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De nada adiantar\u00e1 a grita. Sinto inform\u00e1-lo, meus caro, mas a Cemig perder\u00e1, sim, suas tr\u00eas maiores usinas ainda neste ano. As concess\u00f5es de Jaguara, S\u00e3o Sim\u00e3o e Miranda ser\u00e3o retomadas e leiloadas pelo governo Temer. A previs\u00e3o \u00e9 que a venda aconte\u00e7a em 22 deste m\u00eas de setembro. E acontecer\u00e1, a despeito da press\u00e3o de pol\u00edticos e empres\u00e1rios mineiros ou da guerra de liminares. Os leil\u00f5es poder\u00e3o at\u00e9 ser adiados, mas s\u00e3o inevit\u00e1veis.<\/p>\n
E quem comprar\u00e1 as usinas da Cemig? Num leil\u00e3o tudo pode acontecer, mas eu apostaria minhas fichas nos chineses da State Grid Brazil Holding, a empresa que hoje demonstra mais apetite por crescimento no setor energ\u00e9tico nacional. E n\u00e3o apostaria um tost\u00e3o furado na pr\u00f3pria Cemig, a terceira maior empresa do setor no pa\u00eds em receita l\u00edquida (R$ 18,8 bilh\u00f5es em 2016), muito maior ao da pr\u00f3pria State Grid, mas enormemente endividada e sem capacidade para investir.<\/p>\n
O certo, cora\u00e7\u00e3o, \u00e9 que as maiores usinas da Cemig, as j\u00f3ias da coroa, ser\u00e3o inevitavelmente transferidas da estatal mineira para a iniciativa privada, muito provavelmente para uma multinacional de olhos puxados. Mais um passo no programa de desmonte da coisa p\u00fablica empreendido por Temer. Mais uma jogada para tapar o rombo gigantesco das contas do governo e livrar o presidente da incorr\u00eancia em crime de responsabilidade por descumprimento da meta fiscal. Mais uma queima de patrim\u00f4nio p\u00fablico para contrabalan\u00e7ar os efeitos de uma pol\u00edtica econ\u00f4mica insana e devastadora. Mais uma imoralidade arquitetada pela dupla Temer\/Meirelles.<\/p>\n
Ao final de julho, o governo de Minas, a Cemig, a Fiemg, a Assembleia Legislativa e um grupo de prefeitos e entidades empresariais mineiras divulgaram carta p\u00fablica em defesa da manuten\u00e7\u00e3o das usinas pela estatal. Fizeram um apelo ao governo Federal para que este reabra as negocia\u00e7\u00f5es para manuten\u00e7\u00e3o das concess\u00f5es. In\u00fatil. Temer n\u00e3o \u00e9 um cara legal, nem sens\u00edvel a apelos.<\/p>\n
O fato \u00e9 que o dinheiro a ser amealhado com a venda das usinas \u00e9 considerado da maior import\u00e2ncia para que o governo federal consiga fechar suas contas ao final do ano sem estourar a meta fiscal, que j\u00e1 foi ampliada para o absurdo d\u00e9ficit de R$ 159 bilh\u00f5es (ainda dependente de aprova\u00e7\u00e3o pelo Congresso). A previs\u00e3o oficial \u00e9 que a venda das concess\u00f5es das tr\u00eas usinas renda cerca de R$ 11 bilh\u00f5es, mas h\u00e1 quem diga que o valor est\u00e1 enormemente subavaliado.<\/p>\n
