Professores são agredidos com bombas e jatos d’água

Agressão ocorreu após protesto em que professoras pediam a equiparação salarial com os docentes do ensino fundamental


Por Lucas Simões

Publicado em 23/04/2018

foto: Sind Rede

Durante um protesto pacífico na porta da Prefeitura, professores da rede de educação infantil municipal foram reprimidos com jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar (PM), no início da tarde desta segunda-feira (23/04). Mais de 700 pessoas, sendo a maioria mulheres e incluindo crianças, foram surpreendidas pela ação desmedida do Batalhão de Choque da PM, no primeiro dia de greve da categoria.

A truculência dos militares fez com que o prefeito Alexandre Kalil deixasse a sede da Prefeitura e repudiasse a ação policial. Apesar disso, Kalil informou que seria preciso “agendar uma data para que o diálogo seja possível com a categoria dos professores”.

Segundo a versão da PM, houve necessidade de força por parte dos policiais porque alguns manifestantes tentaram invadir a Prefeitura pela entrada principal da avenida Afonso Pena, ao forçar as grades do prédio, e também bloquearam as duas vias da avenida por quase 1h30. “Se você fecha totalmente a avenida Afonso Pena, você cria o caos na cidade, inclusive com a proximidade do maior Pronto-Socorro do Estado. Foi quase uma hora e meia de negociação para que a via fosse liberada. Como houve negativa dos manifestantes, houve a progressão do usa da força”, disse o major Flávio Santiago, assessor de comunicação da Polícia Militar. Até a publicação da reportagem, o governo não tinha comentado a ação da pm.

Apesar disso, Wanderson Rocha, um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Municipal de Belo Horizonte (Sind-REDE), afirmou que não houve tentativa de invasão ao prédio da Prefeitura. Wanderson e outra diretora do Sindicato, Maria da Conceição de Oliveira, foram detidos pela política durante as intervenção da Tropa de Choque — segundo justificativa da PM, por incitação à violência.

 

“O Choque usou uma estratégia covarde para dispersar e agredir um protesto pacífico. Se incomodaram porque fechamos a pista da avenida Afonso Pena e fomos agredidos justamente quando a gente estava liberando uma das vias”, afirmou Wanderson. A professora da rede infantil Mércia Santos disse que alguns educadores foram atingidos junto de crianças. “Muita gente tomou jato de água pelas costas, tinham crianças aqui também, que levaram jato de água, respiraram o gás. A Polícia Militar assumiu um risco enorme, com a justificativa de liberar o trânsito”, disse a educadora.

Entenda

A greve dos professores da educação infantil municipal tem como principal mote a equiparação salarial com os docentes do ensino fundamental. O plano de carreira da educação infantil vai até o nível 15, mas a carreira dos professores de ensino fundamental chega ao nível 24, o que reflete uma grande diferença salarial, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-REDE). Isso porque os professores das Unidades Municipais de Ensino Infantil (Umeis) entram ganhando R$ 1.450, enquanto os do ensino fundamental recebem R$ 2.100 no início da carreira. Ambos os salários podem atingir o teto de R$ 3.409 e R$ 7.522, respectivamente, de acordo com as progressões de níveis e titulações de ensino superior.

Segundo o Sind-REDE, a capital mineira possui 131 Umeis, 31 escolas municipais de educação infantil e outras 30 escolas do ensino fundamental que passaram a ter turmas de educação infantil. Dessas, 60 unidades estão com as atividades completamente paralisadas e outras 103 começaram a funcionar parcialmente desde esta segunda-feira, o que afeta a regularidade de aulas para cerca de 75 mil crianças.

Segundo Wanderson Rocha, diretor do Sind-REDE, uma das promessas de campanha de Kalil foi a equiparação salarial — até hoje não cumprida. “O que nós estamos pedindo é diálogo. O prefeito reiterou várias vezes que faria a equiparação assim que assumisse o mandato, mas não fez até hoje, indo para a metade do segundo ano de governo. Então, nós resolvemos iniciar a greve para que o prefeito marcasse uma data para dialogar, já que isso ainda não aconteceu. Só que o que houve foi uma repressão inacreditável da PM”, disse Wanderson.

Em contrapartida, a PBH informou, por meio de nota, que a equiparação salarial entre os professores custaria aproximadamente R$ 80 milhões aos cofres públicos — valor “inviável” no orçamento do governo municipal, segundo a Prefeitura. Apesar disso, o Executivo alega que enviou à Câmara dos Vereadores, ainda ano passado, o Projeto de Lei 442/2017, que estabelece uma progressão de até três níveis na carreira para professores com grau de escolaridade superior. Para Wanderson Rocha, o PL é um avanço, mas não resolve o problema salarial dos professores da rede infantil. “Esse Projeto de Lei prevê um aumento de cerca de 15%, o que é uma ajuda, mas não é o que a nossa categoria pede. Pedimos a equiparação salarial, que é algo maior”.