Andar com fé

A música de São Paulo na voz do Metá Metá está evoluindo e jogando na nossa cara que ainda se faz música no país


/Por Rafael Mendonça

10/08/2019

foto: Marina Sapienza

Acompanhar 3 músicos por mais de 8 anos, Ser íntimo ao ponto de sacar mesmo o que eles tão almejando no seu som, como a coisa expandiu de um horizonte x para um x vezes 80. Os Metá hoje são capazes de de fazer o que bem entenderem. Podem transitar do samba a música clássica, do improviso ao tango, sei lá caraio é um trem muito sério.

Falo deles pois na noite de hoje vi o show dos 10 anos do Padê na Casa de Francisca, um disco fundamental pra história deles mas que ver hoje ao vivo foi tão radical que de certa forma deixou o disco velho. É incrível mesmo. A gente vê e ouve muita música contemporânea, não no estilo, no tempo. E vê sei lá, 70% dela sem acrescentar absolutamente nada a história da música, coisas que serão esquecidas em 5 minutos.

Fazer música é um desafio danado, eu não consigo, tive duas bandas e era tipo o Bez delas.Não rola de ser gênio ou no mínimo original sem ser foda. Aí assim fui pirar na coisa de escutar e virei um mala. De música quero que me faça crescer. O resto é redundância, desculpem.

E sacar que aquele povo que tocava no Ó do Borogodó e que cresceu, e ver a sua evolução e como a vida e as experiências transformaram em uns dos mais fodas do Brasil. Chega um momento no show que o Kiko consegue fazer uma escola de samba no violão com uns quatro ou cinco trastes a menos. A Juçara cantando boneca semiótica do Jards e ainda Juçara e Tiago mandando Dor elegante do Itamar é a pura elevação do espírito. E teve muito mais, teve os atabaques e a bateria doida, mil desculpas, agora não lembro o nome dos craques.

foto: Marina Sapienza

O Padê é um disco seminal tanto na carreira dos queridos como na tal da “nova música paulista”, pois assim, to aqui falando dos metá, mas a parada é MUITO mais complexa. Tem o Romulo, tem o Rodrigo,tem muita gente, tem a turma do som. Tipo o Cabral que é um monstro e tá aí no mundo fazendo seus sons.Thomas Harres que chegou do Rio. Ava, Negro Leo…o casal… Puxa é muita gente mandando um som original e foda. Deixei minha irmã Juliana Perdigão por último pois esse é um texto jornalístico e tem que manter uma certa compostura.Desculpa mesmo quem não citei. Juro que não é por mal, mas seria só isso, citar craques.

Isso tudo aqui nesta cidade de São Paulo, tem mais gente por aí a música brasileira vive um momento rico, só os preguiçosos não sacam isso. Música é trabalho. Em todos os sentidos. E nem to falando do Rap e do Funk

´Buscar o novo dá trabalho.

E no Brasil 2019, O bolsonarismo é uma máquina de moer princípios. Frase do Rafael Mafei no tuiter. E ver esse povo todo debulhando no som, CRIANDO e PENSANDO música.

Transformando a mesmice em coisa nova. Me lembrei do show do Elvis Costello que vimos em BH e meu amigo Rodrigo Moura pediu tanto Shipbuilding que o cara mandou ela na primeira do bis. Por que lembrei disso? Pelo simples fato que no próximo show vou encher o saco do Kiko pra ele cantar ciranda pra Janaina.

foto: Marina Sapienza

Voltando a evolução. Posso falar bem no caso dos Metá que acompanhei de perto. Ver artistas assim, que não se acomodam torna a vida importante. torna a coisa toda válida. Torna a busca pelo som que vai mudar sua vida, que vai te empurrar pra frente e te manter forte e vivo acessa. torna a vontade em energia.

Música original vira força pra viver a vida, te instiga a pensar, desenvolver, agir. Imagino que seja tipo escutar Dylan nos anos 60..Um trem radical que era tudo que as pessoas precisavam.

Sei que hoje foi um deslumbre, uma aula de criatividade e respeito ao ouvinte. Pois ao apresentar música de tão alta qualidade, quem sai mais forte sou eu.

Rodrigo Prado Mudesto

7 de agosto às 17:45

Ainda acho que o melhor lugar pra onde transferir o Lula é o Palácio do Planalto.