Vamos a uma continha simples para entendermos a import\u00e2ncia desse dinheiro para o governo golpista. Em 12 meses at\u00e9 julho, o d\u00e9ficit prim\u00e1rio (diferen\u00e7a entre receitas e depesas correntes, n\u00e3o contabilizado o pagamento de juros e obriga\u00e7\u00f5es financeiras) do governo central alcan\u00e7ou R$ 183,7 bilh\u00f5es, o correspondente a 2,8% do PIB. Ou seja, o d\u00e9ficit, hoje, j\u00e1 ultrapassa em R$ 24 bilh\u00f5es a meta prevista para 2017. O governo ter\u00e1 que tirar a diferen\u00e7a nos pr\u00f3ximos meses, reduzindo paulatinamente esse d\u00e9ficit. Mas n\u00e3o \u00e9 o que est\u00e1 acontecendo, n\u00e3o \u00e9 essa a tend\u00eancia apontada at\u00e9 o momento. No acumulado at\u00e9 julho de 2017, o d\u00e9ficit prim\u00e1rio foi de R$ 76,3 bi, frente a d\u00e9ficit de R$ 55,7 bilh\u00f5es em 2016 (valores nominais). Ou seja, o ritmo \u00e9 de crescimento.<\/p>\n
Isso acontece porque as receitas com arrecada\u00e7\u00e3o de impostos continuam caindo vertiginosamente. Em julho, a Receita Administrada foi de R$ 108,5 bilh\u00f5es, o que representou queda de R$ 6 bilh\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o ao programado. A queda se deu em fun\u00e7\u00e3o da frustra\u00e7\u00e3o de R$ 1,4 bi no RERCT (o programa imoral de repatria\u00e7\u00e3o de dinheiro sujo depositado no exterior, que salvou o governo no ano passado), mas principalmente da queda de R$ 4,7 bilh\u00f5es do Imposto de Renda da Pessoa Jur\u00eddica e da Contribui\u00e7\u00e3o Social sobre Lucro L\u00edquido. A arrecada\u00e7\u00e3o encolhe por conta da desacelera\u00e7\u00e3o da atividade econ\u00f4mica e do encolhimento das empresas. Ou seja, da recess\u00e3o que o pr\u00f3prio governo Temer criou.<\/p>\n
Tal queda na arrecada\u00e7\u00e3o n\u00e3o compensou o esfor\u00e7o do ajuste fiscal. No mesmo m\u00eas, a despesa total executada foi inferior ao programado em R$ 3 bilh\u00f5es, sendo a maior parte, de R$ 2,2 bilh\u00f5es, decorrentes dos cortes profundos feitos no Programa de Acelera\u00e7\u00e3o do Crescimento. S\u00e3o n\u00fameros mostram que est\u00e1 tudo errado na pol\u00edtica econ\u00f4mica. Que quanto mais se corta em investimentos, mais o d\u00e9ficit aumenta e se cria o c\u00edrculo vicioso no qual estamos. Mas isso \u00e9 papo para uma pr\u00f3xima coluna…<\/p>\n
Por hora, j\u00e1 que estamos tratando da Cemig, o importante \u00e9 saber que as receitas extraordin\u00e1rias previstas pelo governo para este ano, ou seja, aquelas n\u00e3o recorrentes e que n\u00e3o s\u00e3o fruto do pagamento de impostos, montam a estratosf\u00e9ricos R$ 59,8 bilh\u00f5es, um crescimento de R$ 12,8 bilh\u00f5es sobre as do ano passado, que j\u00e1 estavam turbinadas pelo programa de repatria\u00e7\u00e3o (de dinheiro sujo). Neste ano, a maior parte, ou R$ 25,7 bilh\u00f5es, vir\u00e1 das concess\u00f5es. E, muito provavelmente, a venda das usinas da Cemig representar\u00e1 mais da metade desse montante.<\/p>\n
Ent\u00e3o, considerando que as concess\u00f5es est\u00e3o de fato vencidas (n\u00e3o acreditem nos argumentos contr\u00e1rios a isso), que o governo federal precisa desesperadamente do dinheiro das concess\u00f5es e que Minas Gerais \u00e9 governado pelo PT, voc\u00eas acham que existe possibilidade de um acordo entre o governador Fernando Pimentel e o golpista do Temer? Eu n\u00e3o tenho nenhuma ilus\u00e3o. Adeus Jaguara, adeus S\u00e3o Sim\u00e3o, adeus Miranda.<\/p>\n
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