{"id":66820,"date":"2018-01-27T14:02:46","date_gmt":"2018-01-27T14:02:46","guid":{"rendered":"http:\/\/www.obeltrano.com.br\/?post_type=portfolio&p=66820"},"modified":"2018-02-09T11:16:02","modified_gmt":"2018-02-09T11:16:02","slug":"pelicula-que-elas-habitam","status":"publish","type":"portfolio","link":"https:\/\/www.obeltrano.com.br\/portfolio\/pelicula-que-elas-habitam\/","title":{"rendered":"A pel\u00edcula que elas habitam"},"content":{"rendered":"

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A pel\u00edcula que elas habitam<\/h1>\n

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Nesta edi\u00e7\u00e3o da Mostra de Cinema, as mulheres mostraram que est\u00e3o determinadas em n\u00e3o mais se contentar com pap\u00e9is secund\u00e1rios no cinema nacional<\/p>\n

[\/vc_custom_heading][vc_column_text]<\/p>\n

Por Daniela Mendes<\/span><\/em><\/p>\n

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J\u00e9ssica Queiroz (de branco), Barbara Maria (de preto) e Ana Julia (de vermelho) – Foto Leo Lara -Universo Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

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A 21\u00aa Mostra de Cinema de Tiradentes teve como resposta ao seu chamado ao realismo, tema deste ano, uma provoca\u00e7\u00e3o muito pr\u00f3pria por parte das profissionais do setor que passaram pela pequena cidade mineira: o cinema \u00e9 feito de homens cis, brancos e heterossexuais. Assim, sem negar a realidade que vivenciam, elas vieram com tudo para transformar o lugar est\u00e9ril dos estere\u00f3tipos de g\u00eanero, que n\u00e3o mais fazem sentido no cotidiano de suas produ\u00e7\u00f5es.<\/span><\/p>\n

N\u00e3o por coincid\u00eancia, na quinta-feira, 25, a Ancine apresentava no Rio de Janeiro, capital, os dados que confirmaram as discuss\u00f5es das telas e mesas da Mostra. De fato, segundo a pesquisa, homens brancos assinaram a dire\u00e7\u00e3o de 75,4% dos 142 filmes nacionais lan\u00e7ados em 2016. Enquanto as mulheres dirigiram apenas 19,7% dos t\u00edtulos.<\/span><\/p>\n

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Mariah Benaglia (Produtora)- Foto Beto StainoUniverso Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

Os dados ainda s\u00e3o mais desiguais quando um olhar sobre identidades sociais, ra\u00e7a e sistemas relacionados de opress\u00e3o, domina\u00e7\u00e3o ou discrimina\u00e7\u00e3o \u00e9 lan\u00e7ado. S\u00f3 2,1% de homens negros dirigiram filmes brasileiros. Enquanto nenhuma produ\u00e7\u00e3o teve em sua dire\u00e7\u00e3o ou roteiro uma mulher negra.<\/span><\/p>\n

Por\u00e9m, os lan\u00e7amentos de novas diretoras apresentados durante a 21\u00aa Mostra de Cinema de Tiradentes demonstra muita disposi\u00e7\u00e3o e talento para mudar a cena nacional. Foi o que ficou claro na fala da estreante Amanda Be\u00e7a (O olho e o Esp\u00edrito, 10 min.). Durante o evento, ela lembrou o epis\u00f3dio ocorrido em agosto de 2015 na sua cidade de origem, Recife, com a diretora Anna Muylaert (Que horas ela volta?). Naquele ano, os cineastas Lirio Ferreira e Claudio Assis boicotaram a fala de Muylaert \u00a0num debate. E como se quisessem ainda deixar bem claro que se tratava de preconceito, ainda chamaram a atriz Regina Cas\u00e9 de \u201cgorda\u201d.<\/span><\/p>\n

Amanda conta que o epis\u00f3dio lament\u00e1vel, al\u00e9m do esc\u00e2ndalo nas redes, incentivou as profissionais do setor no Recife e a ela pr\u00f3pria a se organizarem e produzirem. \u201cEu lembro que eu queria fazer minhas coisas, mas n\u00e3o sentia tanta legitimidade. Me sentia insegura e achava que era uma caracter\u00edstica da minha personalidade. Mas, com a participa\u00e7\u00e3o em grupos de rede social e coletivo Mulheres do \u00c1udio Visual do Recife, eu vi que tinha toda uma superestrutura por tr\u00e1s da minha confian\u00e7a. Ai eu disse\u2026 ah n\u00e3o! Vou por minhas ideias pra frente!\u201d, relatou a jovem cineasta que j\u00e1 est\u00e1 no seu segundo festival.<\/span><\/p>\n

