Voa passarinho
José Frota, poeta e contista mineiro, faleceu no último sábado, dia 13, em Belo Horizonte.
Por José Antônio Bicalho
Velar um poeta é tarefa das mais ingratas, ainda mais quando o poeta é um amigo querido. Mas o velório de Seu Frota, que se deu no último domingo, acabou por se transformar em celebração da vida e da arte, em uma espécie de sarau, como bem desejaria que o fosse o poeta falecido.
José Frota, poeta e contista mineiro, faleceu no último sábado, dia 13, em Belo Horizonte. Sobre ele, O Beltrano já havia publicado uma série de poemas de um novo livro em preparação, que seria um compilado de contos e poemas já publicados e mais inéditos. E é um grande pesar que não tenha tido tempo para concluir tal trabalho.
Seu Frota, para nós, ou Zezinho, para quem o conhecia desde menino, era um apaixonado pela literatura e pela vida. E era, principalmente, um humanista. Foi militante de esquerda desde sempre, mas daqueles poucos que conseguiam unir princípios e suavidade.
Escreveu por toda a vida, mas, rigoroso, publicou pouco. O que pôs a luz, porém, é de enorme qualidade.
Engenheiro Civil e Mestre em Ciências Mecânicas, lecionou por treze anos no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde chegou a ocupar o cargo de vice-reitor. Paradoxalmente, sempre militou à esquerda, mesmo durante a ditadura e dentro da escola da Aeronáutica.
Retornou a Belo Horizonte em 1975, onde lecionou na Escola de Engenharia da PUC por 17 anos. No início dos anos 80, publicou seu primeiro livro, “Em Vermelho”, reunião de contos, com o apoio de seu amigo, o professor Edgar Godoi da Mata Machado.
Integrou uma série de movimentos em defesa da retomada da democracia e a favor dos direitos humanos. Foi vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros em Belo Horizonte (1978-1982), presidente do Instituto Edgar da Mata Machado de Análise Política Econômica e Social (1983/1984) e participou de cursos noturnos para formação de Mestres de Obra em São José dos Campos.
Os contos e poesias de José Frota são espelho da formação erudita do autor, mesclada com uma mineirês do Sul de Minas, por vezes herméticos e cheios de referências, mas muito generosos a quem se dispõe a perscrutar e persistir. Além de ‘Em Vermelho’, ele escreveu ‘Assim Cantaram com Amor e Raiva’ e ‘Pequeno Tratado da Arte de Abrir Janelas’.
À esposa, Lúcia, companheira de vida e de militância, e aos filhos Guiomar, Haydée, Sérgio e Gastão, O Beltrano presta os mais sinceros sentimentos.
Silêncio
Um velho deve preparar
A caminhada derradeira
Como um mergulho na Natureza
Ouvindo em toda a extensão
A profundidade do seu silêncio
E de sua total indiferença
José Frota