Primeiros movimentos da cultura

Juca Ferreira confirma realização de quatro festivais em BH (FLI, FAN, FIQ e FIT)


Por Lucas Simões

(Atualizado na sexta-feira – 09:34)

Foto Ricardo Laf/PBH

Com um mês à frente da Cultura em Belo Horizonte, Juca Ferreira já entreviu a luta que terá pela frente para alavancar recursos no apertado orçamento da pasta. Mesmo não confirmando a verba que a Cultura terá neste ano, sua primeira medida, anunciada nesta quinta-feira (20/07), foi garantir a realização, e informar as datas, dos quatro principais festivais artísticos de Belo Horizonte. Além disso, Juca Ferreira também anunciou o início das obras no Museu de Arte da Pampulha (MAP).

A decisão de preservar os festivais foi tomada a partir da demanda dos “fazedores” de cultura, identificada nos encontros públicos que a Secretaria vem realizando. “No meu Face e no Zap, a maior demanda é: os festivais vão acontecer? Essa é a pergunta mais constante e demonstra que há uma preocupação e demanda da cidade pela realização desses festivais. Eu fiz questão de, mesmo nessa transição, garantir que esses festivais tenham continuidade”, disse.

Em coletiva de imprensa realizada no Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal, Juca Ferreira disse que o orçamento para a cultura se resume a uma “proposta muito enxuta, exageradamente enxuta”. “É um orçamento mais ou menos igual ao do ano passado. Mas ainda nessa semana vamos dar todos os valores”, disse Juca. Em 2016, o orçamento da Fundação Municipal de Cultura (FMC) já havia sofrido uma expressiva redução de 25%, caindo de R$ 38 milhões para R$ 28,5 milhões, impactando diretamente os eventos culturais do calendário da cidade.

Ainda assim, Juca anunciou a manutenção do 2º Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH), entre 14 e 17 de setembro; o 9º Festival de Arte Negra (FAN), entre 18 e 23 de outubro; e o 14 º Festival Internacional de Teatro, Palco & Rua (FIT), marcado para maio do ano que vem. Todos os eventos serão realizados nas datas anteriormente previstas, com exceção do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que deveria ter acontecido em junho deste ano, mas foi adiado para entre 30 de maio a 3 de junho de 2018.

“Esse ano foi atípico. Com sucessão na Prefeitura e restrição de gastos, demoramos a ter um dirigente (na Fundação Municipal de Cultural). Ficamos com a interinidade por um tempo. Dificultou a atuação da fundação, responsável pelos festivais”, justificou Juca.

Captação de recursos

Segundo ele, o FIQ e o FIT terão mais facilidade de captar patrocínios, uma vez que só acontecerão em 2018. “Os (festivais) que foram transferidos para o ano que vem terão mais facilidade (de captar) porque nós teremos tempo para fazer esse processo. Os deste ano terão um pouco mais de dificuldade, sim. Mas aí a Prefeitura, o poder publico, é quem deverá garantir a realização com qualidade desses eventos. Agora, evidentemente, eles já tem algumas parcerias históricas. Os festivais já contam com apoio empresarial e nós vamos fechar essas parcerias, espero, de uma maneira bem sucedida”, completou Juca.

O presidente da FMC também destacou que tem conversado com o Secretário Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação, André Abreu Reis, para balancear a verba para a área da cultura. “Eu quase que diariamente converso com o secretário da administração. Claro, o papel dele é apertar, e meu papel é conquistar o máximo possível para a cultura. Estamos nessa conversar extremamente amigável e civilizada”, disse Juca.

Secretaria e Virada Cultural

Ainda no posto de presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), ocupado na gestão de Marcio Lacerda por Leônidas Oliveira, Juca Ferreira anunciou que vai assumir a recriada Secretaria Municipal de Cultura na primeira semana de setembro. Porém, ele ainda não deu detalhes de como a pasta, que volta a existir em Belo Horizonte após 12 anos, deverá funcionar em paralelo com a FMC.

Apesar disso, em uma análise inicial, Juca Ferreira avalia que a Fundação Municipal de Cultura deve evoluir no desenvolvimento de ações descentralizadas, ainda que a estrutura da fundação e da secretaria estejam sujeitas ao enxugamento da máquina pública.

