Um Francisco chamado Papa

‘O Beltrano’ ouviu a opinião de um monte de gente sobre o Papa Francisco e até o ex-ministro Patrus Ananias disse o que acha de um dos homens mais importantes do mundo hoje.


Por Altino Filho

 

A avalanche de questões urgentes que desce a montanha da história impede, muitas vezes, que a maioria pare e reflita sobre mais um assunto importante e também incrivelmente contemporâneo: o real papel da Igreja e, principalmente, o grau de protagonismo do Papa Francisco.

“Não há fogo no inferno. Adão e Eva não são reais”, disse o Pontifície recentemente.

Iconoclasta, o Papa tem quebrado vários paradigmas, e discussões milenares sobre aborto, casamento gay, permissão para o sacerdócio feminino e até mesmo o reconhecimento de outras seitas e religiões como o candomblé e a umbanda entram hoje na pauta de Francisco.

Realizei uma breve pesquisa no facebook para colher impressões de amigos, colegas – e também de desconhecidos – sobre o que achavam da gestão do atual chefe da Igreja Católica e o resultado é de causar inveja em qualquer Mick Jagger. O Papa Francisco se mostrou queridíssimo, próximo dos fiéis, um tipo simpático e, de certa forma, franco, mesmo que alguns apontem a onda reacionária vivida hoje no mundo – o que faz do Papa uma grata surpresa. Vamos a alguns comentários do face:

… “quando, entre os líderes mundiais, o mais progressista é o Papa, é porque estamos de fato vivendo uma onda reacionária”. Outro: “é o que tem de mais moderno na política mundial hoje” ou ainda: “O Papa Francisco é o sinal de que, apesar das aparências, estamos ingressando numa era regenerativa da Humanidade. A exemplo de Jesus e Francisco de Assis, ele tem profunda compaixão pelos oprimidos”.

Descobri também que alguns amigos continuam em plena forma, e não engolem essa simpatia papal assim tão facilmente. Olha só o que eles dizem: “ Acho patético a Humanidade crer em um homem que representa Deus na Terra. Ainda mais vindo dessa instituição luxuriosa chamada Igreja Católica”. Mais uma: “ Acho que ele vai admitir que Jesus é uma lenda útil e assim acabará com a Igreja Católica. O Vaticano vai ser vendido para o Google e toda noite haverá raves de católicos perdidos naquela Praça de São Pedro”. Ou, uma mais lacônica e direta: “Na seca: Papa da Igreja Católica”

Minha formação também não foi lá muito benta, apesar de ter passado longos anos estudando em colégio de padre. Lá o aprendizado era outro mas, aqui fora, tudo o que me dizem sobre a história da Igreja Católica não tem nada de divino. As inquisições e suas fogueiras, as traições, o fausto vivido por cardeais em detrimento da miséria de muitos, as manipulações maniqueístas para encarcerar o rebanho, a resistência a uma nova doutrina, as mentiras, o marketing católico, a reclusão covarde nos períodos de guerra, a pedofilia, os excessos do banco do Vaticano, e o engavetamento de tantas demandas apresentadas por aqueles que acreditam em Deus, na existência de Jesus e na representação Dele pela ‘Casa’ fundada por Pedro.

Santo Agostinho era um hábil articulador e formador de opinião. Ele dizia que é “preciso crer para compreender, e compreender para crer”. Propaganda? “É dando que se recebe”, dizia o homem que doou seu nome ao argentino. Hipocrisia? Para não ficar balançando pra lá e pra cá como um turíbulo louco procurei logo ligar para o católico Patrus Ananias, que além de ser um homem atento aos movimentos de Francisco, foi também prefeito de Belo Horizonte e ministro de Estado.

“Considero que o testemunho admirável do Papa Francisco se dá no nível de suas ações e de suas reflexões. No plano das ações práticas considero que uma das realizações mais importantes são os encontros com os movimentos sociais. Já foram realizados pelo menos três, com a participação de lideranças e militantes brasileiras e brasileiros representantes de entidades e movimentos sociais do nosso país como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O discurso do Papa no último encontro (leia anexo) é um dos documentos mais anunciadores e proféticos que já li, defendendo a importância da organização dos pobres e apresentando os males do capitalismo dissociado dos valores que protegem e promovem a vida, a justiça social e o bem comum”, se animou Patrus.

Aliás, a urgência de uma construção de um novo modelo econômico, menos excludente e mais solidário, é algo que o Papa Francisco gosta de reiterar e que Patrus lembrou em seu testemunho. “No plano das reflexões mais teóricas, mas sempre comprometidas com a realidade da vida das pessoas, das famílias, das comunidades, das nações, da humanidade, encontramos dois textos esplêndidos que carecem ser lidos e meditados. A alegria do Evangelho e a Laudato Si – sobre os cuidados com a casa comum (meio ambiente). Na primeira publicação, Francisco faz uma duríssima advertência às forças econômicas que movem o chamado mercado que põe o dinheiro como o valor fundamental em detrimento da vida em suas múltiplas e misteriosas manifestações e da dignidade de toas as pessoas humanas”, revela Patrus Ananias.

E continua: “ O Papa questiona igualmente os limites do individualismo apontando na perspectiva integrada, holística, transversal. Já a Laudato Si, na opinião de renomados pensadores, ambientalistas e teólogos é um dos mais luminosos textos de toda a tradição cristã”, nos informa o ex-prefeito de Belo Horizonte.

Me lancei nesta aventura de lembrar do Papa Francisco por também gostar dele. Mais do que defender ou execrar uma instituição tão antiga e polêmica quanto a Igreja (até porque não faria nenhuma diferença para padres e freiras do mundo todo) a intenção aqui é o exercício do olhar sobre o novo. Esse Papa chamado Francisco é realmente um homem necessário nos dias de hoje, e sua perspectiva moderna diante dos assuntos mais variados, funciona como um bálsamo para os homens. Eu um planeta comandado por demônios de diferentes infernos, há sim um Francisco dizendo que podemos – e devemos – mudar. Só falta agora ele convencer Deus e o mundo.