Temer comemora a estagnação


Por José Antônio Bicalho

Brasília – Presidente Michel Temer discursa durante lançamento do Programa de Renovação da Frota de Ônibus do Sistema de Transporte Público do Brasil, o Rrefrota 17 (Marcos Corrêa/PR)

O presidente Temer é um fanfarrão. Foi sair o resultado do PIB do segundo trimestre na manhã de hoje (01/09), para correr à grande mídia para “comemorar” o crescimento de 0,2% da economia em relação ao primeiro trimestre do ano. Assim como já tinha feito no trimestre anterior, quando o PIB cresceu 1%.

“O PIB teve uma boa solução, revelando o que estamos mostrando ao longo do tempo, que o Brasil está crescendo e se recuperando”, disse o presidente aos jornalistas brasileiros que o acompanham na sua viagem à China.

Sinto informar, mas é mentira. A economia não está se recuperando. Se olharmos com lupa para a composição do resultado, a conclusão lógica é que o PIB, no máximo, parou de cair. E não existe garantia de sustentabilidade do breque, já que o que segurou a economia no primeiro e no segundo trimestres foram fatores sazonais e não recorrentes.

Vamos aos dados que comprovam que ainda patinamos no fundo do poço. Em primeiro lugar, comemorar crescimento de 0,2% é risível. O percentual é quase zero e aponta unicamnte para estagnação. Mas não é só isso. A base que permitiu que se atingisse, ao menos, essa estagnação é fragilíssima. Senão, vejamos.

O crescimento pífio alcançado no período se deu quase que exclusivamente em função do consumo das famílias, que cresceu 1,4%. O consumo do governo caiu 0,9% e o importantíssimo indicador dos investimentos das empresas (formação bruta de capital fixo) caiu 0,7%. Já o valor dos bens exportados cresceu 0,5%.

Ok. Uma análise rasteira poderia levar a entender que o aumento do consumo das famílias mostra que os empregos e os salários estão em recuperação, que existe maior otimismo para compras e tomada de crédito, e menos medo entre aqueles que escondem suas reservas nos bancos. Não é bem isso.

O aumento do consumo se deu exclusivamente por conta da liberação de saques das contas inativas do FGTS, de R$ 44 bilhões entre março e julho deste ano. Segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 25% desse dinheiro foi destinado para consumo no período, ou R$ 10,8 bilhões. Trata-se de uma onda, que impactará positivamente também o PIB do atual trimestre, mas que perderá rapidamente a força e se dissipará.

Só poderemos considerar o consumo das famílias como um indicador consistente quando este refletir o aumento dos empregos, da massa salarial, do valor dos salários e do otimismo do consumidor. Por hora, foi uma brisa que jogou um pouco de oxigênio na brasa da economia que estava se apagando.

Dois outros indicadores, estes sim, estruturadores para uma retomada firme da economia, continuam negativos. As despesas do governo, que cairam 0,9%, e os investimentos das empresas, que cairam 0,7%. A máquina do governo é um motor importantíssimo da economia, já que responde por cerca de 30% da composição do PIB. Se o governo não investe, todo o restante não se move. E, como sabemos, o governo não está investindo em nada, apenas pagando salários e o custeio da máquina.

Isso se reflete diretamente nos investimentos das empresas. Como o governo não demanda, as empresas não investem na compra de máquinas e equipamentos. Daí a produção industrial não se move e a importantíssima cadeia de bens de capital também fica paralisada.

O aumento do valor das exportações em 0,5% é o único indicador minimamente consistente do PIB. Mesmo assim, perigoso por conta da volatilidade da base na qual se assenta. O segundo trimestre ainda está impactado pela excelente safra de grãos colhida no início do ano (a agricultura é o único setor que de fato está crescendo no país) e pela melhora dos preços das commodities minerais e metálicas. Ok, com a economia mundial em recuperação, é possível apostar algumas fichas na continuidade do aumento das exportações. Mas, se todas as fichas forem colocadas aí, ficaremos na dependência exclusiva do comportamento do mercado externo e nos assumiremos definitivamente como país do minério e da soja.

O fato é que Temer mente descaradamente ao dizer que saímos da recessão. Os dados do PIB mostram que estamos parados no ponto mais fundo da curva recessiva, sem sinais de inflexão da curva. Se somarmos a isso o crescimento explosivo do déficit (R$ 183,7 no acumulado de 12 meses até julho) e da dívida pública (previsão de R$ 3,65 trilhões para o final do ano, com crescimento de 18% na comparação com o fechamento de 2016) o cenário é de catástrofe.

Economia

José Antônio Bicalho

Jornalista especializado em economia e editor de O Beltrano