\u201cCinema \u00e9 para onde a gente pode ir\u201d<\/span><\/strong><\/p>\n

Outras profissionais que se destacaram durante a Mostra de Cinema de Tiradentes foram as mulheres da produtora Carolina Filmes. J\u00e9ssica Queiroz trouxe o seu premiado Peripat\u00e9tico. O roteiro de Ananda Radhika venceu no pr\u00eamio do j\u00fari do Festival de Bras\u00edlia. Trata-se de uma narrativa pop, com tons l\u00fadicos, para falar de um assunto denso. Percebe-se que n\u00e3o se economizou ali o multitalento da roteirista. Toda a ilustra\u00e7\u00e3o que dialoga nas imagens tamb\u00e9m \u00e9 dela.<\/span><\/p>\n

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DEBATE MULHERES NEGRAS – FotoJackson Romanelli – Universo Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

Inspirado na luta do movimento M\u00e3es de Maio, Peripat\u00e9tico traz os sonhos e a realidade dos jovens perif\u00e9ricos na \u00e9poca \u00a0do maior massacre da hist\u00f3ria de S\u00e3o Paulo. Em 2006, durante oito dias, pelo menos 564 pessoas foram mortas no estado. A maioria em situa\u00e7\u00f5es que indicam a participa\u00e7\u00e3o de policiais numa a\u00e7\u00e3o de vingan\u00e7a dos agentes de seguran\u00e7a do Estado contra os ataques da fac\u00e7\u00e3o Primeiro Comando da Capital (PCC).<\/span><\/p>\n

Apesar do sucesso, nem de tanto glamour vive J\u00e9ssica Queiroz, que j\u00e1 havia realizado Vida de Carolina (2014), inspirado na escritora Carolina de Jesus. A cineasta contou suas dificuldades para se fazer filmes. Todas as profissionais envolvidas na produtora n\u00e3o sobrevivem de cinema e tem que conciliar suas carreiras no audiovisual com outras profiss\u00f5es. Tanto que ela se despediu da Mostra logo depois da apresenta\u00e7\u00e3o do seu filme porque tinha que trabalhar cedo no dia seguinte.<\/span><\/p>\n

No entanto, a vontade de trazer de forma mais representativa a realidade dos jovens de periferia sem estere\u00f3tipos fala mais alto. \u201cSempre gostei de cinema e nunca me vi na tela. \u00c9 sempre um personagem ‘coitado’, ou \u00e9 bandido\u2026 Ent\u00e3o, como \u00e9 que a gente pode falar diferente disso?\u201d, pergunta, e fica claro que a resposta \u00e9 o filme Peripat\u00e9tico. \u201cH\u00e1 uma forma de reverter a viol\u00eancia que o cinema sempre nos mostra e a objetifica\u00e7\u00e3o dos nossos corpos\u2026 \u00c9 meio que subverter as imag\u00e9ticas do cinema nacional\u201d, afirmou.<\/span><\/p>\n

Engajada, a montadora de Peripat\u00e9ticos, Ana Julia Travia, trouxe o filme Outras tamb\u00e9m. Durante a mesa redonda Encontro com os Filmes da Mostra Foco – S\u00e9rie 1, provocou os realizadores Yuri Lins e Leon Sampaio, um dia antes do julgamento do recurso do presidente Lula no Tribunal Regional Federal da Quarta Regi\u00e3o. Foi um contundente sacode no niilismo de Peito Vazio e tamb\u00e9m a todos os jovens cineastas quando se referiu ao filme que trata das desilus\u00f5es da juventude p\u00f3s-golpe.<\/span><\/p>\n

