We just need much more education
Uma noite memorável onde clássicos de Roger Waters desfilaram ao lado de atos políticos e levaram milhares ao delírio, mesmo que uma parte tenha ficado meio cabreira.
Por Rafael Mendonça
Publicado em 22/10/2018
A verdade é que nunca fui lá muito fã de Pink Floyd, escutei na minha adolescência, passou meio rápido. Eu sempre fui um pouco mais do punk. Da revolta. Aí que aproveitando de um convite da T4F e da Benedita Comunicação a O BELTRANO fui na noite deste domingo ver a apresentação de Roger Waters no Mineirão.
Uma casa que frequento desde os sete anos e em mais de 20 anos frequentando shows grandes nunca tinha estado tão perto de um palco como ontem. Obrigado Benedita. Pois o fato de estar onde estava fez toda a diferença. Fez todo o impacto ser mais intenso. Vamos dissecar esse porco.
É um espetáculo 100% pensado para te provocar, se não bastasse os trocentos mil clássicos que Roger carrega consigo, ainda é uma explosão de sentimentos que te provoca a reflexão em todos os seus momentos. Desde a longa abertura com um vídeo bucólico e reflexivo fazendo uma analogia a refugiados até a hora que esse vídeo volta no final. Apesar de ter horas que ficava parecendo uma coisa de esquerda Leblon, aquela que faz ativismo de sofá e revolta de boutique a carreira de Waters desmente esse sentimento.
O mote do Resist é usado o tempo todo causando furor em muitos momentos. Como na hora que crianças entram no palco em Another Brick in the Wall Pt 2. Um dos momentos mais emocionantes quanto tiram seus capuzes e arrancam seus uniformes de presidiário e por baixo vestem camisetas com a palavra resista em inglês.
Como se fosse um trator, Roger Waters carrega suas palavras e clássicos para passar sua mensagem de um mundo mais igual, justo e generoso. E sabe como poucos como fazê-lo.
Este foi o quinto show de sua turnê brasileira, ainda faltam Rio, Curitiba e Porto Alegre, e pelo ocorrido nos outros fui cheio de expectativas. Vivemos um momento em que o nazifascismo de Bolsonaro toma corpo e espaço como o porco de Roger. Que foi destroçado pelos espectadores. Que analogia maravilhosa para este momento. Uma amiga que fomos juntos mas ficou na pista de trás ostentava ao final do show seu pedaço de torresmo de plástico fascista. Abraço Patrícia.
Foi um embate a parte a disputa entre bolsonaristas e democratas. Que fique registrado que pelo menos de onde eu estava não vi nenhuma confusão. A coisa ficou mais na verborragia de parte a parte. E pelo menos no Mineirão o #BolsonaroNão levou a melhor.
A qualidade sonora é IMPRESSIONANTE. Fui junto com a amiga Walesca Falci, jornalista acostumadíssima a grandes shows e ela também ficou impressionada. O som sorround, quadrifônico ou sei lá o quanto fônico dava uma sensação de onde eu estava de estar dentro de uma sala de cinema, mas só que de música. Só que de música e com uma energia eletrizante. Foi lindo ouvir canções extremamente bem executadas pelo competente banda com uma pureza de cristal.
Os vídeos também merecem uma menção honrosa, afundados em uma estética meio 70, mas usando de toda a tecnologia em um gigantesco telão de 70 por 14 metros. Todos com mensagens políticas, escrachadas ou subliminares.
Durante o intervalo este telão mostrava as tão comentadas mensagens políticas. Aqui não teve #EleNão, e o nome de Bolsonaro veio coberto por uma tarja escrito “ponto de vista censurado”. Levando a plateia ao delírio.
Agora voltamos a coisa do estar bem na frente. Senti dessa vez o peso da multidão. Ouvia a massa sonora entoando canções e gritos como se estivessem dentro de mim. Ao cantarem os clássicos a música parecia que passava por dentro de você vindo do palco e explodia nas suas costas vindo do público.
Um sentimento que carregarei por um bom tempo. Eu ali na intermediária do ataque do Galo no segundo tempo quase na linha onde ficava na arquibancada quando menino, quandro entrava pelo saudoso portão 7A repetia o gesto de Reinaldo e chorava pensando nos dias que nos aguardam.