“A gente precisa de uma estrutura ágil, que gaste o mínimo possível. É uma preocupação justa, principalmente num momento de crise e restrição econômica. Agora, a Fundação não tem gordura, ela tem uma estrutura que pode ser potencializada. Ela não desenvolveu suas capacidades enquanto estrutura descentralizadora, com seus programas, projetos e ações”, disse.

No mesmo dia do anúncio formal de recriação da Secretaria Municipal de Cultura, Juca Ferreira vai informar sobre a realização da Virada Cultural em Belo Horizonte. Até o momento, não há uma decisão sobre a realização do evento neste ano. “Não há um decisão ainda porque a gente precisa ver recurso, tempo, se vamos fazer neste ano ou no próximo”, disse. “Eu acho que é um evento muito positivo, que pode virar um ativo econômico da cidade, pode atrair um público de fora da cidade. Assim como a Virada de São Paulo atraiu depois que foi organizada com essa dimensão”, completou Juca.

Deficiências

Além dos festivais e eventos conhecidos no calendário cultural da cidade, Juca Ferreira também tem se familiarizado com uma série de demandas específicas de artistas diversos. Nesta semana, ele realizou encontros com artistas das áreas da música e das artes visuais. E traçou alguns pontos que, à frente da Secretaria Municipal de Cultura, vai priorizar.

Na música, Juca defendeu a criação de um Centro de Referência da Música Mineira. Ele chegou a citar o projeto do Museu Clube da Esquina como um pontapé inicial para a proposta de catalogar e dar memória à música do Estado. “Há um panorama de complexidade da área da música mineira: música sinfônica, música clássica, instrumental, segmentos como rock n’ roll, funk, hip hop. É necessário algo que disponibilize um mínimo de possibilidade de memória e preservação de toda essa história musical riquíssima de Minas Gerais”, disse.

Além disso, ele ressaltou as críticas frequentes de cantores e bandas quanto à falta de disponibilidade de espaços para apresentações musicais na cidade, e defendeu a criação de um Circuito Cultural para abrigar apresentações descentralizadas. “Foi apontada a deficiência da estrutura de equipamentos e teatros para apresentações e shows. É o uso ainda insuficiente da estrutura pública. Pensei que vai ser preciso criar um circuito cultural para os artistas em que o público de toda a cidade tenha acesso”, explicou.

Nas artes visuais, Juca Ferreira também sublinhou algumas metas a serem executadas à frente da Secretaria de Cultura. Uma delas é facilitar a liberação de alvarás para apresentações artísticas ao ar livre. “Parece que existe uma dificuldade de licenciamento e de diálogo com os que licenciam. Então, a Secretaria de Cultura pode contribuir para isso, facilitar esse processo”.

Museu da Pampulha

O principal chamariz da área, porém, é o Museu de Arte da Pampulha (MAP), que integra o conjunto arquitetônico desenhado por Oscar Niemeyer, eleito Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 2016. O museu tem vários problemas estruturais e guarda um acervo de 1.500 peças mal condicionado há anos. Diante da emergência da situação, Juca Ferreira iniciou nesta quarta-feira (19/07) os primeiros trabalhos para criar um cronograma de restauração do espaço. “Estamos começando as obras e uma equipe está trabalhando junto à Secretaria de Obras para definir como será o trabalho”, informou Juca.

Segundo ele, há uma demanda forte da classe artística para transformar o espaço no Museu de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, uma espécie de referência das artes visuais da cidade. Um plano inviável para o presidente da FMC, devido à especificidade da arquitetura do museu, projetado por Niemeyer para ser um cassino, em 1943, mas que desde 1950 funciona como museu.

“Percebo que o espaço não foi construído para ser um museu. E ele tem algumas inadequações para isso. É todo envidraçado e um museu precisa criar aquele ambiente meio uterino para que, aquilo que seja apresentado ali, seja a atração principal. A paisagem ali é tão bonita e não vale a pena você botar cortinas e fechar a vista, senão você reduz o potencial do espaço. Ali pode ser um grande museu, mas dentro de um tempo, não sei se em anos ou meses, tem que ser pensado um outro museu para a cidade, algo que a cidade invista para ser o museu central da cidade”, completou Juca.

Correção: Ao contrário do que foi postado inicialmente nesta matéria, o presidente da Fundação Mineira de Cultura, Juca Ferreira, não disse que o Museu de Arte da Pampulha está fechado para obras, mas que as obras estão “fechadas”.