\u201cEu gosto muito dos filmes dos meninos, mas me espanta muito a forma com a qual a juventude fala de Golpe e impeachment da Dilma. E a melancolia de ser negro no Brasil? E a melancolia de ser mulher? A\u00ed quando uma presidente mulher \u00e9 impichada num processo mal elaborado pela esquerda, que foi todo esse tempo que voc\u00eas estiveram a\u00ed, voc\u00eas ficam melanc\u00f3licos? Bem vindos! Bem vindos \u00e0 melancolia do que \u00e9 ser fodido nesse pa\u00eds. Eu acho muito pobre estudante de cinema vir e dizer\u2026 ah, o Lula. O Lula? Morreu. Morreu gente! o Lula t\u00e1 morto e a gente precisa de outra coisa. Eu n\u00e3o posso vir aqui em Tiradentes e falar que Lula \u00e9 solu\u00e7\u00e3o. Eu tenho medo e horror disso. O golpe existe h\u00e1 muito tempo. Voc\u00ea t\u00e1 mal? Parab\u00e9ns. \u00c9 a socializa\u00e7\u00e3o do sofrimento. J\u00e1 que voc\u00eas n\u00e3o socializam a felicidade a gente vai socializar o sofrimento. \u00c9 muito ruim mesmo.\u201d, desabafou.<\/span><\/p>\n

Ana Julia tamb\u00e9m deixou muito claro seu mal estar por participar de um festival em que faltam muitos outros cineastas negros. \u201cMuito obrigada por me dar esse espa\u00e7o, mas voc\u00eas t\u00eam que abrir mais as portas\u201d. E lembrou o filme Kbela, de Yasmim Nascimento, para falar de tantos outros ignorados por festivais. \u201cAs pessoas negras n\u00e3o podem se ver. Porque uma curadoria que n\u00e3o entende mais da metade da popula\u00e7\u00e3o que escolhe o que n\u00e3o poderia ser visto. Ent\u00e3o eu tenho que falar disso aqui. Porque cinema \u00e9 constru\u00e7\u00e3o de imagin\u00e1rio. Cinema \u00e9 pra onde a gente pode ir\u201d, concluiu.<\/span><\/p>\n

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DEBATE MULHERES NEGRAS – FotoJackson Romanelli – Universo Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

O cinema das mulheres negras<\/span><\/strong><\/p>\n

A professora de cinema do Centro Universit\u00e1rio Una, Tatiana Carvalho Costa, que acompanhou a Mostra, disse que existe uma dificuldade geral, simb\u00f3lica e de exist\u00eancia que tem a ver com machismo e outras opress\u00f5es sofridas. Para ela s\u00e3o verdadeiros obst\u00e1culos das mulheres do audiovisual, al\u00e9m das sobreposi\u00e7\u00f5es que tem a ver com ra\u00e7a quando se faz o entrecruzamento. \u201cN\u00e3o \u00e9 hierarquizar as opress\u00f5es. \u00c9 s\u00f3 dizer que existe um ac\u00famulo de coisas quando se coloca ra\u00e7a e g\u00eanero juntos\u201d, explica.<\/span><\/p>\n

A professora tamb\u00e9m diz que o que se viu na Mostra de Cinema de Tiradentes \u00e9 um reflexo da reuni\u00e3o de vozes femininas. \u201cA gente se olha e fala: olha n\u00e3o estamos sozinhas\u201d. A for\u00e7a coletiva e o apoio m\u00fatuo s\u00e3o as novidades desse tempo, segundo Tatiana. E isso \u00e9 importante tanto para mulheres negras como para as brancas.<\/span><\/p>\n

\"\"Mesmo assim a produ\u00e7\u00e3o de longas por mulheres negras ainda \u00e9 extremamente baixa. S\u00f3 se tem not\u00edcia de um, de acordo com a professora. Ela citou o Caf\u00e9 com Canela, de Glenda Nic\u00e1cio, que ganhou pr\u00eamio de p\u00fablico no Festival de Bras\u00edlia e abriu a Mostra de Cinema de Tiradentes.<\/span><\/p>\n

Contudo, Tatiana est\u00e1 otimista quanto ao futuro. \u201cMe parece que est\u00e1 acontecendo uma movimenta\u00e7\u00e3o de pessoas que historicamente eram oprimidas e que come\u00e7aram a ver possibilidades. E isso tem a ver com pol\u00edticas p\u00fablicas na educa\u00e7\u00e3o\u201d, analisa, e afirma que \u201cNa universidade as pessoas negras come\u00e7am a discutir sua identidade, seu pertencimento e necessidade de agir a partir disso\u201d.<\/span><\/p>\n

Para exemplificar, ela cita o caso de B\u00e1rbara Maria. A estreante foi Premiada no Festival Primeiro Plano de Juiz de Fora e surpreendeu o p\u00fablico da Mostra de Cinema de Tiradentes com o seu Pele de Monstro, 20min, um Trabalho de Conclus\u00e3o de Curso (TCC). O document\u00e1rio roteirizado, dirigido e produzido por ela relaciona racismo com thrillers de terror.<\/span><\/p>\n

