Um projeto de Brasil nas artes

Sem grana, mas cheia de ideias, OI Futuro continua na vanguarda


Por Rafael Mendonça

“O negócio da Oi Futuro não é ser um centro cultural. Somos um projeto de Brasil”, diz Alberto Saraiva, curador de Artes Visuais do Oi Futuro. Uma frase ousada, mas que ao longo de quase uma hora de conversa acabou se mostrando bastante verdadeira. Saraiva recebeu O Beltrano na última segunda-feira (26/06) na Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, na abertura da exposição do ícone Nam June Paik.

Apesar do otimismo do curador, não há como tampar o sol com a peneira. Está claro que a instituição foi duramente afetada pela crise que acomete a nave mãe, a empresa de telefonia OI. Equipamentos importantes foram fechados, inclusive em Belo Horizonte, como o OI Kabum!, e investimentos, cortados ou reduzidos. Mas é com empenho e criatividade que funcionários e direção da OI Futuro estão tentando transformar o que poderia ser o fim em caminho.

“Somos um centro de arte que mira o desenvolvimento de novas ideias e tecnologias na arte. Estamos buscando ser um centro de arte que trabalha com tecnologias interdisciplinares”, afirma Saraiva.

Alberto Saraiva
Foto de Cristina Lacerda

E essa busca pode ser sentida nas ações. A concepção dos editais para escolha de artistas e projetos foi completamente reformulada. O que antes se assemelhava a um formulário de imposto de renda, virou uma conversa, diálogo entre a instituição e os proponentes. E isso fez um enorme diferença. Qualquer um que já tenha participado de algum tipo de seleção via edital sabe que é impossível explicar certas coisas por meio de documentos formais e padronizados.

Neste ano, a OI Futuro escolheu 34 projetos a serem apoiados no país, entre os quais se destacam o Festival de Arte Digital (FAD), ainda sem cidade definida; o Festival Internacional de Quadrinhos de BH (FIQ); a plataforma digital Cidades dos Festivais, que reunirá os sete maiores festivais do Rio (Festival do Rio, Panorama, Festlip, Fil, Tempo Festival, Multiplicidade e Festival Curta Cinema); o Encontro Estéticas das Periferias – Arte e Cultura nas Bordas da Metrópole, que vai levar performances, debates, oficinas e intervenções artísticas a 50 locais públicos da capital paulista; o MASSA – Festival Movimento e Arte Salvador, que vai ocupar o Parque Solar Boa Vista durante um mês com atividades artísticas gratuitas; o Favela Sounds 2017 – Festival Internacional de Cultura de Periferia, sediado no Museu Nacional de Brasília, no DF, entre tantos outros.

Alberto Saraiva e Van Van Seiler
Foto de Cristina Lacerda

“Gostamos da ideia de pensar aberto e em aberto com os artistas”, diz Saraiva. E essa liberdade vai virando um conceito da instituição. Uma forma de interagir e expandir caminhos. E de ultrapassar a plataforma tradicional de exposições e mostras para trabalhar o desenvolvimento de ideias em conjunto com os agraciados. “No Dança.Mov, o último lugar onde a obra foi parar foi na galeria. Esse é o espírito”, diz.

Como, por exemplo, a obra “Melancias”, de Cao Guimarães, painel de 120 metros quadrados que cobre a fachada do prédio e faz parte da série fotográfica “Paquerinhas”. “Estamos em busca de valorizar o espaço público, interagir com a região. Se a pessoa que passa por aqui a vê é porque ela esta em integração com a comunidade. Muda o visual da cidade”, diz Alberto.

“Nossa maior vontade é que o diálogo entre nós e o projeto, e entre os projetos, mude de patamar e chegue ao ponto de sonhar com as possibilidades de fusão”.

(O repórter viajou a convite da Oi Futuro)