Carne”. Celebrada e marcante peça que estreou em 2016 e, depois de virar livro, estreou na tela de cinema na memorável noite de 19 de janeiro de 2018.

Foto Leo Lara/Universo Produção

A trajetória de Grace não é o que quero contar aqui. Isso você pode ler nas inúmeras matérias que saíram por aí. Queria falar da pessoa da Grace, da amiga, que mesmo não tendo respondido minhas perguntas por causa de sua intensa agenda dos últimos dias (hahaha), me ensina a ser um ser humano melhor a cada trabalho, a cada conversa, a cada momento ou mesa de bar em que nos encontramos nestes tantos anos de convivência.

A atriz, dramaturga, diretora de cinema e teatro mostra sua melhor faceta na intimidade. Na conversa de pé de ouvido é que cê vê como seus potentes textos, suas interpretações arrebatadoras são no dia a dia. Grace é esse furacão de sabedoria e ensinamentos. Talvez principalmente.

Foto Leo Lara/Universo Produção

Sobre o filme em si, foi uma das mais felizes adaptações de teatro pra cinema que já tive o prazer de ver. O texto que fica mais importante nesse tempo obscuro em que vivemos foi magistralmente adaptado para a outra sala por ela mesmo e Ricardo Alves Jr. Discurso negro, feminino e que todo macho, hétero, branco deveria decorar e aprender. Um texto pra ser levado embaixo do braço. Um filme pra ser visto e levado muito a sério como mensagem.

A abertura trouxe um discurso forte também, necessário e em cima do momento. Vivemos hora de angústia para a “indústria” do cinema. Incertezas na continuidade dos financiamentos, dos projetos e dos editais dos filmes. O Brasil foi tomado por pessoas tacanhas que veem a cultura como inimiga, o que só explicita mesquinhez. E isso coloca todo um universo em xeque. Milhares de empregos, prêmios internacionais, alguns sucessos de públicos e festivais fundamentais como a Mostra de Tiradentes.

Foto Beto Staino/Universo Produção

Dia a dia

Se dentro da Mostra as coisas pediram uma necessária reflexão em diversos assuntos, a cidade de Tiradentes continua recebendo o festival de uma forma muito peculiar. Uma coisa parece ter sido feita para a outra. Aqui até tenho meus “rituais”, chegar, assentar, pedir a benção na Biroska Santos Reis e encontrar pessoas que estão sempre dispostas a um excelente bate papo sobre não só cinema. Mas vida.

Foto Leo Lara/Universo Produção

Viver a cidade é fundamental para entender a Mostra. Em suas similaridades e problemas. Em suas acolhidas e afastamentos. Na forma que chama pra perto e manda pra longe. Sua relação com a cidade. É um grande filme que faço questão de ver. Faço questão de olhar de perto. Quase tão importante quanto os filmes que assistimos.

Ver a cidade durante a mostra é do aprendizado e uma extensão da ficção. Um documentário feito com os olhos. Eu particularmente aprendo demais, e recomendo.

Hoje ansioso pra ver “Temporada” de André Novais e Plano Controle da Juliana Antunes, Conversei com eles umas linhas e amanhã mostro isso pra vocês.