Num relato sobre sua vida acad\u00eamica durante o Encontro de Cinema, que tamb\u00e9m fazia parte da programa\u00e7\u00e3o da Mostra com o tema A Mulher Negra na Dire\u00e7\u00e3o, ela disse que fez o filme para ser ouvida. E em tom bem humorado afirmou que estava feliz por, pela primeira vez, n\u00e3o ser o Chris. Ao que a plateia riu por entender a alus\u00e3o \u00e0 s\u00e9rie de TV americana Todo Mundo Odeia o Chris, em que o ator negro Chris Rock, a partir de suas experi\u00eancias, conta as desventuras de um garoto negro numa escola de brancos.<\/span><\/p>\n

Ao encontro a esta vis\u00e3o, a gerente de cultura do Sesc, Eliane Parreiras, respons\u00e1vel pela programa\u00e7\u00e3o art\u00edstica da Mostra, o que inclui a mesa redonda no Cine Lounge A Mulher Negra na Dire\u00e7\u00e3o, do qual fez parte B\u00e1rbara Maria e Ana Julia Travia, disse que a programa\u00e7\u00e3o foi pensada com foco na diversidade para equilibrar as vozes e produ\u00e7\u00f5es a fim de gerar reflex\u00f5es na sociedade. \u201cMuito recentemente a gente passa a ter mais mulheres ocupando espa\u00e7os. E isso ajuda a gente a trabalhar o tema. De alguma maneira elas acabam pautando, mesmo que de forma dilu\u00edda dentro dos festivais\u201d, avalia e destaca que isso acaba por tamb\u00e9m influenciar na forma\u00e7\u00e3o do p\u00fablico, pois quebra os estere\u00f3tipos que as mulheres brancas e negras carregam.<\/span><\/p>\n

Um bom come\u00e7o<\/span><\/strong><\/p>\n

O que ficou claro durante a 21\u00aa Mostra de Cinema de Tiradentes \u00e9 que uma nova gera\u00e7\u00e3o de mulheres do cinema est\u00e1 surgindo. Num pequeno apanhado da participa\u00e7\u00e3o delas, quando contabiliza-se o n\u00famero de participantes na dire\u00e7\u00e3o, nove longa-metragens, 26 curta-metragens e mais tr\u00eas filmes da Mostrinha foram realizados por mulheres. Isso num total de 100 filmes apresentados. Sem contar produ\u00e7\u00e3o, roteiro e outras fun\u00e7\u00f5es.<\/span><\/p>\n

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Camila Vieira \u2013 curadora RJ- Foto Beto Staino –
Universo Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

A curadora de curtas da 21\u00aa Mostra de Cinema de Tiradentes, Camila Vieira, afirmou que como curadora sempre se preocupa em tentar perceber a participa\u00e7\u00e3o de mulheres diretoras nestas produ\u00e7\u00f5es. Ela participa do Coletivo Elviras, uma iniciativa feminina que busca fortalecer a cr\u00edtica de cinema. Durante muito tempo fez tamb\u00e9m a curadoria do Cineclube Delas, no Rio de Janeiro, voltado para a exibi\u00e7\u00e3o de produ\u00e7\u00f5es de mulheres. Aponta desta forma, com propriedade, um problema de circula\u00e7\u00e3o dessas obras que deve ser superado.<\/span><\/p>\n

Mas ela v\u00ea o que aconteceu este ano em Tiradentes como algo positivo. Na Mostra Foco, voltada para competi\u00e7\u00e3o, dos dez curtas, quatro s\u00e3o dirigidos por mulheres. Destes quatro, um com co-dire\u00e7\u00e3o masculina. \u201cIsso j\u00e1 \u00e9 muito singular, porque \u00e9 quase metade\u201d, disse animada pelo ineditismo. \u201cE dentre estas diretoras da Mostra Foco uma \u00e9 negra, mais raro ainda\u201d. Fora da mostra competitiva, se destacaram tamb\u00e9m mais duas negras. \u201c\u00c9 pouco? \u00c9 pouco se a gente pensar num conjunto inteiro. Mas acredito que nos pr\u00f3ximos anos, mais diretoras negras possam participar e a gente tamb\u00e9m possa dar aten\u00e7\u00e3o para elas e ver o que elas est\u00e3o produzindo. Assim como outras mulheres no geral\u201d.<\/span><\/p>\n

