Relicário Edições, muito além do sonho
Com quatro anos de atividades e mais de 40 livros publicados, a Relicário Edições é um exemplo de que ser pequeno não é sinônimo de amadorismo. Pelo contrário.
Por Lucas Simões
O cuidado artesanal das publicações lideradas por Maíra Nassif rendeu o primeiro convite para o Festival Internacional de Paraty (Flip), neste ano, com uma tradução inédita da chilena Diamela Eltit. Apenas mais uma porta aberta para se firmar como referência de publicações no país, incluindo o pioneirismo de diversas traduções fresquinhas de autores latino-americanos no Brasil.
“Como nossa estrutura é pequena, e são poucas as mediações internas, isso favorece o contato próximo com os autores e com todos os profissionais envolvidos nos livros. Mesmo com um ritmo crescente, essa proximidade e esse fazer quase artesanal (oposto à linha de produção industrial das grandes editoras) não mudou em nada”, atesta Maíra Nassif, dando voz a um fenômeno cada vez maior no Brasil: o crescimento espontâneo e qualitativo de pequenas editoras.
Graduada em Filosofia, a editora de livros que se define primeiro como leitora criou a Relicário Edições a partir de duas linhas de atuação. A teórica-ensaística, voltada para as áreas de artes, filosofia, letras e psicanalise, fruto de sua formação de mestre com ênfase em Estética e Filosofia da Arte; e a literária, focada principalmente em traduções e publicações inéditas.
Enquanto a linha teórica da editora conta com um conselho acadêmico por área de conhecimento, as publicações literárias exigem uma sensibilidade aguçada de Maíra Nassif. Uma busca à base de feeling literário e percepções múltiplas, voltada para dar visibilidade a obras ainda pouco reverberadas no Brasil. “Sobre autores internacionais, a intenção não é publicar clássicos já bem conhecidos pelo público, mas escritores ainda pouco explorados que carecem de traduções para o português, embora devam já contar com algum reconhecimento em seus países de origem que justifique sua vinda até nós”, diz.
Nesse contexto, a Relicário Edições sabe garimpar achados literários em caráter inédito. Em quatro anos, publicou a primeira coletânea em português de textos sobre o aclamado escritor Roberto Bolaño (“Toda a Orfandade do Mundo”). Também chamou a atenção com o elogiado “Literatura de Esquerda”, do argentino Damián Tabarovsky, que inicialmente seria traduzido pela badalada Cosac Naify, mas acabou caindo no colo da Relicário Edições com o fechamento abrupto da editora paulista, em 2015.
Toda uma produção que atraiu os olhares da curadora da Flip 2017, Joselia Aguiar, após ter declarado ter a intenção de “mapear a literatura que está fora dos radares” durante o festival. Foi da curadoria que partiu o convite para a Relicário traduzir “Jamais o Fogo Nunca”, da chilena Diamela Eltit, que narra a luta de uma mulher sobrevivente durante o regime militar.
“Joselia disse que vinha acompanhando com entusiasmo nossas publicações de autores latino-americanos, e que via aí uma trilha aberta para a entrada da Diamela — uma autora bastante reconhecida no Chile e internacionalmente, mas ainda sem nenhuma tradução para o português”, justifica Maíra.
Para o ano que vem, a editora está com tudo acertado para traduzir dois livros inéditos da poeta argentina Alejandra Pizarnik, “que, apesar de ser lida, comentada e conhecida por muitos, nunca teve sua obra poética traduzida no Brasil”, como pontua Maíra Nassif. “Árbol de Diana”, de 1962, e “Los trabajos y las noches”, de 1965, serão editados após uma negociação de direitos autorais que se arrastou por dois anos. “O processo de compra de direitos foi árduo, com muitos emails desde 2015, até que finalmente a teremos!”, se entusiasma Maíra.
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