Professor é investigado pela PF por manter Liga dos Comunistas na UFOP

André Mayer é alvo de inquérito policial por supostamente desobedecer decisão judicial de 2013, que proibiu atividades do Centro de Difusão de Comunismo (CDC). Docente alega "perseguição" e diz que o grupo de pesquisa em questão é financiado pelo CNPq, sem qualquer relação com o antigo CDC


Publicado em 08/11/2017 – 11:04

por Lucas Simões 

 

A Polícia Federal (PF) abriu inquérito policial para investigar o professor André Mayer, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), acusado de crime de desobediência por manter o grupo de pesquisa acadêmica Liga dos Comunistas, no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), no campus de Mariana. O professor é acusado de desobedecer a decisão de um juiz maranhense, que determinou a extinção do Centro de Difusão de Comunismo (CDC) da UFOP ainda em 2013, quando o núcleo abrigava o grupo de pesquisa em questão.

A abertura do inquérito foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF) em maio deste ano, após receber uma denúncia anônima sobre a “continuidade das atividades” da Liga dos Comunistas. Na requisição para instaurar o inquérito, só acatada agora pela PF, a procuradora da república Miriam Moreira Lima, de Viçosa, questiona que “segundo a representação, o professor André (…) continua promovendo, integrando, divulgando e convocando pessoas para o projeto Liga dos Comunistas nas dependências e com recursos da Universidade Federal de Outro Preto”. O documento frisa, porém, que “não se sabe se suas ações comprovam o descumprimento da ordem judicial referida”.

O professor André Mayer explicou a O Beltrano que o grupo de pesquisa Liga dos Comunistas não desobedece a decisão judicial anterior porque não tem qualquer vínculo com o CDC, desde que o núcleo foi embargado pelo juiz José Carlos da Vale Madeira, da 5ª Vara Federal do Maranhão. 

“O grupo de pesquisa foi criado em 2009, existia antes do CDC e continuou a funcionar após a paralisação do CDC, em 2013, porque é um grupo de pesquisa independente, mantido com financiamento do CNPq. Obviamente isso não é uma ação jurídica e técnica. Tem conotação política de impedir um debate dissonante do senso comum. Principalmente porque falamos de um assunto polêmico, marxismo e comunismo, e fazemos a defesa da classe trabalhadora”, disse André.

A Liga dos Comunistas acontece semestralmente, com cinco encontros por edição. Neste ano, apesar do grupo de pesquisa não ter acontecido no segundo semestre — apenas no primeiro — os alunos e professores realizaram a tradicional Calourada Vermelha da UFOP com discussões sobre os 100 anos da Revolução Russa,em 25 de outubro, e que pautou debates nas universidades do mundo inteiro. 

“Os alunos se inscrevem por vontade própria. É um grupo de pesquisa não-obrigatório e bastante conhecido na universidade. Não há motivo para toda essa ação montada na justiça contra a liberdade e o conhecimento”, completou André.

O professor André Mayer, também diretor da Associação dos Docentes da Ufop (Adufop), vai prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em Belo Horizonte, no próximo dia 29 de novembro. Junto a ele, o ex-reitor Marcone Jamilson Sousa também foi intimado a depor por responder pela direção da universidade à época das denúncias. “Vou me reunir com os advogados hoje e com a reitoria, vamos tomar todas as providências jurídicas. Mas vou ter que prestar o depoimento e imagine quanto está sendo gasto para instaurar um inquérito policial que pretende investigar um grupo legítimo financiado pelo governo federal”, completou André.

A reportagem tentou contato com a atual reitora da Ufop, Cláudia Aparecida Marliére de Lima, e também com Marcone, mas não consegui localizá-los até o fechamento desta matéria. Por meio da assessoria de imprensa, o MPF informou que o pedido para abertura de inquérito policial é “praxe para averiguação de qualquer denúncia”. O delegado da PF, Igor Araújo Cedrola, responsável pelo inquérito, tem 90 dias para concluir as investigações.

Histórico

O Centro de Difusão do Comunismo (CDC) chegou a abrigar 20 estudantes com bolsas individuais de R$ 250. Com atividades gratuitas e abertas à comunidade, o CDC também manteve dois projetos principais, o Grupo de Debate e Militância Anticapitalista e a Liga dos Comunistas, além de dois cursos: “Mineração e Exploração dos Trabalhadores na Região da Ufop” e “Relações Sociais na Ordem do Capital – As Categorias Centrais da Teoria Social de Marx”. Com a extinção do CDC em 2013, a Liga dos Comunistas continuou como projeto próprio financiado pelo CNPq.