No conjunto geral, dos 72 curtas inscritos, 24 tiveram mulheres como diretoras e mais tr\u00eas com co-dire\u00e7\u00e3o. Ainda n\u00e3o \u00e9 suficiente e n\u00e3o \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o a priori da Mostra selecionar com crit\u00e9rio de g\u00eanero e ra\u00e7a. Mas h\u00e1 na curadoria um esfor\u00e7o de olhar com mais aten\u00e7\u00e3o para os tipos de filmes selecionados. Camila afirma que a diversidade deve ser considerada e pensa que poderia ser positivo um espa\u00e7o na inscri\u00e7\u00e3o que indicasse a ra\u00e7a. \u201cIsso \u00e9 uma forma de mapeamento. \u00c9 uma coisa at\u00e9 que o Juliano Gomes (cr\u00edtico de cinema) falou naquele debate l\u00e1, A Mulher Negra na Dire\u00e7\u00e3o. Tem que come\u00e7ar a falar isso, mas de uma forma ampla. N\u00e3o s\u00f3 em termos de Mostra de Cinema de Tiradentes. Outros festivais t\u00eam que come\u00e7ar tamb\u00e9m pensar estas estrat\u00e9gias\u201d.<\/span><\/p>\n

Camila Vieira aponta tamb\u00e9m outras mudan\u00e7as importantes, como a escolha de um j\u00fari diversificado. Este ano foram tr\u00eas mulheres no j\u00fari da cr\u00edtica e dois homens. Al\u00e9m disso tamb\u00e9m houve um aumento de convites de cr\u00edticas para os debates. \u201cHouve coment\u00e1rios nos corredores: tem mais mulheres, n\u00e9? Isso \u00e9 muito legal porque passa a ser percept\u00edvel\u201d, disse admirada e aponta para um come\u00e7o de mudan\u00e7a. Inclusive com a participa\u00e7\u00e3o de duas curadoras, como ela e Lila Foster. Sem falar na coordena\u00e7\u00e3o geral da Mostra realizada por Raquel e Fernanda Hallak D\u2019Angelo. \u201cPossibilitar que mulheres entrem tamb\u00e9m na curadoria \u00e9 algo muito raro de acontecer em Festivais. Eu acompanho muitos festivais. Eu trabalho h\u00e1 quinze anos neste meu exerc\u00edcio da cr\u00edtica, inclusive em jornal impresso. A cobertura da Mostra de Cinema de Tiradentes eu fa\u00e7o desde a 11\u00aa edi\u00e7\u00e3o. Ent\u00e3o \u00e9 percept\u00edvel como h\u00e1 dez anos era a \u201cmacharada\u201d que dominava. E agora as mulheres est\u00e3o integrando e sendo integradas. E isso \u00e9 muito bom\u201d, afirma satisfeita.<\/span><\/p>\n

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La\u00eds Ferreira – Foto Beto Staino – Universo Produ\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n

A cr\u00edtica de cinema La\u00eds Ferreira v\u00ea uma mudan\u00e7a em todas as \u00e1reas no sentido em que as pessoas procuram ter voz. A partir disso, h\u00e1 uma necessidade, segundo ela, de se rever a cinefilia a partir de uma perspectiva feminina. V\u00ea tamb\u00e9m uma for\u00e7a principalmente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 representa\u00e7\u00e3o e o chamado para o cinema negro. Mas enxerga tudo como um processo ainda. Ela espera o momento em que mulheres n\u00e3o precisem mais ter que ficar afirmando o g\u00eanero. \u201cEu acho que a gente est\u00e1 vindo nesse chamado, de representatividade, com um outro desafio que \u00e9 a exist\u00eancia de filmes e falas de mulheres que possam existir al\u00e9m das discuss\u00f5es de representa\u00e7\u00e3o e reconhecimento. J\u00e1 que esta \u00e9 uma quest\u00e3o que os homens n\u00e3o precisam falar\u201d.<\/span><\/p>\n

De fato, uma boa defini\u00e7\u00e3o de uma sociedade igualit\u00e1ria. Mas enquanto esse dia n\u00e3o chega, vai ter muitas profissionais do audiovisual fincando o significante mulher e mulher negra na realidade para que seu protagonismo n\u00e3o seja restringido s\u00f3 por causa do g\u00eanero ou ra\u00e7a.<\/span><\/p>\n

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Nesta edi\u00e7\u00e3o da Mostra de Cinema, as mulheres mostraram que est\u00e3o determinadas em n\u00e3o mais se contentar com pap\u00e9is secund\u00e1rios no cinema nacional.
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