Bope agride prostitutas do bairro Santa Branca

Pelo menos dois episódios foram registrados nos últimos dias; em reunião na sexta-feira com Pastoral Social, direção do Batalhão se comprometeu a apurar os casos


por Petra Fantini

Publicado em 07/04/2018

Foto: Petra Fantini

Prostitutas do bairro Santa Branca, na região da Pampulha, denunciam, com o apoio da Pastoral Social Santa Branca, agressões aplicadas por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do bairro. Os relatos mencionam pelo menos dois episódios ocorridos nas noites de 25 de março e 2 de abril.

As mulheres cis e transsexuais que trabalham nas ruas da região relatam agressões físicas, verbais e sprays de pimenta jogado nos olhos. Contra as trans, as ações foram mais violentas, incluindo espancamentos com cassetetes. Uma delas relata que às 20h do dia 25, três viaturas do Bope a encurralaram, junto com outras colegas, em uma esquina, fechando três ruas e impossibilitando fuga. Os policiais a derrubaram no chão e bateram com cassetetes.

Outro caso relatado pela mesma mulher ocorreu na noite da última segunda-feira. “Quando eu falei ‘já estou saindo’, ele já me segurou pelo pescoço, jogou spray, me jogou no chão e me bateu. Depois falou para eu sair correndo”, conta. As fotos desta matéria mostram os machucados causados pela agressão. A entrevistada tinha ainda um roxo abaixo do olho, que não foi fotografado para preservar sua imagem.

Na manhã da última sexta-feira (06/04), dirigentes do Batalhão se reuniram com membros da Pastoral Social Santa Branca para tratar sobre as agressões. Segundo nota divulgada pela Pastoral, no encontro o comandante Olímpio disse que o Bope tem como princípio a legalidade e a não violência, e tem interesse em investigar qualquer excesso cometido por parte dos seus comandados. Ficou compromissado que agentes que tenham comprovadamente praticado violência serão expulsos do Batalhão, segundo o texto da Pastoral.

O comandante Olimpio também teria dito que os moradores do bairro têm reclamado de posturas das prostitutas nas ruas, e que acredita que um diálogo deva ser aberto para promover tolerância. Ele enfatizou que seu Batalhão é o único em Minas Gerais que possui instrução regular dos policiais sobre gênero e minorias.

Google Street View

Por fim, o Bope reafirmou sua conduta de não violência contra prostitutas. Uma nova reunião será agendada, desta vez com a presença das mulheres que denunciaram os abusos e de representantes da comunidade do bairro, para “melhor o diálogo e convivência de tolerância”, de acordo com a nota da Pastoral. Neste primeiro encontro estiveram presentes ainda o major Euler, o capitão Francis e o sargento Gilvar.

Histórico

A situação de violência no bairro, que há décadas abriga prostitutas, é recente. Antes de o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) ser incorporado pelo Bope, em setembro de 2016, as prostitutas trabalhavam com tranquilidade e eram inclusive protegidas pelos agentes. “Quando acontecia do cara querer assaltar, agredir, eles (Gate) vinham e ajudavam. Agora, eles (o Bope) são o contrário. A pessoa pode estar na porta sangrando que eles não abrem”, conta uma das trabalhadoras da região.

As entrevistadas contaram que um dos agentes do Batalhão, não se sabe seu nome nem cargo, mora em um prédio perto da esquina em que elas atuam. Segundo elas, ele costuma vigiar as mulheres da janela do seu apartamento e já disparou tiros para dispersar o grupo, além de atirar pedras e água.

Racine Antônio, da Pastoral Social, lembra que a Polícia Militar, antes, agia em função de tráfico de drogas ou ultraje público ao pudor, nos casos de prostitutas nuas. “Mas, de um tempo para cá, passamos a receber denúncias, uma atrás da outra, de que o pessoal do Bope está batendo, empurrando, xingando, jogando spray de pimenta”, diz.

De acordo com Racine, de 60 prostitutas ouvidas em datas e locais diferentes do Santa Branca, a maior parte afirma ter sido agredida pelo Bope. O Batalhão de Operações Especiais tem a missão de atuar somente em situações extremas, como sequestros e assaltos a bancos, e não deveria fazer rondas em bairros.

Além da reunião feita nesta sexta-feira, as violências foram denunciadas junto à Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público. O promotor de justiça Mario Konichi Higuchi Júnior assumiu o caso, mas, segundo a assessoria de imprensa do MP, ainda vai conversar com as prostitutas agredidas para dar início às investigações.

Questionada sobre quais providências seriam tomadas para regularizar a situação, a assessoria de imprensa da Polícia Militar não retornou ao contato de O Beltrano.