Caravana cresce nas cidades pobres

Público presente nos atos da Caravana de Lula em Minas aumentou no Vale do Jequitinhonha


Por Kerison Lopes

Enviado especial de O Beltrano

Fotos: Ricardo Stuckert

É quase uma equação matemática: quanto menor o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das cidades visitadas pela Caravana de Lula em Minas, maior o apoio ao ex-presidente.

No terceiro dia, a roteiro previa saída de Teófilo Otoni e chegada Itaobim, sem escalas. Mas, ao longo do caminho várias aglomerações interromperam o comboio, obrigando a atos improvisados na estrada. Segundo os organizadores, isso aconteceu repetidas vezes também no Nordeste, na primeira caravana.

Até chegar a Itaobim, a caravana parou em três locais: em Catuji, cidade que, segundo o prefeito, tem o menor IDH da região; depois em Padre Paraíso, conhecida pelo alto índice de criminalidade; e por último em Ponto dos Volantes. Em todos os atos, discursaram prefeito ou representante da cidade e Lula.

Fotos: Ricardo Stuckert

Em Itaobim, o ato foi na praça principal e juntou algumas centenas de apoiadores. Em Itinga, a aglomeração foi bem maior. Lula nutre uma relação especial com a cidade, que é cortada pelo Rio Jequitinhonha. Em seu primeiro mandato, o ex-presidente colocou praticamente todos seus ministros recém-empossados e foi visitar Itinga, para, segundo ele, mostrar à sua equipe “o Brasil que precisa de ajuda”. À frente da então caravana presidencial, ele reiterou o compromisso com a construção da ponte sobre o Jequitinhonha, que foi inaugurada em 2004.

Ontem, novamente em Itinga, Lula deu continuidade ao novo formato de comício adotado na atual caravana. Ao invés dos tradicionais discursos, o ex-presidente assume o papel de entrevistador e arranca depoimentos de populares. Na cidade, entrevistou o balseiro Geraldo vieira de Souza, que por trinta anos conduziu a balsa de travessia do rio. Lula pediu a Geraldo relatos sobre acidentes com a balsa, e vieram histórias tristes de naufrágios e mortes, inclusive de crianças.

Fotos: Ricardo Stuckert

Em sua fala, o ex-presidente criticou duramente os meios de grandes veículos comunicação. “Estão, desde 2005, tentando destruir o PT. Só em 2 anos e meio já são mais de 60 capas de revistas contra mim. Aliás, eu nunca tive uma favorável. Eu tive mais de 25 horas de Jornal Nacional contra mim, além de todos os jornais das outras emissoras”. Citou também os jornais de São Paulo e do Rio, que, segundo ele, se dedicam a “mentir sobre minha vida”.

Em Araçuaí juntou-se o maior público da caravana mineira até o momento. Na praça principal da cidade, milhares de pessoas se aglomeravam desde cedo. O PT já governou a cidade e a ex-prefeita, Maria do Carmo Ferreira, a Cacá, foi tão aplaudida quanto Lula. Ele lembrou que interrompeu suas férias, em 1993, para participar da posse do primeiro mandato da petista na cidade.

Ao pegar o microfone, a ex-prefeita mostrou o motivo da sua popularidade. Fez um discurso poético, cantou, dançou, e em vários momentos foi interrompida pelas palmas da população. “Esta praça está cheia, porque aqui é o lugar do povo”. Ao defender Lula do que chamou de perseguição das elites, Cacá disse que “toda vez que a mentira quiser vencer, a praça se enche”, discursou antes de cantar uma cantiga do folclore popular e dançar com sua saia rodada.

Maria Ivani, uma das presentes, disse que queria ver o ex-presidente porque foi contemplada, há seis anos, com um imóvel do Minha Casa, Minha Vida. A doméstica se separou do marido e estava morando de aluguel até conseguir financiar sua casa pelo programa do governo federal. “Eles não querem deixar o Lula voltar porque sabem que ele é do nosso lado”, disse.

Fotos: Ricardo Stuckert

O ato em Araçuaí foi dedicado à cultura e contou com artistas populares da região, como Rubinho do Vale e Saldanha Rolim, que cantaram músicas populares regionais. O jornalista e escritor Fernando Morais falou em nome dos profissionais da cultura. Disse que estava ali como mineiro de Mariana, “terra que foi vitimada do crime da Vale e da Samarco”. Depois, fez uma homenagem ao seu colega Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar em 1975, e ao reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, que cometeu suicídio em outubro último, após ter prisão decretada em investigação da Polícia Federal. Morais aproveitou do caso do reitor para alertar dos riscos do que chamou de “ditadura togada, comandada pelo Ministério Público, de setores do poder judiciário, da Polícia Federal”. O escritor disse que as mesmas forças que “assassinaram o reitor, estão há três anos no encalço do presidente Lula”.

Lula começou seu discurso explicando o motivo de estar usando uma camisa rosa. “Se vocês quiserem ser machos, usem uma camisa desta cor, para, no orgulho cor de rosa, ajudar a prevenir contra o câncer de mama neste país”.

Ele criticou a vitória de Temer na Câmara federal. “Acabei de saber que o Temer ganhou na Câmara dos Deputados o direito de continuar na Presidência da República. E ele tem 97% do povo brasileiro que não quer que ele continue presidindo”. Acusou-o de só conseguir “se safar, porque gastou mais de 20 bilhões corrompendo deputados, enquanto para a gente fazer a transposição do Rio São Francisco gastamos apenas 9 bilhões”.